O HEROÍSMO DAS FORMIGAS CORTADEIRAS

A vida selvagem na floresta durante muitos anos foi de plena harmonia entre fauna e flora. Os rios correntes de águas límpidas, entre retas e curvas, seguem seu curso normal, passando calmamente entre a densa mata.

Embaixo de um enorme Angelim-pedra, árvore da floresta Amazônica, as formigas cortadeiras construíram estrategicamente seu formigueiro numa pequena elevação do terreno.

As colônias de formigas levavam uma vida tranquila e nunca haviam sido incomodadas por seres estranhos ao habitat na floresta. Muito organizadas, dividem suas tarefas diárias e vivem harmoniosamente com os outros animais.

Certo dia, o ruído de motosserras, o toc toc de machados no tronco das árvores e o ronco dos tratores arrastando correntes, ecoaram pela imensa floresta. O barulho de árvores sendo derrubadas, assustaram os animais que passavam correndo desesperados. A gritaria dos macacos fugindo pela copa das árvores e os pássaros voado a esmo, todos a procura de um abrigo seguro.

A fuga desesperada dos animais, entre cantos e gritos desafinados, numa corrida alucinada, além de ser uma tentativa de salvarem suas vidas, era também, um claro pedido de socorro.

Durante muitos dias o barulho continuou e cada vez mais se aproximava do formigueiro. Pressentindo o perigo, a formiga rainha reuniu a colônia e decidiu que um grupo das forrageiras – estas encarregadas do corte e transporte das folhas até o ninho, para as operárias generalistas limpar e preparar os fragmentos vegetais para o cultivo do fungo, que era alimento de toda colônia - iriam até o local de onde ouviam além do barulho de motores, também o relincho de cavalos e mugidos de bois e vagas, para verificarem o que estava acontecendo. A verdade, é que a paz na floresta, não mais existia.

As forrageiras viram do alto de uma seringueira o tamanho da devastação. Enormes campos cultivados com capim para alimentar o gado na fazenda. A mata nas margens dos rios foi derrubada e suas águas começaram a ser poluídas com agrotóxicos usados nos plantios da fazenda. As formigas voltaram desoladas para a colônia e noutra reunião decidiram que tinham de tomar alguma atitude ou ir embora dali. E a decisão de resistir aquela devastação foi tomada. As formigas fizeram visitas a outras colônias de cortadeiras na vizinhança, relataram o que estava acontecendo e os detalhes do plano, que todas juntas iriam pôr em ação.

Esperaram o início da noite e saíram todas juntas, era um exército com milhões de cortadeiras, determinadas a salvarem a vida na floresta. O trabalho entrou noite a dentro e ao amanhecer o que se via, eram os extensos campos cultivados com capim, agora completamente limpos. As formigas haviam cortado todo o capim, que era alimento do gado e de outros animais na fazenda. Num esforço coletivo, carregaram todo capim cortado para suas colônias e o usariam para produção de fungos, seu alimento favorito.

No dia seguinte, com os primeiros raios de sol, o pessoal da fazenda viu os campos sem nenhum capim e o gado mugindo com fome. Logo perceberam o que havia acontecido e sem nenhuma outra alternativa para alimentar o gado, resolveu ir embora para bem distante da floresta.

As colônias de formigas cortadeiras, tinham folhas guardadas em estoque para produzir seu alimento, em suas câmaras subterrâneas, suficiente para passarem todo o período de estação chuvosa.

Henrique Rodrigues Inhuma PI
Enviado por Henrique Rodrigues Inhuma PI em 21/11/2021
Reeditado em 21/11/2021
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