Vini e o sonho de ser jogador
Rosângela Trajano
Para o verdadeiro Vini, o melhor jogador do mundo.
Era uma vez um menino de dez anos de idade que jogava muita bola e morava numa comunidade carente. Fazia inúmeros gols para o seu time quando saía do banco
- Gooolllllll!
- De quem?
- Dele! De novo!
- De Vini?
- Sim! Sempre ele!
Vini não recebia nenhum abraço quando fazia um gol, pois tinham receio de que a sua cor os sujasse, como ouviu dizer muitas vezes.
Numa manhã em que jogava uma partida de futebol contra um time muito bom ele fez um golaço daqueles de deixar a gente boquiaberta e foi abraçar seu técnico e lhe disse
- Sai, Vini! Você está sujo!
- Sujo de quê? Estou apenas suado.
- Sujo só isso! Vive sujo! Seu nome deveria ser Sujinho! Isso sim combinaria com você!
Vini abaixou a cabeça e saiu andando pelo campo com os olhos cheios de lágrimas.
Sabia fazer dribles maravilhosos, seus gols eram lindos e quando não fazia os gols ajudava os seus amigos dando os seus passes mágicos e assistências incríveis!
Jogava em campinhos de bairros de periferias e quando fazia gols recebia de presente um picolé e nada mais do seu time. Enquanto os demais jogadores ganhavam brinquedos e roupas.
Quebrou muitas janelas e objetos das casas próximas com os seus chutes fortes e levou muita bronca das mulheres da vizinhança da sua comunidade, mas ele nem ligava para aquilo. Era o seu povo, era ali onde se sentia o menino mais feliz do mundo!
Porém, Vini não se sentia feliz completamente. Como era um menino negro, e onde ele morava existia muito racismo e preconceito as pessoas dos outros times costumavam xingá-lo das mais diversas formas
- Macaco!
- Negrinho amostrado!
- Pretinho feio!
Muitas vezes jogavam cascas de banana dentro do campo ou em cima de Vini, também fazia gestos de macacos, mas ele não desistia do seu sonho de ser um jogador profissional.
No seu time, nunca era reconhecido verdadeiramente como um bom jogador. O seu técnico sempre o deixava no banco alegando que ele ainda era muito novo e logo que crescesse poderia jogar como titular.
Vini fazia tantos gols bonitos que impressionava as pessoas da sua comunidade. Às vezes, ele pegava a bola no meio do campo, driblava todos os jogadores e até o goleiro jogando a bola por entre as suas pernas e fazia um belo gol. Aquilo deixava a torcida adversária irritada e aí era que o preconceito aumentava.
Mas, Vini decidiu colocar a boca no trombone, e foi para rádio local denunciar quem praticava racismo e preconceito contra ele. Também deu entrevistas para os jornais locais e não se calou nunca mais. Ele era conhecido como o jogador barulhento e encrenqueiro só porque denunciava tudo quanto era racismo não somente com ele, mas com todos os seus outros amigos jogadores.
Certo dia, teve uma premiação no campeonato do bairro para escolher o melhor jogador. Vini ficou feliz com aquilo! O prêmio seria uma bola de couro e todos diziam que ele seria o ganhador daquela bola bonita, pois no seu campinho de periferia jogavam com uma bola de meia.
O dia do prêmio chegou e Vini se arrumou todo para ir à premiação, porém quando anunciaram o nome do ganhador não foi o dele, mas o de um outro menino que nunca tinha feito um gol.
Vini ficou triste e cabisbaixo. Veio para casa chorando. Sabia que era o melhor jogador do mundo. Todos diziam aquilo para ele. Uma vez o mandaram se pintar de branco para poder ser convocado para jogar num time grande, e ele ficou muito enraivado com aquilo, pois gostava da cor da sua pele.
Ao chegar em casa, Vini contou tudo para a sua mãe e dormiu no seu colo ao canto do pardal que vinha lá do quintal.
O tempo passou e um treinador de outro país, certa vez, vendo Vini jogar descobriu o seu talento e o levou para a Europa onde ele passou a jogar com grandes jogadores. Vini ficou famoso e seu contrato valia milhões. Todos o queriam em seu time. No entanto, o preconceito e o racismo continuavam por onde ele ia
- Eu nunca vou desistir de lutar pelos meus sonhos!
- Isso mesmo, Vini!
- João, você me acha feio?
- Claro que não, Vini! Você é um cara bem apresentado!
- Por que me chamam de macaco?
- Esquece disso! Vai jogar bola e deixa esse povo chato pra lá!
- É isso mesmo que vou fazer! Jogar muita bola e lutar contra o racismo dentro e fora do campo!
- Estou com você, Vini!
Assim, Vini passou a lutar com muita garra contra o racismo pelo mundo inteiro, de forma que vez ou outra aconteciam episódios desagradáveis de preconceito com ele, mas nunca desistia do seu sonho de ser um grande jogador.
Aos 27 anos, Vini foi anunciado para ganhar a bola de ouro de melhor jogador do mundo e ficou bastante feliz, dando cambalhotas e entrevistas para vários jornais, porém não se sabe o motivo que no dia da premiação deram a bola de ouro para outro jogador que nunca tinha feito um gol na sua vida de profissional e aquilo deixou Vini muito revoltado e indignado, mas não desistiu da sua luta contra o racismo.
Exercícios para o bom pensar.
1 – O que você achou da historinha?
2 – O que você achou de Vini?
3 – Vini sofria com o racismo no campo, mas nunca desistiu do seu sonho de ser um grande jogador. Comente.
4 – Como você se sente ao ler sobre o preconceito que Vini sofria?
5 – Como você o racismo dentro e fora do campo de futebol?
6 – Vini lutava para acabar como racismo. Você acha que ele conseguiu?
7 – O racismo é crime, mas sempre acontece com alguém. O que você acha disso?
8 – Como você vê o racismo no futebol?
9 – Comente sobre a luta de um jogador de futebol que você conheça e lute para acabar com o racismo em campo?
10 – Desenhe um menino negro fazendo um belo gol.