ERA DE MANHÃZINHA

E lá vem Coelho de Bota roçando o capim com as canelas tortas, na cabeça o chapéu de palha, camisa xadrez de cor escura abotoada até na goela, no ombro a enxada, na boca o seu fiel charuto que nunca largava e quando não estava na boca estava

guardado na orelha.

Ao chegar à porta era sempre assim o velho Leonel sentado na varanda deitado na rede ou sentado na janela como ele gostava muito, Coelho de Bota colocava a enxada no chão e dizia:

- Bom dia compadre eu já estou indo pra luta, donde começo a limpar a terra, lá naquele lado do curral tá mais precisando o mata-pasto cresceu tanto que engoliu o caminho, até o gado se tropeça, mas o capim tá rasteiro precisa ter cuidado para só bater

a enxada na raiz da praga do mato. E continuava destrambelhado a falar com sua voz rouca e pigarreando efeito do cigarro, o corpo atarracado com aquela cor de jambo e olhos claros, mas antes compadre vou ver a comadre e tomar um cafezinho pra forrar o estômago e seguia em direção a cozinha.

E logo volta da cozinha a caneca de café com leite fumegando numa mão e na outra um belo pedaço de bolo, senta ali no chão alto da varanda e começa a engolir com ansiedade como era seu costume comer com a maior gula, os farelos iam caindo enquanto os pintinhos ficavam beliscando, mesmo com a boca cheia ele continuava tagarelando falava de tudo que encontrou pelo caminho.

Depois de comer até se estufar a barriga, acendia um cigarro dava uma tragada, O café termina, as horas passavam o sol muito quente e nada dele se manifestar em ir para o seu trabalho. Para tapear a sua preguiça colocava a enxada no ombro e seguia depois de outra parada para conversar. O velho Leonel patrão de Coelho de Bota nem tempo tinha de responder diante atropelamento da conversa dele perdia a paciência e dizia:

- Todos os dias é assim você chega e fica amassando o tempo, daqui a pouco já quer voltar reclamando do sol quente e porque não pega no serviço ainda cedo?

Coelho de Bota concordava, mas antes dizia:

- Vou até a cozinha acender meu cigarro e já vou pra lida.

E era assim todos os dias. O tempo passava e nada mudava.

Autoria- Irá Rodrigues

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