QUARENTENA LÁ EM CASA

Olá pessoal, o meu nome é Bono. Eu sou um cachorrão da raça pinscher. Na verdade, sou o pinscher mais querido, doce, amado e lindo que existe no mundo. Sim, eu também sou bem modesto. Atualmente, sou o dono de dois humanos, o meu pai e a minha mãe. Eles até se esforçam bastante para fazer tudo o que eu quero. Eles me dão comida, petiscos, brinquedos, passeios, cama com edredom, mais petiscos, mais brinquedos, mais passeios, e por aí vai. Eles são uns queridos, mas para mim, ninguém é 100%. Ainda mais os humanos.

Às vezes, tenho que dar umas broncas, resmungando perto deles para que eles entendam que estou precisando “urgente” de alguma coisa. Os meus humanos não são perfeitos, mas eu até gosto deles. Há alguns meses atrás, começaram com um papo estranho de pandemia, isolamento social e quarentena. Não entendi muito bem o que era isso, mas só sei que para mim, tem sido ótimo. Pois antes disso, meus humanos eram um tanto insensíveis e frequentemente saíam de casa, me deixando sozinho. Agora, meus humanos estão 24 horas por dia em casa; e o que é melhor, à minha disposição. É tudo que eu sempre sonhei. Eu mando e eles obedecem. Acho que entenderam quem dá as ordens aqui em casa.

Com essa maravilha que é ter todo mundo em casa na tal quarentena, resolvi escrever uma espécie de diário canino, ou as “Reflexões de um Pet”, como eu prefiro chamar. Eu estou vivendo uma fase que estou classificando como o “momento dourado da minha vida”. Nesses dias de pandemia, tenho dormido como se não houvesse amanhã, sabendo que, quando acordar eu terei os meus humanos prontos para me servir. É o sonho de todos os bichinhos de estimação do mundo. Comer, dormir, passear, brincar e comer mais um pouco.

Geralmente os meus humanos me chamam para comer e passear, pois eu os treinei muito bem. Só não consegui ainda extinguir essa mania rebelde que eles têm de me dar banho, me levar ao terrível Pet Shop para cortar as minhas unhas ou pior ainda, levar-me aos veterinários psicopatas, pois eu sei que esses “doutores” desejam loucamente me estraçalhar só porque fiquei com uma simples dor de barriga, diarreia ou vomitei no tapete. Para mim, eles são cientistas malucos do mal. Essas indisciplinas humanas são a parte chata da tal quarentena. Pretendo corrigir essas falhas em breve.

Para evitar mais confusão e rebeldias dos meus humanos, procuro agir como um cão educado e quando estou apurado, eu faço as minhas necessidades fisiológicas no box do banheiro do apartamento. É mais fácil para eles limparem minha sujeirinha. Eles ainda comentam que acham meu comportamento fofinho. Os humanos são bem esquisitos. Segundo eu tenho me informado com os pets da vizinhança, praticamente todos os bichinhos de estimação do bairro estão fazendo a festa com a atual situação de isolamento social. A bicharada está passando a maior parte do tempo em casa; só comendo, dormindo e brincando.

Por outro lado, a tal pandemia, juntamente com a tal quarentena, não afetou nem um pouco os meus maiores inimigos irritantes e perigosamente mortais: as formigas, as moscas e as corujas buraqueiras. Todas elas sempre me perseguem e me atacam, me deixando muito irritado. Se eu pudesse, expulsaria essas criaturas do planeta. Os humanos já deveriam ter feito isso para mim. É nessas horas que eu penso em criar a minha própria “Cãorentena”, para evitar o contato com essas aberrações.

Meus inimigos são criaturas extremamente intolerantes; principalmente com nós cachorros. A coruja buraqueira, por exemplo, sempre me ataca quando vou fazer xixi perto de onde ela mora. Ela vem em minha direção gritando como uma louca em voos rasantes e já cravou as garras nas minhas costas; e doeu. As moscas ficam voando perto da minha comida, querendo me roubar; isso é inadmissível. E as formigas, sempre mordem os meus pés, só porque eu piso no formigueiro sem querer. Os bichos pequenos não respeitam mais os bichos grandes; pelo menos eu sou maior do que eles. Isso é humilhante.

Não quero parecer um cachorro revoltado, mas a minha ideia é afugentar as formigas, moscas e as corujas buraqueiras. Tenho espalhado uma fake news pelo bairro, dizendo que está circulando um vírus terrível chamado Cãorona Vírus; uma Cãodemia. Estou “ventilando” por aí que, o tal vírus extermina qualquer bicho que não goste de cachorros. Eu sei, sou muito criativo, mas precisei tomar essa atitude drástica com relação aos meus inimigos. Foram eles que pediram. Pois eles me provocam, não me levam a sério, e quando eles têm a chance, me atacam. E eu detesto violência; o meu negócio é paz e amor.

Uma coisa é certa, essa tal pandemia que infectou o mundo inteiro mexeu não só com a vida dos humanos, mas também com a vida de todos os animais. Sei que alguns até se deram bem, mas muitos outros andam sofrendo, por motivos diversos. A verdade é que, de todo o meu “enorme” coração, eu espero que tudo volte ao normal o quanto antes; se é que isso será possível. Hoje, o meu maior desejo é que todos vivam em harmonia no Planeta Terra; humanos e animais... Menos as formigas, moscas e as corujas buraqueiras.

Adriano Besen
Enviado por Adriano Besen em 09/11/2021
Código do texto: T7381784
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.