Era uma vez um menino magrinho, olhos redondos e da cor da noite, cabelos cacheados e perninhas finas de tanto correr, dizia o vovô. Desses meninos que a gente olha e pensa ser eles muito espertos. Sim, era esperto demais o nosso menino. E vou lhes contar o motivo porque é preciso alertar as demais crianças sobre fazer economias e não gastar dinheiro à toa.
O nosso menino deixava os seus sapatos ficarem bem velhinhos, bem velhinhos mesmo para comprar outro. Nunca comprava nada que não estivesse precisando. Ele valorizava tudo o que tinha, principalmente as suas moedinhas guardadas num cofrinho. Em tempos de inflação e isso é uma coisa que a gente vai falar outro dia ele sabia que precisava esperar ela baixar um pouco para poder fazer negócios
- Filho, por que você não compra uma calculadora? Vai facilitar os seus cálculos.
- Não, papai. Eu faço os meus cálculos de cabeça. Não posso gastar dinheiro com besteiras.
- Deixe de tolices, filho! Dinheiro é pra se gastar mesmo senão a gente morre deixa tudo para os outros! A gente não vai levar nada desse mundo de Deus!
Em casa, o menino só tinha o básico para viver bem. Nada de gastar dinheiro com besteiras ou sem necessidade. O dinheiro é uma coisa que a gente precisa saber valorizar ou senão o perde todo de uma hora pra outra. Nunca comprava uma mercadoria sem antes fazer pesquisa de preços e sempre que fazia negócios costumava pedir um desconto maior porque pagava em espécie e não em cartão de crédito ou PIX. Nada de gastar dinheiro com balas, chocolates ou biscoitos recheados porque além de não ser saudável também eram muito caros.
Também não tinha TV por assinatura e só assistia aos canais abertos da sua televisão. Ele não achava ruim porque com aquele dinheiro dava para comprar livros e cadernos para estudar. Economizava a energia da casa sempre desligando a luz do seu quarto quando ia dormir e só ligando o ar-condicionado por duas horas todas às noites. Sabia que a conta de energia da sua casa era muito alta e não concordava quando a mamãe passava horas com o secador de cabelos ligado ou com a porta da geladeira aberta. Era preciso não desperdiçar nada. Dinheiro não cai do céu, dizia o menino para todos.
Muitas vezes chamado de "mão de vaca" por não gastar dinheiro à toa, o menino nem ligava. Enquanto as pessoas que o chamavam daquele jeito não tinham um cofrinho cheio de moedas iguais a ele e viviam reclamando das suas finanças. Tem gente que não pode ver uma promoção que corre para comprar sem nem necessitar daquela mercadoria ou produto. Tem gente que não segura a tentação de ter um dinheirinho a mais na carteira e sai gastando com toda porcaria que ver por aí. Ele não! Claro que não! Desde cedo aprendera com os seus avós a não gastar dinheiro à toa. As coisas estão difíceis e vão ficar cada vez mais difíceis, dizia o vovô no alto da sua sabedoria. A vovó só tinha dois vestidos que ela tinha comprado há mais de dois séculos. Quando tirava um vestia o outro. E assim o menino aprendeu que para a gente poder usufruir de uma vida confortável no futuro só economizando bastante e não gastando à toa como fazia o papai que de seis em seis meses trocava de carro
- Pai, este carro está novinho! Por que já vai compra outro?
- Porque meus amigos trocam de carro direto, filho. Eu tenho que manter o meu status de rico! Ou vão dizer por aí que a gente está ficando pobre!
Sim, o papai e a mamãe sempre gastavam muito dinheiro com coisas desnecessárias. Só para citar um exemplo para vocês, a mamãe do menino tinha um closet cheio de sapatos de todos os modelos e cores que ela nunca calçava e tinha também uma coleção de bolsas que nunca usava, mas quando o boleto de cartão de crédito chegava todos faziam cara de tristes e juravam que alguém tinha clonado o cartão, mas na verdade depois de muitas conferências quem tinha gastado tudo foram eles mesmos. E lá se iam pagar o boleto do cartão de crédito que dava para alimentar dez famílias com três filhos, mensalmente.
Ninguém na casa do menino sabia economizar dinheiro. Gastavam demais e gastavam com besteiras, com coisas supérfluas. Não podiam ver nada à venda que já queriam comprar. Ele ficava preocupado com aquela gastança e um dia foi ao banco falar com o gerente
- Seu gerente, eu quero a senha da conta corrente dos meus pais.
- Para que, menino?
- Para gerenciar a conta deles. Estão gastando demais! Ontem fizeram um saque de 8 milhões! O que eles compraram com esse dinheiro todo?
- Eu não posso lhe dar a senha, menino, mas acho que os seus pais gastam dinheiro à toa de verdade. Nesses dias vão ficar pobres. Eu já avisei.
- Por que não pode me passar a senha da conta deles? Eu não vou tirar dinheiro. Eu só quero controlar o que eles gastam.
- Meu querido, senha é algo confidencial. Converse com os seus pais. Peça para eles não gastarem tanto dinheiro com bobagens. Hoje mesmo soube que eles compraram uma casa na praia com trinta e sete suítes, sem necessidade porque eles já têm três casas de praia e pelo que sei não vão a nenhuma nunca.
- Eu vou falar com eles, seu gerente! Estou muito preocupado!
O menino bem que tentou alertar os seus pais sobre a gastança de dinheiro, mas foi em vão. Eles continuaram a gastar. Gastavam muito. Gastavam com besteira. Gastavam dinheiro à toa. Até que chegou o dia em que ficaram sem nada. Sem nada mesmo
- E agora? O que vamos fazer?, perguntaram papai e mamãe olhando um para o outro quando o dinheiro acabou.
Com pena dos seus pais que ficaram depressivos com os bens penhorados pelo banco, cartão de crédito estourado e muitas dívidas, o menino resolveu emprestar-lhes dinheiro para começar tudo de novo com uma condição importante para todos nós
- Não gastem dinheiro à toa, entenderam?
- Sim, filho não gastaremos! Eu juro, falou o papai.
- Eu prometo, filho. A mamãe nunca mais vai entrar numa loja de sapatos de grife.
Assim, o menino que tinha passado cinco anos juntando as suas moedinhas e que não gastava dinheiro à toda conseguiu ajudar os pais a se recuperarem da falência, mas ficou a lição para eles e para todos os que vivem gastando dinheiro à toa. É melhor economizar para nunca faltar, disse o menino e foi pescar peixinhos que ele pescava e depois os jogava no mar novamente, era só para brincar mesmo. Dinheiro não é tudo na vida, mas é importante ter sempre um pouco para gastar com o necessário, pensou o menino enquanto um peixinho mordeu a sua isca.