EM QUE INVESTIR, VICENTE?

Vicente está muito contente, pois ganhou sua primeira moedinha.

Quer dizer, é a primeira moeda que recebe por seu trabalho. Antes disso, já havia recebido várias moedas dos pais e dos avós.

Dessa vez, foi diferente. Ele ajudou um vizinho a limpar o jardim. Varreu e juntou folhas secas, removeu flores mortas, regou as plantas com capricho.

Satisfeito com a ajuda do menino, o vizinho recompensou-o com uma linda moeda, de valor superior às guardadas no cofre, em casa.

Vicente caminha pela rua, a pensar no que fazer. Não sabe bem o que poderia comprar. O garoto adora sorvetes e doces. Também gosta de ler gibis.

Na sorveteria Rosário, anunciam um novo sabor, que deve ser delicioso.

Ao passar pela banca de jornais e revistas do “seu” Nicanor, Vicente vê que já se encontram à venda os dois últimos números de algumas de suas histórias favoritas, o Mágico de Ibitinema e o Aventureiro da Amazônia.

O guri fica indeciso entre tanta opção boa.

Reflete, no entanto, que, se experimentar o sorvete, ou comprar uma das revistas, gastará de imediato sua preciosa moeda.

Lembra-se do que ouve seus pais dizerem com freqüência: “é importante poupar e investir seu dinheiro”. Poupar, ele até já faz. Por isso mesmo, tem várias moedas guardadas em casa.

Investir? Ele nunca havia pensado nisso mais seriamente. Agora, de posse daquela bela moeda, talvez seja chegado o momento.

Como o pai e a mãe estão no trabalho, resta ao menino buscar o conselho de alguém mais.

Naquela esquina, fica um banco em cuja porta de vidro se pode ler a lista de serviços prestados. Logo abaixo de contas correntes e poupanças, figura a palavra investimentos. Perfeito, imagina o garoto.

Sem hesitar, entra no recinto e pede à moça da entrada que o deixe falar com o gerente. Ela sorri e o conduz à sala de seu colega. Vicente mostra a moeda e explica sua intenção de investir aquele valor. Só não sabe em quê.

De forma polida e simpática, o gerente elogia o propósito do menino, mas esclarece que o banco apenas movimenta grandes somas. Não há investimento ou aplicação que se possa fazer com uma simples moeda.

Embora decepcionado, Vicente agradece a atenção recebida e volta à rua, sem se dar por vencido.

“Hei de encontrar uma saída”, raciocina ele, enquanto examina tudo à sua volta, na esperança de ter boas ideias.

Pessoas e veículos diversos vêm e vão. Entregadores cruzam com ele, em motos ou de bicicletas. Lojas de animais de estimação sempre pedem uma parada para ver os bichinhos. Cinemas, livrarias e galerias de arte inspiram e atraem a gente. Parques também favorecem os passeios da mente e do coração.

O dia avança, todavia, sem que o garoto descubra em que investir. A bem da verdade, a única ideia que agora lhe ocorre é de comer algo, pois começa a sentir fome de tanto andar.

Por saber-se próximo da confeitaria do “seu” João, Vicente cede ao desejo de saborear um dos deliciosos bolinhos de fubá ali vendidos.

Ao chegar ao local, observa a presença de três crianças a olhar a vitrina. Reparando melhor, percebe que elas parecem maltrapilhas. Certamente devem ser pobres, com vontade, mas sem meios de comer as delícias expostas na confeitaria.

Quem sabe a moedinha que ganhou baste para atender à fome de todos? Vicente hesita por uns instantes. E se forem pivetes perversos, capazes de roubá-lo?

Nesse momento, seu olhar cruza com os da menina e dos dois guris que a acompanham. Neles não enxerga maldade, tão-somente a procura de carinho e solidariedade.

Não tem mais dúvida. Entra na loja e pergunta a “seu” João quantos bolinhos sua moeda pode comprar.

O dono da confeitaria, que já notara as crianças do lado de fora, logo entende a situação e responde: “ora, veja só que coincidência! Esses bolinhos estão em promoção e, com sua moeda, você poderá comprar o pacote com quatro deles”.

Radiante com a resposta, Vicente paga os bolinhos e sai com eles, para dividir com o trio diante da vitrina. Que deliciosa cena! Quanta alegria um mero bocado é capaz de provocar.

O pequeno benfeitor sente-se muito feliz. Conclui que investir naquelas crianças terá sido a melhor ideia que lhe veio.

De dentro da confeitaria, “seu” João emociona-se com a alegria dos garotos. Quando viu os três pobrezinhos a olhar com gula para sua vitrina, imediatamente separou três bolinhos para dar-lhes.

O bondoso gesto de Vicente, que também queria ajudar os pequenos, inspirou o dono da loja a colocar o quarto bolinho no pacote “em promoção”. Assim, todos ficariam satisfeitos, como de fato ficaram.

A bondade é, realmente, o melhor investimento. Cresce, multiplica-se e gratifica quem nela investe.

Agosto 2021.

Outros contos infantis do autor em

JAX, Para um Menino, Nada é Difícil?

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