O Desaparecimento do Contador de Estórias

- O Belisário sumiu! - gritou Joaquim Espalha-Brasa, o menino mais peralta da cidade, o mais peralta e o mais mentiroso. Ninguém acreditou nele, mas desta vez ele dizia a verdade. Belisário, o contador de estórias, havia desaparecido.

Todos os dias, às cinco horas da tarde, Belisário ia à Praça Central, onde crianças, jovens, adultos e velhos o ouviam contar estórias maravilhosas que apenas ele sabia contar. Mas neste dia ele não tinha, às cinco horas da tarde, ido à Praça Central. O que lhe havia acontecido?

- O Belisário nunca se atrasou - comentou um morador, que nunca deixava de ouvir Belisário contar estórias magníficas.

Ninguém soube explicar o sumiço de Belisário. Todos voltaram a atenção para a maior autoridade da cidade: o prefeito Raimundo, que se viu em apuros, pois não soube explicar o atraso de Belisário.

- Que raio de prefeito você é, Raimundo? - reclamou Godofredo, o farmacêutico, o homem mais ranzinza da cidade.

- Não falte com o respeito, doutor - retrucou Raimundo, o prefeito, contrariado e irritado. - Não me venha com desaforos. Sou o prefeito. Não sei de tudo, ora bolas! Se querem saber o que aconteceu com o Belisário, perguntem ao Leonardo, do jornal. Ele está sempre por dentro das notícias.

E todos foram ter com Leonardo, o jornalista.

Leonardo não soube dizer porque Belisário não havia ido à Praça Central.

- Desta vez, o Joaquim Espalha-Brasa disse a verdade - disse um morador. - Milagre. Hoje São Pedro nos mandará uma tempestade daquelas.

Passaram-se as horas. O relógio marcou oito horas da noite. As pessoas, desanimadas e entristecidas, até então aglomeradas na Praça Central, foram embora, cabisbaixas. Iriam dormir sem ouvir nenhuma estória de Belisário, o contador de estórias.

Ninguém dormiu naquela noite. Ninguém. Todos passaram a noite em claro, se perguntando porque Belisário, o contador de estórias, não tinha ido à Praça Central.

Na manhã seguinte, o desaparecimento de Belisário foi o assunto de todas as conversas. Ninguém quis saber de futebol, nem de novelas, tampouco de desenhos animados; ninguém quis saber de outro assunto que não fosse o desaparecimento de Belisário, o contador de estórias.

Os moradores da cidade iam à Praça Central, todos os dias, às cinco horas da tarde. E Belisário não aparecia.

Passaram-se os dias. E Belisário não aparecia. O que havia acontecido com Belisário? O prefeito conversou com o delegado, que mandou os policiais procurarem por Belisário. Não o encontraram. E entristeciam-se todos os moradores, que iam, todos os dias, às cinco da tarde, à Praça Central, para ouvir Belisário contar-lhes fascinantes estórias, mas na praça ele não aparecia. Enfim, cansados, não foram mais à praça.

O que havia acontecido com Belisário, o contador de estórias? Ninguém sabia.

Sem as estórias que Belisário contava, entristeceram-se os moradores da cidade. As crianças, os jovens, os adultos e os velhos não conseguiam mais sonhar. À noite, todos dormiam, e ninguém sonhava. Perderam a vontade de trabalhar, e a de estudar. Até o apetite perderam. Todos viviam tristes porque não ouviam mais nenhuma estória encantada que apenas Belisário, o contador estórias, sabia contar.

Onde estava Belisário, o contador de estórias? Todos queriam saber.

Passaram-se os dias.

Passaram-se os meses.

- O Belisário voltou! O Belisário voltou! - gritou Joaquim Espalha-Brasa, animado, entusiasmado; ele pedalava a bicicleta velha, que ele chamava de Bike Magrela, com toda a força de seus pés. - O Belisário voltou!

- Joaquim, o Belisário voltou? - perguntou Godofredo, o farmacêutico, o homem mais ranzinza da cidade, sorrindo.

- O Belisário voltou! - berrou Joaquim. - O Belisário voltou, cambada! Vamos à praça!

E todos os moradores da cidade foram à Praça Central. Lá, sorridente, Belisário, o contador de estórias, contaria estórias fantásticas, que tinham heróis, dragões, frutos mágicos, cobras de gelo, passarinhos de quatro asas, mulheres de corpo de leoa, flechas enfeitiçadas, coroas de diamantes, castelos assombrados, gigantes, mulheres de cabelo de ouro, rios com peixes que falavam, árvores que voavam, crianças invisíveis.

Acercaram-se de Belisário, o contador de estórias, Raimundo, o prefeito; Godofredo, o farmacêutico; Leonardo, o jornalista, Joaquim Espalha-Brasa, o menino mais peralta, mais peralta e mais mentiroso da cidade; e todos os outros moradores da cidade. Ninguém perguntou-lhe por onde ele tinha andado durante todos aqueles meses. Todos queriam ouvir-lhe as estórias. E Belisário contou-lhes estórias maravilhosas.

Naquela noite, todos sonharam lindos sonhos.

No dia seguinte, às cinco horas da tarde, a Praça Central estava cheia de gente que foram ouvir Belisário, o contador de estórias, contar as mais belas estórias do mundo.

E a felicidade voltou à cidade. E os seus moradores trabalhavam e estudavam com mais vontade. E sonhavam belos sonhos, afinal Belisário, o contador de estórias, contava-lhes estórias belíssimas, fantásticas, as mais fascinantes estórias do mundo.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 10/12/2020
Código do texto: T7132090
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