Pintura

Obstinada pela pintura, realizava-se jogando tintas na tela. Tons fortes e vibrantes. Os movimentos, firmes, às vezes impensados, preenchiam cada pedaço em branco daqueles espaços. Ao fim, em exaustão, a última retocada. Pronto surgia a obra. Sua passagem só de ida àquele lugar que ela tão bem conhecia.

Seus primeiros anos foram passados assim, de tela em tela. Florestas, paisagens, alguns rostos. Sinais de cidades e fumaça também. Quem sabe um incêndio, de que fora vítima, um desastre talvez. Em cada tela um vestígio, uma pista de alguém que aos poucos ia cansando de tentar comunicar algo que jamais conseguiria naquele mundo dominado por sons.

A tarde branca invadia a sala. Sentada, ela olhava para o nada. Muda, esforçava-se por sair daquele estado de ausência. Em vão. Seus pensamentos não obedeciam. Deixando-se levar pelo fluxo contínuo de pequenos devaneios, imaginava-se no céu.

Adriana Ezequiel
Enviado por Adriana Ezequiel em 10/06/2008
Reeditado em 13/08/2013
Código do texto: T1027967
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