A galinha Cleude
Há dias Aninha pedia um daqueles pintinhos de feira para sua mãe.
Dona Jú, sempre mudava de assunto quando precisava passar com a filha pela venda de seu Pedro, da casa de ração e pequenas aves.
Porém, certo dia, a volta da escola foi com seu padrinho, e esse que não lhe negaria a "lua" caso pedisse, desceu do carro e após alguns instantes voltou com uma caixinha cheia de pequenos furos nas laterais de onde ouvia-se um piu-piu danado!
O piado vindo da caixa encheu aqueles olhinhos de alegria.
-Você comprou! gritava a criança que sorria e apertava a caixa entre os braços.
No percurso para casa, o padrinho que também era irmão de sua mãe, deixava claro entre outras coisas que, ela iria alimentar e limpar qualquer sujeira da pequena ave; porém, naquele instante na cabecinha de Ana apenas o piado do pintinho se fazia entender.
Em casa, passado o choque da mãe com aquele presente inusitado, os dias da menina eram a ida à escola e brincar com o mais novo morador.
Eis que um dia Ana decidiu que era chegada hora de dar um nome ao pintinho.
Todos entraram na brincadeira e deram sugestão: amarelinho, ziziu, peninha, mas ela já havia decidido; sim, o pintinho já tinha um nome - Cleude.
-Mas filha, não sabemos se é menina,
não - disse a mãe.
A garotinha de 5 anos, com ar de quem sabia tudo disse:
A vovó falou; "Ana, puxa o rabinho do bicho 3 vezes, se balançar depois, pronto, é menina".
Foi aí que a mãe olhou para suas mãozinhas e viu que estavam cheias de penugem.
- Menina, você quase depena o pobre do pinto.
Ana retrucou:Cleude, mamãe, é Cleude!
Não demorou muito e Cleude já estava pela casa, apenas na hora de dormir seguia sozinha para a caixa, (a quinta) desde sua chegada.
Certo dia a noitinha, dona Jú colocou uma ratoeira na tentativa de pegar uma "catita" e esqueceu de desarmar pela manhã.
Só lembrou com o piado do bicho, todos correram para área externa da casa, e lá estava a Cleude com o pezinho preso.
Ana, num berreiro sem fim, com lágrimas cobrindo por toda face dizia entre soluços: ela morreu? A Cleude morreu?
Só um susto! Mas a pequena ave passou a mancar pela casa, o que provocava risos nos demais , até Ana olhar com ar de reprovação.
Passados então 8 meses, Cleude já não parava quieta, não crescera muito, mas já dominava o pedaço; era do quintal para área de serviço e onde demorava deixava seus "pacotinhos" para serem apanhados por qualquer um da casa, menos por sua dona, esta fingia não ouvir ou vê.
A vizinha certa vez encontrou dona Jú no portão e já foi contando:
-Eita, Jú, mas essa Cleude te dar é trabalho, hem! Só escuto daqui de casa você mandar ela se aquietar, parar de bagunçar, pular. É parente que veio para ficar é?
Dona Ana começando a rir falou: Sara, Cleude é uma galinha que Ana cria.
-Valha, Senhor! espantou-se a mulher, lavando as mãos à face, pois a agente de saúde passou ontem à tarde e quando perguntou se vocês tavam em casa, eu disse que não; mas que podia bater no portão que havia uma Cleude lá dentro.
Ela tocou a campainha e bateu tanto nesse portão chamando Cleude! Cleude! Mas nada de vir abrir, então ela notou o nome da Cleude na sua ficha e disse que voltaria para cadastrar depois.
Dona Jú começou a rir sem parar.
Sara, minha amiga, se outra vez chegar alguém aqui e nós não estivermos, diga que volte outra hora, para evitar confusão maior, tá? Disse dona Jú tentando controlar o riso.
Nesse instante Ana veio ao encontro das duas com um papel e caneta na mão.
-Pronto mamãe, a lista tá pronta.
Lista? Que lista, menina?
-Do aniversário da Cleude, oras. E completou: mamãe pode ser da galinha pintadinha, pode?
A mãe olhou para menina e depois para vizinha.
- Viu, Sara, agora vamos ter até aniversário de galinha!
Dona Jú disse até mais para a amiga, e levou a filha pela mão. Antes de entrarem,
Ana olhou para trás e gritou: Eiii, tia Sara, o aniversário é da Cleude, mas pode trazer o presente pra mim mesma, tá!