Jantar com os pais
Era uma vez um menino chamado Theron Thelliana.
Um dia, na varanda de sua casa na bela e aconchegante ilha de Nelliana, enquanto ouvia o cantar de corujas e bacuraus sob a luz suave da lua cheia, Theron, um menino de oito anos muito curioso, desfrutava de um jantar aconchegante com sua mãe e seu pai. O aroma da comida preparada por eles pairava no ar, ultrapassando os limites da casa.
O jantar era o momento em que toda a família se reunia, porque o pai de Theron, um engenheiro mecânico que sempre compartilhava histórias fascinantes sobre seu trabalho, saía de casa bem cedo para trabalhar e só retornava à tardinha.
Ele adorava contar que, quando criança, desmontou a bicicleta que havia ganho no Natal e, para espanto dos pais, conseguiu montá-la novamente em pouco tempo. Para ele, foi nesse momento que descobriu sua paixão por engrenagens e mecanismos.
A mãe de Theron, uma bióloga formada e professora de jardinagem apaixonada pela natureza, gostava de lembrar de como, quando pequena, plantou um jardim de flores com sua avó. Todas as tardes, elas regavam as plantas juntas, e foi ali que sua conexão com a natureza começou a florescer, levando-a a ensinar outras crianças sobre o valor das plantas, dividia seu tempo trabalhando como voluntária em uma creche. Aquela refeição era muito aguardada por todos.
— Papai, mamãe, como foi o dia de vocês? — perguntou Theron, querendo saber o que aconteceu com as pessoas que mais amava. Ele se apressava em perguntar porque sabia que seus pais também lhe fariam a mesma pergunta.
Seu pai, olhando para a esposa, sorriu e respondeu:
— Hoje, no trabalho, um colega cometeu um erro na montagem de uma engrenagem. Ninguém percebeu, mas ele fez questão de contar ao supervisor da empresa que havia errado e que, assim que percebeu, refez todo o serviço.
— Ele foi corajoso e honesto, não foi, papai? Fico feliz em ver como ele agiu com coragem. Acho que faria o mesmo — disse Theron.
— Eu sei. Veja que incrível: ele me contou que, na juventude, foi um hippie que não acreditava em Deus. Viajou o mundo apenas com uma mochila nas costas e, em certa ocasião, encontrou duas crianças, uma delas privada da visão, que mudaram sua vida. Ele sabia que poderia ter perdido o emprego porque o erro que cometeu atrasou a produção. Mas, ao admitir o erro e dizer a verdade, nada de ruim aconteceu com ele — respondeu o pai de Theron.
— E seu dia, mamãe, como foi? — perguntou Theron.
A mãe dele balançou a cabeça concordando com o esposo e, logo em seguida, com a voz suave, respondeu ao filho:
— Esta manhã, uma colega se esqueceu de devolver no dia combinado um livro que eu havia emprestado a ela. Calmamente, expliquei que precisava do livro para terminar um trabalho na creche.
— Mamãe. Ela ficou brava?
— Que nada! Em vez de ficar brava comigo por ser cobrada, ela admitiu que cometeu um erro, pediu mil desculpas e devolveu o livro ainda pela manhã.
— Entendi. Querem saber como foi meu dia na escola?
— Claro que sim — responderam os pais de Theron quase ao mesmo tempo.
— No intervalo, fui brincar com as crianças do Fundamental. Vesti-me de super-herói e, com a professora, brincamos de pega-pega e esconde-esconde durante todo o intervalo.
— Legal, meu filho. Isso mostra que a professora confia em você — respondeu o pai de Theron.
— Confia e gosta de brincar com as crianças quando você está com ela — acrescentou a mãe de Theron com ternura.
Enquanto o cheiro da comida se espalhava na varanda iluminada pela lua, Theron guardava as lições daquele jantar em seu coração. Anos depois, já na adolescência, essas lições de integridade e bondade se tornaram valiosas. Sempre que enfrentava desafios, Theron aplicava os princípios que aprendeu, lembrando-se de que pequenos atos de coragem e honestidade podem transformar não apenas um dia, mas toda uma vida.
Os anos passaram, e Theron, agora com 15 anos, encontrava-se diante de um dilema que o faria lembrar-se das lições de sua infância. Ele e sua melhor amiga, Isla Raelyn, passeavam pela movimentada Nexenna City após a escola, quando ela, com um ar hesitante, sugeriu algo inesperado:
— Theron, o que você acha de darmos uma espiada na nova fábrica de drones? — sugeriu Isla, com um brilho curioso no olhar. — O portão estava entreaberto. Ninguém vai nos ver.
Theron parou, sentindo uma leve pontada de desconforto. A ideia de explorar um lugar que não deveriam estar parecia empolgante, mas algo o fez hesitar. Ele se lembrou das histórias contadas por seus pais durante os jantares na varanda de sua casa, das lições de honestidade e coragem que moldaram sua infância.
Antes que ele pudesse responder, Isla já se aproximava do portão, puxando-o pelo braço. O som de metal rangendo enquanto ela o empurrava só aumentou o nervosismo de Theron.
— Isla, não acho que isso seja uma boa ideia — disse Theron, a voz trêmula, olhando ao redor. — Veja o que está escrito naquela placa: “Proibida a Entrada sem autorização".
Isla parou e olhou para trás, seus olhos brilhando com um misto de ansiedade e teimosia.
— Qual é, Theron? — disse ela, quase desafiando. — Ninguém vai nos pegar. E se pegarem? Podemos só dizer que foi um acidente.
Theron sentiu o peso da escolha. Ele sabia que poderia seguir Isla e curtir uma aventura emocionante, ou poderia fazer o que sentia ser o certo. O medo de decepcioná-la ou ser visto como um covarde o consumia. Isla já começava a forçar o portão entreaberto, quando Theron ouviu um barulho de passos se aproximando.
— Isla, espere! — disse ele, parando-a no último segundo. O som de alguém se aproximando ficou mais alto, e logo um segurança apareceu ao virar a esquina, com olhos atentos.
Isla, com a voz baixa e apressada, sussurrou:
— Vamos só dizer que nos perdemos, ou que o portão estava aberto e pensamos que podíamos entrar.
Theron olhou para o segurança que agora se aproximava deles e sentiu o impulso de concordar com Isla, mas sabia que isso seria uma mentira. Ele respirou fundo, e mesmo sabendo que poderiam se meter em problemas, decidiu falar a verdade.
— Desculpe, senhor. Estávamos curiosos sobre a fábrica e pensamos em entrar. Mas vimos a placa e decidimos que não era o certo. Não queríamos causar confusão.
O segurança olhou para eles por um momento e então assentiu.
— Vocês fizeram a escolha certa em não entrar — disse o segurança. — Mas é melhor que não voltem por aqui sem autorização.
Isla suspirou de alívio, e Theron sentiu um misto de nervosismo e orgulho. Ele sabia que, ao ser honesto, evitou um problema maior, e sua consciência estava limpa.