ARMAS E ROSAS

Aquele fino e pontiagudo metal reflete a fraca luz do ambiente , penetrando a alva pele. O líquido vai, aos poucos, tomando seu espaço. Uma expressão de prazer nasce em seu rosto abatido e cansado. As lágrimas perdem-se na imensidão que as separa daquele rio vermelho no piso do apartamento.

O beijo agora parecia tão real , e o sorriso fazia-o viajar no tempo. Sentia o corpo leve , imaginava-se forte , mas sabia estar mais fraco que nunca. As imagens o perturbavam. A névoa impedia sua visão, gargalhadas ecoavam em sua mente. Um urro ensurdecedor é o porta-voz de seu sofrimento.

Volta. Coração acelerado. O sangue ainda está lá. A pintura escarlate do que fora sua vida até então. Os espinhos feriam-no. Um estampido e será o fim : tudo acabará como começou : de repente. A roleta russa gira, e sua vida imita-a. Fora ferido pela rosa, com a ilusão do amor. Um odor suave traz-lhe lembranças de um passado quase feliz. Com a testa porejada de suor, tem os olhos fixos no cano da arma. A rosa vermelha, o vestido vermelho , o sangue. Lembranças de um crime.

Os trovões e a rosa. As pétalas caem, uma a uma. Da mesma forma , a dor aumenta. São partes de sua alma, de sua vida. A tempestade começa , as gotas d’água misturam-se ao sangue, lavam o corpo, mas não a alma. O reflexo mais uma vez: a lâmina rasga o ar, dilacerando a pele criando a ferida, presenteado a morte.

Solta a arma. Com o rosto entre as mãos , lamenta profundamente, porém, é tarde demais. E a chuva não pára. Apartamento escuro, a fumaça do cigarro flui , faz cirandas ,e desaparece. Seu amor acabou, a rosa morreu ,a beleza já não existe, e as armas continuam a chacina , que nunca terá fim.

Gustavo Marinho
Enviado por Gustavo Marinho em 29/01/2006
Código do texto: T105450
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