A lagarta, a borboleta e Berenice
Observava o rastejar daquele inseto e logo preocupou-se em fazê-lo sumir deste mundo com uma forte chinelada, não conseguiu. Berenice não suportava lagartas, mas o medo a fez recuar, preferiu correr e reclamar ao seu pai.
- Se aquele inseto me tocar, penso que morrerei, reclamou Berenice.
- O que houve filha?
- Nem sei por que existem as lagartas pai, elas rastejam o tempo todo e são muito feias. Poderia me ajudar a brincar no jardim?
- Sim, claro minha filha. Vamos brincar juntos.
- Pai!!!
- O que houve Berenice?
- O senhor sempre distraído. Não entendeu que estou querendo mesmo é livrar-me daquele inseto nojento.
Não que Berenice não quisesse a presença do pai em suas brincadeiras, porém, a sua vontade de livrar-se do bicho era maior naquele momento.
- Ora Berenice, por que tanto desprezo por um bichinho que não faz mal algum e ainda lhe prestaria a ensinar-lhe grandes lições.
- Me ensinar algo? Esse bicho só rasteja. Nem mesmo uma lição me ensinaria, imagine então grandes lições. Mas se é assim, vamos ver se realmente ela me responderá a tantas perguntas que tenho, he he he.
- Venha! Vamos visitar aquela simples lagarta em nosso jardim. Talvez ela queira nos falar algo.
- He he he. Berenice agora esquecia até um tanto sua aversão pelo bicho em seu jardim enquanto sorria do jeito engraçado que seu pai tratava a presença da tal lagarta em seu jardim.
- Saiba que sou fã das lagartas minha filha.
- Pai!!! Exclamou Berenice. Ela era uma garota muito esperta, tinha apenas dez anos, mas já orgulhava seu pai por demonstrar interesse em tudo que a fizesse conhecer mais o mundo, as coisas, e a si mesma (parece brincadeira, mas ela era bem assim, inocente em tantas coisas, mas surpreendentemente esperta em tantas outras).
- Aqui estamos! Exclamou o pai, olhando em volta, logo procurou algo que o ajudasse a desenvolver seus argumentos diante de tantos questionamentos que naturalmente surgem nas cabeças dessas crianças de hoje em dia.
O pai logo viu um grande zangão, viu também uma linda aranha em sua teia. Mas Berenice parecia não se incomodar muito com a presença de outros bichos ali.
- Pai pai! Ali está ela, a lagarta.
- Se queres que ela hoje te ensine, então vamos observá-la e ao jardim também. Assim como tudo que vive aqui. Berenice achava aquilo muito engraçado. Aliás, ela sempre achava as coisas que seu pai falava muito engraçado.
- Ela não sabe nada sobre o nosso mundo pai...oh bichinha...
- He he he. Nem comecei a entrar na conversa e vocês já estão simpatizando uma com a outra. Sorrira bastante os dois, pai e filha.
Buscou seu pai achar uma borboleta no alto de uma roseira, e não foi mal sucedido.
- Olhe filha! Que linda borboleta.
- Que linda borboleta pai! Suas asas são amarelas, minha cor preferida, e olha só como ela pousada bate as asas bem devagar. Olha! Voou pai, ela é linda voando, é amarela. Pega ela pra mim pai?!
- Filha, ela não é tão bonita livre? Não devo pegá-la, perderia a sua beleza.
- Não bateria suas asas tão forte não é pai?
- Isso mesmo filha.
- Acho as borboletas sempre tão bonitas pai, não importa o tempo, estão sempre com suas asas tão lindas, e são tantas as suas cores... azuis, amarelas... coloridas. Não quero jamais que elas sumam do nosso jardim.
- Também, nosso jardim é tão bonito não é mesmo filha? Por isso elas nos visitam. Se cuidarmos sempre do nosso jardim, elas vão preferir estar aqui.
- Mas olha pai! A grama não está tão bonita.
- É filha... mas as borboletas sabem que iremos cuidar do jardim para que elas continuem a nos visitar, elas vão sempre esperar o melhor de nós. Penso até que elas sabem que vamos fazer isto por que as queremos aqui, não sei como, mas penso que elas sabem.
- He he he, ah pai, é tão bonitinho quando o senhor se faz de bobinho só para me agradar. Claro que sei que elas não sabem de nada, elas fazem isso por que é coisa delas mesmo, elas se sentem felizes em ser assim, he he he.
- É verdade filha, elas são assim por que seguem sua essência, e penso que sabem que precisam que compreendam o seu jeito, o seu tempo, e a forma como vivem.
- É pai, a natureza é mesmo toda bonita.
- É filha a natureza é mesmo linda.
- Olha pai! A lagarta não está mais ali. Será que se escondeu de mim? Nem sinto mais tanto nojo dela, ela é feia, mas nosso jardim, às vezes também é feio.
- É filha, às vezes nosso jardim é bem feio, às vezes, nós também, por um tempo somos feios aos olhos de quem nos vê sem a paciência de esperar que estejamos bonitos, ou até mesmo que a nossa beleza seja aceita aos olhos de quem nos vê.
- Mas nosso jardim fica bonito pai, espero que a lagarta também, e espero que ela volte.
- Ela vai voltar, e muito mais bonita filha. E vai encontrar nosso jardim muito bonito também. Nesse momento os dois sorriram, pai e filha, parecendo entenderem cada dilema da lagarta.