As formigas e o tédio

As formigas estavam exaustas, magrelas e queimadas do sol. Esse verão havia sido diferente dos outros. Longo, seco, e a comida não se achava com a mesma facilidade de antes. O que se traduziu em mais trabalho. Surgiu um debate entre elas, se no próximo ano, deveriam procurar um novo local de colheita.

Por meses, estocaram comida, aguardando a chegada do inverno. Havia um medo no ar e nos bochichos. – “Será que esse inverno também seria diferente dos outros como fora a estação passada”? As mais sábias e experientes não estocaram apenas o que comer, mas também, saches de chá, revistas antigas, meias de crochê e lenha; para os dias congelantes que estavam por vir. – “The winter is coming”!!! repetiam todas elas, esbaforidas.

Passado algum tempo, as folhas começavam a cair dos galhos. As nuvens densas, antes vistas somente sobre a colina, agora estavam sobre suas cabeças. Ou melhor, sobre suas casas. A temperatura estava caindo e já era possível ver formigas perambulando com seus gorros e cachecóis por entre as folhas e raízes.

Por fim, a última delas entrou no buraco e trancou a porta. Que só havia trinco pelo lado de dentro. Eram comuns os pedidos de ajuda durante o inverno. Tarde demais, pensavam.

Todas ao redor da fogueira, contavam suas histórias e estórias. Enquanto os gafanhotos desajuizados tremiam de frio e tédio no buraco ao lado.