GUERRA DOS PORROLHOS

Tenho a impressão, quase certeza, de que a primeira Delação Premiada no Brasil aconteceu em 1993, quando oito meliantes se juntaram e entraram em guerra com outra facção rival do prédio ao lado. Era um dia de festa, e eles, os meliantes, brincavam a todo vapor no playground do prédio. Os meliantes do prédio vizinho ficaram incomodados com aquela alegria toda e começaram a lançar para o outro prédio, bolas de papel higiênico molhado. Aquilo quando pegava no corpo doía, viu! Lógico que ali se iniciou uma guerra entre os pequeninos militantes. A essas bolas, na época, eles chamavam de “PORROLHO”, uma espécie de granada de mão feita de papel e água e às vezes, até de xixi e outras porcarias.

Era “porrolho” pra todo lado, diga-se de passagem que a maioria deles ficou grudada nas paredes, vidraças e chão. Algum morador denunciou ao síndico que o playground estava todo emporcalhado, praticamente destruído, por umas bolas gosmentas espalhadas por todo lado.

O síndico, então, vai até o local e, percebendo aquela bagunça toda, manda chamar os responsáveis por aqueles meliantes mirins.

Os pais, vendo aquilo tudo, decidiram que todos deveriam passar por castigo severo, mas não antes, de limparem todo o playground. Os meliantes, calados, trataram de limpar tudo, retirando PORROLHO por PORROLHO das paredes e das vidraças. Vendo a eficiência dos meninos e lembrando que um dia, também foram crianças, informaram que trocariam o tal castigo severo por um relato de como aquilo tudo havia acontecido.

Os meninos se reuniram e começaram a relatar os fatos. Depois de muito escreverem, resolveram formular um documento sucinto, expressando o que cada um deles havia feito. Surgindo então, quiçá, a PRIMEIRA DELAÇÃO PREMIADA DO BRASIL.

Eis aqui, em próprio punho, o documento denunciador e, 31 anos depois, o diploma de como é bom ser criança, que fiz questão de entregar em mãos a cada um deles.