Chapeuzinho Vermelho na Versão do Caçador

Há certos episódios na vida da gente que não esquecemos nunca. De vez em quando eu saio pra caçar, gosto muito de fazer isso! Como todos devem saber, eu sou um caçador. E o caçador tem sua rotina... Certo dia quando eu estava indo à floresta caçar, parei em baixo de uma arvore que tem bem na entrada da floresta, essa fica quase em frente à casa da menina conhecida como Chapeuzinho Vermelho, vi o exato momento em que sua mãe entregava em suas mãos uma cesta com vários tipos de bolo e doces, para que ela levasse para sua vó. Ouvi quando ela disse: “Leve esses doces para vovó minha filha”. E aproveitando o ensejo, já foi fazendo varias recomendações à menina, tipo: Procure ir pela estrada que costumamos andar, pois por ela não há risco de você se perder; não se detenha para observar nada, nem para brincar; não fale com estranhos, isso é muito perigoso; não colha pra comer, frutos que você não conhece; e fique muito atenta, pois o Lobo Mau pode está por perto.

Deu para eu ouvir tudo, embora de longe, instruiu direitinha a menina, a jovem senhora, aliás, que senhora!... Sua beleza soltava aos olhos de qualquer homem de bom gosto. E aos meus então, olhos de militar e, caçador, com visão apurada; praticamente visão de raio x... mesmo de longe não escapou nada. Cheguei à conclusão de que ela era uma boa mãe. Muito boa!... Mãe é claro. Como já falei, eu estava um tanto afastado, acho que as duas nem notaram a minha presença, parei embaixo daquela arvore para arrumar os cartuchos de munição dentro do meu bornal, é que quando eu entro na floresta, entro preparado para qualquer eventualidade. Vi quando Chapeuzinho Vermelho, com sua cesta de doces à mão, adentrou a floresta, cantarolando feliz da vida; sua mãe, por sua vez, entrou a casa e fechou a porta. Eu ainda demorei um pouco ali, pois fui preparar um material que não havia dado tempo de preparar antes de sair de casa. É que caçador, que é caçador, sempre leva consigo uma tora de fumo de rolo e o seu cigarro de palha tudo certinho. É que além de precisar espantar os mosquitos, tem o lance do Caipora. Mas aí já é outra historia...

Um pouco depois peguei a estrada, tudo parecia normal, exceto pelo fato de que passei pela menina em um ponto da floresta e, essa estava colhendo flores. Ouvi perfeitamente quando sua mãe recomendou-a que não parasse na estrada, pra nada! O que eu não sabia era que a essas alturas o Lobo Mau, muito esperto, já havia se aproximando dela como quem não queria nada e com muita sutileza e malicia, havia induzido a menina a desobedecer a sua mãe. Sugeriu que ela deveria levar, além dos doces, flores para sua vó, pois isso a deixaria muito feliz; convenceu-a de que na próxima bifurcação que ela encontrasse, deveria pegar a estrada da esquerda, pois dessa forma chegaria mais depressa à casa de sua vó, porém, seria melhor que ele fosse à frente para avisar a vovó que sua neta estava chegando com aqueles presentes todos, pois como a vovó estava um pouco adoentada, não era bom pegá-la de surpresa. Que emoções fortes não fazem bem!... Fiquei sabendo disso só depois, mesmo por que naquele momento eu não podia me deter; adentrei a floresta, pois eu estava seguido às batidas de um veado, esse me fez rodear o lago das garças, o córrego dos lírios, o bosque dos coqueiros e por fim chegar à casa da vovó de Chapeuzinho que já ficava a beira do lago do Tuiuiú; não atirei nele, no veado, nesse trajeto todo por que a forma como ele agia, parecia que estava querendo me dizer alguma coisa e, estava!... O bicho fez de proposito aquele trajeto para me levar até lá, na casa da vovó. Eu já tinha passado outras vezes por perto daquela casa, era sempre tudo muito silencioso, nesse dia ouvi um barulho estranho, achei meio sinistro, isso fez com que eu me aproximasse para ver do que se tratava.

Você não faz ideia da cena que eu presenciei. Vindo de dentro da casa se ouvia Três sons distintos: Um tilintar de sonoridade suave seguido de um gemido longo, roco e com certo pesar; e outro mais lento, parecia expressar prazer! Sendo eu um caçador e eis combatente de guerra, ouvindo aquilo, não pensei duas vezes: Invadi a casa, já com a arma em punho, pronto para o combate, foi aí que me deparei com a cena mais hilária de toda a minha vida. A pedido da vovó, Chapeuzinho, com as duas mãos, tapava os olhos; o Lobo Mau, de joelhos no chão, o corpo encostado na cama, as mãos amarradas para trás e as calças arriadas; a vovó tinha á mão um chicote de couro de boi, com três pontas e em cada ponta uma bolinha de metal. Ela dava uma chicotada na traseira do Lobo, observava, como se tivesse analisando, o som do gemido dele e, se deliciava com aquilo. Agora visualiza a cena!... Fiquei paralisado por alguns minutos. É claro que também, me deliciando com aquela visão, a final de contas ele estava mesmo precisando de uma lição. Fui visto, pois não consegui me segurar. Quase tive crise de riso! Daí o Lobo Mau que já não parecia tão Mau assim, com a retaguarda em situação crítica, me pediu socorro e, eu me vi obrigado a ajuda-lo. É claro que eu não poderia ir embora dali sem antes saber o que realmente aconteceu para gerar toda aquela situação, foi aí que a Chapeuzinho me contou o que ocorreu na floresta e o restante da história a vovó me contou.

A vovó a pesar de já ter certa idade, era durona, se preocupava muito com a saúde e se cuidava! Por isso tinha o habito de todos os dias fazia caminhada pela floresta, nesse dia, durante a sua caminhada, ela viu tudo que o Lobo estava tramando; a vovó costumava fazer caminhada junto com o seu mascote, o veadinho que me fez segui-lo até chegar à casa da vovó, ele foi buscar ajuda e ela voltou correndo, para chegar a casa antes do Lobo Mau, chegando, trocou rápido suas roupas e se deitou. Só que se deitou em baixo da cama, sobre a cama ela colocou uma enorme boneca que ela tinha, a qual era a sua cara, acionou uma armadilha que ela já tinha preparada há dias e ficou no aguardo. Quando o Lobo bateu na porta fingindo ser a Chapeuzinho, ela o mandou entrar e continuou respondendo aos seus questionamentos de debaixo da cama, o que dava a impressão de ser ela quem estava na cama; o Lobo foi chegando, foi chegando e pluft pulou sobre a cama para devorar a vovó, essa por sua vez, disparou a armadilha que o prendeu; ela então o amarrou e deu-lhe uma lição.

Encantei-me com aquela vovó, ela me fez lembrar o meu pai, ele é assim como ela: cheio de vida, inteligente, astuto... E para minha sorte, ela também se encantou comigo, conversamos muito, daí ela me convidou para um almoço que iria ter na casa da filha, no dia seguinte, imediatamente eu aceitei o convite, é claro! Fui e levei o meu pai comigo. Não deu outra: Casei-me com a mãe de Chapeuzinho e o meu pai casou-se com a vovó. E fomos muito felizes!

Ah!... Só a titulo de esclarecimento. Essa história vem sendo contada há décadas para crianças do mundo todo, porém, do jeito que contam dar a entender que minha filhota, a Chapeuzinho, só tinha aquele capuz vermelho, mas não é bem assim. No dia desse episódio, por exemplo, ela estava com um lindo capuz verde, combinando com o pano verde, todo bordado que cobria a cestinha de doces. Eu até entendo que a chamem de acordo com a cor daquele que ela mais usava que é o vermelho, agora insinuarem que minha menina só tinha um, isso não! Como pai, eu tenho a obrigação de defendê-la. Outra coisa: Eu não abri a barriga do Lobo!