Ausência ou a Desilusão

Ausência ou a Desilusão

João costumava levar pequenos presentes diários para Nicole. Todos os dias porque voltava tarde do trabalho, a compensava com qualquer coisinha. Até aquele dia maravilhoso na vida de Nicole quando contava três anos e o João abriu uma caixa e apareceu, lindo, o coelho branco. Como ela não tinha irmãos para paparicar, vivia aos mimos com o coelho branco que chamou Getúlio. Todas as manhãs soltava o Getúlio da gaiola e ficava horas entretida o vendo saborear cenouras ,brincar e correr pelo pátio. Em uma destas manhãs, enquanto cuidava o coelho a mãe a chamou.

Entrou e voltou rapidamente, não á tempo, porém, de salvar Getulio que um enorme gato preto carregava pelo pescoço encima do muro. Nicole berrou e o gato o soltou já morto. Foi neste dia que ela lembrou as estórias do Papai do Céu e, em frente a uma mãe consternada, disse:

- Sai, mãe, eu vou pedir para este Papai do Céu que vocês me ensinaram e que é muito bom para todo mundo, para ele fazer um milagre como tu me contou. Sai, mãe, que eu vou fechar os olhos porque ele não vai querer fazer o milagre em nossa frente. Tem que ser escondido.

A mãe saiu e Nicole pôs o Getúlio á frente, fechou os olhos e rezou. Dentro da cabecinha naquele momento só havia felicidade porque sabia que ao abrir os olhos o Getúlio estaria vivo de novo. Ia contar para o João, para o vô Bardout, para as amigas como o Papai do Céu era maravilhoso. Sabia, ele não gostava de fazer o milagre em frente dos outros, tinha vergonha. Mal viu a hora de terminar de rezar e abrir os olhos para ver o Getúlio vivo e feliz . Mais um tempinho... ele deve precisar para fazer o milagre escondido, sem ninguém para ver, para poder ressuscitar o meu coelho branco...

Abriu os olhos mas o Getúlio continuava morto .Fez outra tentativa. Quem sabe o Deus de gente grande está muito ocupado hoje? E fez mais outra, e a resposta ,invariavelmente, foi nada.

Nicole chorou, chorou manso, chorou sentido. Chorou pela morte do Coelho Branco, chorou porque os adultos a enganaram, e chorou porque se decepcionou com Deus.

Anos mais tarde , já adulta, e viajando ,sofreu de frio e solidão. Usou o agasalho favorito, uma manta de coelho branco. Sentiu se acompanhada pela infância, por João que lhe dava presentes, por Getúlio, o vô Bardout ,o calor ,a magia da infância ,e perdeu todo o frio e solidão que sentia.

Ausência

Dia triste de chuva,

e de chá com bolinhos mais tricot...

Dia triste de chuva ,

de lareira acesa,

e mais livros com música...

Dia triste de chuva ,

e de chá com bolinhos mais lareira acesa, mais livros,mais música,

e menos voce...

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 01/05/2008
Reeditado em 30/01/2011
Código do texto: T969790
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