O milagre do passarinho
Era uma vez um menino chamado Bentinho, cujo comportamento era dos piores existentes naquela região. Tinha nove anos de idade, mas parecia ter cinquenta de maldades. Era filho único de um senhor chamado Zaqueu e de uma senhora chamada Raquel.
Apesar de tão novinho, Bentinho possuía um coração pesado, era insensível e se divertia fazendo maldades com os passarinhos, plantas e tudo quanto é criatura que se pusesse diante de seus olhos.
Era difícil entender o cruel comportamento do menino, visto que seus pais eram pessoas de nobre coração e de uma bondade muito grande. Mesmo sendo criado em um ambiente saudável e de estimada educação, o rapazinho era mal-educado e respondão, mas a vida iria lhe ensinar alguns bons modos.
Certo dia, o menino-peste estava andando pela floresta fazendo suas estripulias quando viu um lindo passarinho no galho de uma árvore entoando seu lindo canto. Não contente com aquela cena espetacular, tirou do bolso um estilingue, mirou no inocente pássaro e impiedosamente disparou uma pedra que atingiu certeira o peito da pobre ave.
A avezinha caiu bruscamente aos pés de seu algoz que demonstrava no rosto um aspecto de alguém que saíra vitorioso de uma batalha.
Ao olhar para a pequena e indefesa ave que deixava brotar uma triste gota de lágrima em cada olho e com uma asa quebrada sem poder se locomover, pedindo ajuda apenas com o olhar, o menino ficou paralisado. Não foi necessário que alguém lhe desse uma bronca ou algum tipo de sermão por sua brutalidade, bastou apenas uma lágrima e um olhar de pedido de socorro.
No mesmo instante, o coração de Bentinho se afligiu e ele ficou sem reação. Ao mirar os olhos lacrimejados do passarinho e uma respiração ofegante de quem dava os últimos suspiros, o garoto o pegou em suas mãos e foi correndo para casa e lá, cuidou dele, jogando-lhe um pouquinho de água na cabeça e acariciando-o já com seus olhos rasos d’água.
A mãe, dona Raquel, chegou na cozinha e viu aquela cena e perguntou:
— O que você está fazendo com esse passarinho meu filho?
— Mamãe, eu o derrubei de uma árvore com o estilingue e ele quebrou uma asa e agora, que estou vendo o sofrimento dele, me arrependi desta maldade e vou cuidar para que ele melhore.
— As aves são criaturas de Deus Bentinho e você não pode andar por aí fazendo maldades com os animais, eles também têm sentimento, sentem dor, tristeza e alegria. Quando fazemos algo de bom para os bichos, eles agradecem, sabia disso? — disse sua mãe.
— Nunca imaginei isso mamãe, mas de agora em diante, vou mudar o meu comportamento.
Então, Bentinho cuidou da pequena ave, curou-lhe a asa e para a surpresa dele, assim que terminou os cuidados, o passarinho deu-lhe uma leve bicada no rosto em forma de agradecimento.
Os dois tornaram-se grandes amigos e a partir daquele dia, o coração do menino foi mudado completamente, passou a ter zelo e amor pela floresta, morada dos bichos.
E Bentinho falou para o passarinho que veio visita-lo num outro dia:
— Meu pequeno amigo de asas, quero te agradecer, pois você me deu uma lição muito grande e me mostrou que sempre podemos mudar de atitude, deixar as maldades e fazer o bem. Suas lágrimas e seu sussurro de pedido de socorro, fizeram um milagre na minha vida e a partir de hoje quero bradar:
— Proteção aos animais e punição aos malfeitores das florestas.