O Lobo é mau?
Era uma vez uma menina chamada Coralina que vivia em uma linda floresta que mais parecia um paraíso. Ela era uma garota inteligente, esperta, adorava passear e brincar entre as lindas árvores e as mais belas flores, porém, sentia um pouco de medo porque sua vovozinha disse que um lobo muito mal e perigoso morava naquela região e que para não correr o risco de ser devorada por ele, ela não deveria se afastar dos arredores da casa.
A menina ficou intrigada com o que a velhinha falou e resolveu investigar o caso. Levantou bem cedinho, pegou a cesta de piquenique e embrenhou pelo meio da mata. Durante o passeio, cumprimentava a todos os animais que encontrava e cantarolava: bom dia linda borboleta, senhor besouro, dom caramujo, dona pardoca, bom dia meus queridos amigos... e todos em um só coro respondiam alegremente: boom diaaa!!
Continuando o passeio, ia pensando: será que realmente existe um lobo por estas bandas e mal por sinal?
Enquanto caminhava, viu um esquilo e perguntou:
— Senhor esquilo, é verdade que o lobo é mal?
— Quem disse? Perguntou o roedor.
— Minha vovó quem falou.
— Bem, se quiser realmente saber, vai ter que descobrir sozinha esse mistério — e saiu pulando pelos galhos das árvores dando risadas.
Seguindo a turnê pela mata, a destemida menina encontrou três porquinhos que brincavam felizes da vida. Aproximou-se deles e indagou:
— Caros amigos, é verdade que o lobo é mal?
— Quem disse? Perguntaram os três em um só coro.
— Foi minha vovó!
— Sua vovó! Hum! Escute menina, nós moramos aqui desde que nascemos e não existe nenhum lobo mal em toda a floresta, essa história é coisa de gente grande e não sei porque sua vovozinha fica colocando minhocas na sua cabeça.
Veja só estas três casinhas [...] são nossas e sabe quem nos ajudou a construí-las?
— Quem?
— Foi o lobo.
— O lobo? Mal?
— Sim menina! O lobo, mas ele não é mal, muito pelo contrário, ele tem um coração muito bom e ajuda a todos os que têm alguma dificuldade.
— Que legal, por essa eu não esperava! Obrigado meus amigos, vou seguir com minha investigação... ops! Quero dizer, com meu passeio.
E lá se foi coralina, que ganhou dos porquinhos o apelido carinhoso de Cora. Durante sua jornada, fazia a mesma pergunta a todos quantos encontrava pelo caminho, querendo de fato saber se o tal lobo era mal, mas até aquele momento ainda não tinha visto o temido animal peludo de dentes e orelhas grandes.
De repente, ouviu um barulho esquisito atrás de um arbusto e aproximando-se, ficou paralisada ao ver um lobo roncando de barriga para cima. Foi chegando de mansinho e em um tom delicado chamou por ele:
— Senhor lobo! Senhor lobo!
Ao ouvir aquela voz meiga, acordou, espreguiçou e meio sonolento falou:
— Quem é você e por que me acordou? Hãããiai — bocejou o lobo.
— Me, me, me des – des – desculpe, nã – nã – não fiz por – por – por ma – ma – maldade.
— Tudo bem! Eu já ia acordar mesmo, afinal, já está na hora do meu almoço.
— Almoço? Ai meu Deus!
— O que foi minha pequena, por que ficou tão espantada?
— Por acaso o seu almoço sou eu?
— Você? Claro que não! De onde tirou essa ideia? Há... já sei! Anda lendo estorinhas ou ouvindo prosas dos adultos.
— Você adivinhou, foi minha vovó quem me contou essas estorinhas. Olhe seu lobo, ela disse que nesta floresta vive um lobo que é muito mal e devora crianças e velhinhas, por isso ela não se afasta muito de casa e me aconselha a não me afastar também.
Ao escutar isso, lágrimas rolaram dos olhos do lobo, que na verdade mais parecia um cão domesticado.
Vendo as lágrimas correrem de seus olhos, Cora ficou com o coração partido e tentou confortá-lo.
— Não chore meu amigo! Vejo que de mal você nada tem e gostaria muito de ser sua amiga, isto é, se você me aceitar.
— Claro que aceito, pois o que mais gosto é de fazer novas amizades e sinto-me honrado por tê-la como amiga.
Escute menina, eu tenho fama fora da floresta de ser um lobo mal e não sei quem inventou essa estória, causando medo nas crianças e levando caçadores pelas matas com espingardas e facões. Mas saiba que não tenho maldade no meu coração e sempre procuro fazer o bem a todos os moradores deste lindo paraíso.
Coralina pegou seu lenço, limpou os olhos do lobo, abriu a cesta e repartiu o lanche com o mais novo amigo. Os dois comeram, conversaram e até dançaram o resto da tarde e depois de tanta diversão abraçou o amigo e falou:
— Senhor lobo, gostei muito de conhece-lo, vejo que és de nobre coração e prometo que divulgarei lá fora da floresta que o lobo não é mal.
Então os dois apertaram as mãos e Cora tomou o caminho de volta para casa felicíssima da vida por saber que a estória de um lobo mal que devora crianças não passava de fantasia dos adultos para colocar medo em crianças desobedientes.
O lobo é mal??