A roupa do rei momo que cheira a menino
(Histórias para o carnaval)
Rosângela Trajano
A mãe e o menino depois de chegarem da feira em mais um dia de trabalho para ela onde o menino ficava brincando embaixo da banca com os seus bonecos e carrinhos:
- Não sei mais o que vender, filho! Tudo dar prejuízo!
- Mamãe, e se a gente aproveitar o carnaval para fabricarmos máscaras, chapéus e fantasias?
- Você acha que dar certo?
- A gente tem cartolina e cola em casa e ainda temos a máquina de costurar!
- Você me ajuda, filho?
- Claro que sim, mamãe! Adoro fazer máscaras!
A mamãe começou a trabalhar naquele mesmo dia na sua máquina de costura. Fez saias, blusas e camisas coloridas de todos os tamanhos com os restos de tecidos que tinha em casa, mas logo acabou tudo!
Enquanto isso, o menino a ajudava fazendo máscaras de super-heróis, políticos e gente famosa que ele conhecia.
Na segunda-feira de carnaval, a mamãe vendeu tudo na sua banquinha que ficava num canteiro movimentado da cidade e ficou muito feliz junto com o menino!
Ao chegarem em casa, receberam a visita do rei momo do carnaval daquele ano:
- Eu vim mandar fazer uma roupa bem bonita para o meu último dia de carnaval!
- Nossa, majestade! Está em cima do dia! Acho que não conseguirei!
- Vai conseguir, sim, mamãe! Eu lhe ajudo!
- Já vou pagar metade do valor da roupa adiantado! Tem que ter muito babado e brilho! E ainda ser bastante folgada porque sou um rei bem gordo!!!
- O problema é este, majestade!
- Qual, senhora? A minha fofura? Ah, ah, ah, ah, ah....
- Onde vou conseguir tecido para uma fantasia tão larga e grande?
- Mamãe, a gente dá um jeito! O rei confia na gente senão ele não teria vindo de tão longe para nos encomendar a sua roupa! Como mesmo nos descubriu, majestade?
- Eu vi o seu anúncio na Internet, garoto!
- Que anúncio, filho?
- No anúncio seu filho diz que vocês fazem fantasias até para a lua se ela quiser brincar o carnaval. Achei criativo. Se podem fazer para a lua, também podem para mim.... ah, ah, ah, ah, ah...
- Filho, e agora?
- Mamãe, tire as medidas do rei!
- Oh, não é preciso, garoto! Façam uma bermuda bem larga e comprida. Façam também uma camisa cheia de babados bem larga. Ah, ah, ah, ah... as minhas medidas são as mesmas da lua... ah, ah, ah... venho pegar amanhã cedinho.
- Não vai nem experimentar, majestade?
- Ah, ah, ah, ah... não é preciso. O menino sabe das minhas medidas. É só experimentar na lua cheia... ah, ah, ah... agora vou indo. Amanhã cedo estarei aqui.
O rei momo era gordo por demais. Talvez pesasse uns 785kg. Na verdade, ele parecia uma lua cheia andando na Terra, pensou a mãe do menino:
- Filho, agora me conte esta história de anúncio?
- Eu fiz o desenho de uma lua cheia e coloquei embaixo a frase: fazemos a sua fantasia de carnaval na medida certa. Mas, a lua era pra dizer que a gente só faz fantasia à noite porquê de dia eu brinco, mamãe. O rei entendeu errado!
- Por que não disse tudo no anúncio?
- Porque aprendi na escola que uma imagem vale mais que mil palavras.
- Você acabou me colocando numa saia justa, filho.
- Eu lhe ajudo, mamãe!
- Eu só tenho 2 metros de tecido em casa. E as lojas de tecido estão todas fechadas!!! Onde vou conseguir tanto tecido para a roupa do rei?
- Aproveite as minhas camisas e calções de cetim que estão apertados em mim, mamãe! São quase novos!
- Você está ficando gordinho mesmo! As suas roupas estão todas apertadas! Gostei da sua ideia, filho! Com o dinheiro que o rei nos pagar compramos roupas novas para você!
O menino e a sua mamãe tiraram do guarda-roupas todas as suas camisas e calções. Cortaram tudo em pequenos quadrados e depois a mamãe costurou juntando os pedaços soltos.
O dia amanheceu e a mamãe dava os acabamentos na roupa do rei que logo chegou para pegá-la:
- Já está pronta a minha roupa, senhora?
- Falta só pregar os botões, majestade.
- Cadê o garoto? Trouxe chocolate pra ele...ah, ah, ah, ah... adoro coisas doces!
- Ele dorme, majestade!
- Já acordei, mamãe! Cadê meu chocolate, majestade?
Em vinte minutos a roupa do rei ficou pronta e ele quis vesti-la ali mesmo.
O menino e a mamãe deram as costas para ele enquanto se vestia.
Parece mentira, mas a roupa ficou tão apertada que os botões dela foram parar na casa do outro lado da rua quando rei respirou:
- Folgue só mais um pouquinho, senhora.
A mulher e o menino entreolharam-se. Não tinha mais roupa do menino para servir de tecido:
- O que fazemos agora, filho?
- Venha comigo, mamãe!
A mãe e o menino pediram licença ao rei e foram para o quarto:
- Use esta minha última roupa e folgue a camisa do rei, mamãe!
- E você vai ficar nu?
- É melhor uma criança nua do que um rei, mamãe.
A mamãe mais uma vez gostou da ideia do menino. Com a sua camisa e calção pode folgar a roupa do rei e pregou os botões novamente:
- Huumm... ainda está um pouco apertada, mas dessa vez os botões ainda não voaram!
- Gostou mesmo, majestade?
- O melhor é que o tecido tem cheiro de criança... ah, ah, ah, ah... isso é bom! Aqui está o restante do seu pagamento, senhora. Agora vou indo. Hoje é o último dia de carnaval e não posso perder um segundo sequer. Onde está o garoto para me despedir dele?
- Brincando de carnaval no quarto!
- Chame ele aqui! Quero dar-lhe um abraço pelo belo anúncio!
A mãe deu mil desculpas para o rei esquecer do menino que estava nu no quarto trancado, mas ele insistiu:
- Garoto, você está fantasiado de Adão?
- Sim, majestade!
- Venha comigo brincar o carnaval!
- Não posso deixar a mamãe sozinha, majestade!
- Ela vem conosco! A sua fantasia vai arrasar neste carnaval!
E lá se foram a mãe, o rei todo contente e o garoto pulando o carnaval e cantando a marchinha abaixo puxando outros foliões pelo bloco dos “Doce de Xanana”:
E se eu for embora pra casa
Tem gente que vai me segurar
Me puxar e me rasgar
Porque eu sou o doce de Xanana
Que todo o mundo quer provar
Vamos pular, vamos pular
Até o carnaval acabar
Acaba não! Acaba não
Pois tá bom pro meu coração
Eu só vou parar de brincar
Quando a polícia me levar
Eu só vou parar de brincar
Quando a polícia me levar