Cavalo manco
Cavalo manco
Naquela manhã, a fazenda despertou com uma agitação incomum. Fazendeiros de todas as partes da região chegavam para a exposição de cavalos de raça do Seu Zitão. Cavalos Mangalarga Marchador, Puro Sangue Inglês, Árabe, Quarto de Milha e outras raças deslumbravam o público com sua majestade. Os nobres animais batiam seus cascos no chão, produzindo um ritmo demorado. Suas crinas esvoaçavam ao vento, e suas cores reluziam sob o sol da primavera.
Niel, um garotinho de cabelos claros e olhos azuis da cor do céu, chegou à fazenda na companhia do avô. O menino estava determinado a explorar cada centímetro daquele lugar, e seus ouvidos estavam atentos a qualquer som, por mais sutil que fosse. O canto do galo, o piar dos filhotes de tico-tico nos ninhos, o latido do cãozinho que balançava o rabo dando boas-vindas, e até o rápido bater das asas de um beija-flor pareciam música aos ouvidos do garoto, tal era seu encantamento naquela manhã.
De repente, sua atenção foi capturada por um cavalo manco que pastava solitário em um local isolado da fazenda, onde a vegetação não era abundante como os pastos dos outros animais. Enquanto os cavalos de raça desfilavam exibindo sua juventude e beleza, atraindo a atenção dos fazendeiros, esse cavalo parecia invisível para a multidão, mas não para o menino, que se sentiu curioso a observá-lo.
Quando seu avô anunciou que estava interessado em comprar um dos cavalos de raça no leilão, o menino interrompeu, contando o seu desejo de ter o cavalo solitário. O fazendeiro explicou a eles que o animal estava envelhecido e sofria de um machucado no tornozelo, destinado a ser sacrificado em breve. No passado, disse o fazendeiro, fora um valioso trabalhador na propriedade, mas a idade e o trabalho duro haviam piorado sua artrite nos joelhos, tornando-o manco e inútil. O sacrifício era a solução lógica para evitar seu sofrimento e as despesas que traria.
Niel protestou e chorou muito, insistindo para que o avô lhe desse a chance de levar o velho animal para casa e cuidar dele. O fazendeiro, vendo o interesse do menino e querendo livrar-se do problema, ofereceu-o como presente ao menino. O avô, então, partiu com seu neto, levando consigo o cavalo manco.
Os dias passaram rapidamente, e toda manhã, fizesse chuva ou sol, o menino visitava seu novo amigo, que o recebia com gestos de carinho. O cavalo, que antes estava triste e com medo, olhava agora o menino com ternura, batia os cascos suavemente no chão e emitia relinchos baixos quando ele se aproximava.
Cada manhã, o menino montava o cavalo manco, e juntos exploravam os recantos mais bonitos da fazenda, alternando entre uma marcha tranquila e um galope suave. Desfrutavam da grama verde e macia, dos riachos de águas cristalinas refletindo o céu azul e os raios de sol. Para o menino, cavalgar era como voar sem asas, uma sensação de flutuar com cada movimento rítmico e suave, o vento acariciando seu rosto.
Com o tempo, a amizade entre os dois se fortaleceu. O cavalo, cercado de amor e atenção, mostrou melhorias significativas em seu estado. Já não dormia tanto quanto antes, estava mais alerta e cheio de vida.
Assim, os amigos viveram por vários anos, lado a lado, compartilhando momentos de tristezas e de alegrias. Amizade sincera que deixou uma lição valiosa: estar ao lado de quem nos ama verdadeiramente pode dar um novo significado à nossa vida, fazendo a gente se sentir importante. Você já parou para pensar nisso?