O menino do dedo verde

Panela era um menino de dez anos, na verdade seu nome era João, mas se alguém o chamasse assim dificilmente daria atenção. Ganhou esse apelido porque vivia roubando comida das panelas de sua mãe cozinheira. Panela era um menino absolutamente comum, feliz, amava brincar na rua com seus amigos, não fosse por um detalhe, seu dedo anelar tinha um tom esverdeado. Seus pais já investigaram com todos os médicos, não havia nada de errado, era como se fosse um sinal de nascença. Panela se questionou por muito tempo porquê de seu dedo ser daquele jeito, até que ele aceitou e seguiu sua vida normalmente, até o dia em que mudou de escola.

Por conta do trabalho de sua mãe, Panela e sua família tiveram que se mudar, e sua antiga escola ficava longe de seu atual endereço. Não estava feliz, mas teve que aceitar e tentou olhar a mudança com olhos positivos, mas as coisas ficaram muito difíceis quando chegou seu primeiro dia na escola nova, ao repararem no seu dedo, Panela foi humilhado e ofendido. Achou que as pessoas iam acabar esquecendo e deixando pra lá, o que infelizmente não aconteceu, muito pelo contrário, as coisas só pioraram. Panela então deixou de ser um menino feliz, não brincava mais e vivia preso dentro do quarto, já inventava desculpas pra não ir à escola,

Sua mãe reparou na mudança do menino e foi questioná-lo, Panela contou tudo e ela lhe garantiu que falaria com sua professora, que isso não poderia acontecer, mas também conversou com ele.

- O que eu sempre te falei sobre seu dedo, João?

(Panela sabia que sua mãe fala sério quando ela lhe chamava pelo nome)

- Que era isso que me tornava especial.

- Pois então.

- Mas não é isso que todo mundo diz, todo mundo me acha uma aberração.

- E por que você acredita em todo mundo? Todas as pessoas do mundo são únicas. Já pensou se todo mundo fosse igual, que chatice que ia ser? Aposto que ninguém na sua escola tem o dedinho igual o seu. Por que você vê isso como algo ruim? Só porque alguém que você acabou de conhecer te disse isso? Vale a pena acreditar nisso? Pensa nesse dedo como um super poder, que tal?

Assim que sua mãe saiu, Panela começou a pensar que sua mãe estava certa, estava deixando de ser quem era por acreditar nos outros, então teve uma ideia. Sempre gostou de desenhar, então resolveu criar uma história em quadrinhos de um super herói que tinha uma super força e super velocidade por conta do dedo verde, o super Panela vivia salvando o mundo e fazendo boas ações por onde passava.

Panela mostrou sua história para sua professora, que mostrou para a diretora e ambas viram muito potencial no que tinha ali. Inscreveram Panela em um concurso de quadrinhos, ele acabou ganhando, não só o concurso, mas muito visibilidade porque era a nível nacional.

Panela começou a desenvolver mais histórias, até que foi chamado para lançar um livro com aquelas aventuras, o que deixou sua mãe muito feliz e orgulhosa.

- Eu sabia que essa sua mania de criar histórias ainda ia te levar longe.

Disse no dia do lançamento do livro “As Aventuras Do Super Panela!” em uma grande livraria no principal shopping da cidade.

Panela estava espantando com o sucesso do seu livro e principalmente, a quantidade de gente que estava na fila pra receber um autógrafo seu, reparou em um menino, que ocupava o primeiro lugar, pequena, franzino, usava óculos e agarrava o livro como se fosse um tesouro.

Quando chegou, Panela descobriu que o nome do menino também era João.

- Obrigado por ter feito essa história!

- Imagina, fico muito feliz que você tenha gostado, xará!

- Você escreveu por causa do seu dedo verde?

Pergunta o pequeno leitor

- Sim, descobri que o que me torna diferente é algo que me faz especial, é o meu super poder!

- Acho que eu não tenho super poder nenhum, só tenho esses óculos feios que faz todo mundo me zoar na escola.

Diz o menino, cabisbaixo

- Pois eu aposto que tem, todos nós temos alguma coisa que nos torna especiais, a gente só não percebe porque fica prestando atenção no que os outros dizem. Eu só descobri o meu super poder, quando voltei a acreditar em mim. Imagina que chato seria esse mundo se todo nós fôssemos iguais?

- É verdade, acho que você tem razão. Obrigado, Panela!

- Não tem nada que agradecer, e não esquece de achar o seu super poder, tá bom?

- Pode deixar, xará!

Panela então percebe que o menino volta para os pais animado e com um sorriso enorme no rosto.

Talvez sua mãe tivesse mesmo razão. Panela ficou tanto tempo ouvindo as coisas ruins que os outros falavam dele, que acabou esquecendo o quanto é incrível ser único, ainda bem que seu dedo verde estava ali o tempo todo para sempre se lembrar disso a partir de agora.

Tamiris Pires
Enviado por Tamiris Pires em 30/06/2024
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