O COELHO A ONÇA E O MACACO

 

               Certa vez, o coelho pegou uma posta com o macaco e lhe disse ao se encontrar com o chimpanzé:

           - Quer apostar amigo macaco como eu monto na onça, boto espora, bride e vou à festa montado nela? O macaco, então, lhe respondeu:

           - Essa eu pago pra ver, amigo coelho! Eu lhe dou um cesto de cenoura gigante, se você fizer isso! Acho mesmo que vosssa mercê quer ser comida de onça, pois, essa é uma idéia suicida.    

             Mais tarde passa a onça no covil da lebre e a convida para a festa da bicharada:

       - Amigo coelho, vamos pra festa de todos os bichos da floresta? Disse a onça toda contente.

             O coelho, manhoso, alegou que não podia ir e disse para a amiga onça:

            - Não posso, não, amiga onça; estou muito doente para caminhar, mas se você me deixar montar nas suas costas? Eu vou!

 

            E de tanto o coelho insistiu em montar nas costas dela a onça acabou aceitando. Disse a onça para si mesma:

          - O coelho é leve! Acho que não deve ser coisa demais, não! Além do mais eu quero que vá a essa festa, pois, na volta ele será o meu almoço!  

            Aí o coelho começou a fazer exigências:

          - Então, me deixaeu botar um bichinho nas suas costas.

          - Ah! Já quer me botar sela? Ta bom, eu deixo.

          - Agora, me deixa eu botar um bichinho na sua boca.

          - Ah! Já quer me botar brida pra tirar tirão? Ta bom, eu deixo.

          - Agora, me deixa eu botar aquele bichinho no meu pé.

          - Ah! Já quer botar espora? Ta bom, eu deixo.

          - Agora, me deixa eu pegar aquele bichinho que bate nas costas.

          - Ah! Já quer me usar o chicote?

           A onça refugou:

         - Mas isso já é demais? Amigo, coelho! Em todo caso, depois eu como o bichinho e mato a minha fome. E disse para o coelho:

          - Tá bom, eu deixo!

          E lá se foi o coelho se mandando para a festa, encalçando a espora na onça.

 

         Quanto mais ela pulava mais o coelho descia-lhe o chicote no lombo. Quando chegaram, a onça já estava virada no bicho. O coelho desceu e a amarrou no mourão. O malandro entrou no salão e sambou a noite toda. Depois comeu um grande pedaço de cenoura e atirou as cascas para a onça, que, arrretada pelo vexame, começou a chamar:

         - Vem logo, amigo coelho!

         - Vou hoje, vou amanhã! Vou hoje, vou amanhã!

 

      Quando o coelho resolveu ir, o dia já estava amanhecendo. Então, ele chamou os outros bichos e lhes disse:

         - Venha bicharada, me ver arrear a onça e montar nela?

        Depois, montou e saiu em disparada tão rápido que bateu num galho de pau, caindo coelho pra um lado, sela pra outro, deixando a onça livre. A onça, então, arretada da vida o ameaçou:

       - Vou te esperar na cacimba de beber água, amigo coelho. Dessa você não me escapa! E lá se foi vigiar a beirada da fonte.

 

      Passou um tempo e o coelho ficou morto de sede, mas não ousava se aproximar do poço com medo da onça se vingar da desfeita. Aí o coelho viu um tropeiro que conduzia uma tropa de burros com carga de mel e pulou no vaso de melaço e se jogou nas folhas secas da mata. Depois se encaminhou para a cacimba e foi beber água a vontade. A onça ao ver aquele bicho esquisito todo enrolado de folhas lhe disse:

       - Amigo folhais, que tanto comeste? Que tanto bebeste?

       E o coelho permaneceu calado. A onça novamente lhe perguntou:

       - Amigo folhais, que tanto comeste? Que tanto bebeste?

      E o danando do coelho ficou em silêncio... Até que percebeu que as folhas secas estavam saindo do corpo e ele acelerou aos passos. Depois de beber muita água, correu adiante bem longe e disse pra onça:

       - Viu sua besta! Amigo “folhais” era eu amigo coelho!

 

        “Entrou por um pé de pato

         E saiu por um pé de pinto. 

         Manda o rei, meu senhor,

         Que me conte mais cinco”!       

Birck Junior
Enviado por Birck Junior em 11/10/2022
Reeditado em 11/10/2022
Código do texto: T7625463
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