Pequenas histórias 219
Criança diz cada coisa!
Vendo-o pequeno, estrutura óssea forte, pesando acima da altura, sem ser obeso, corria de um lado para o outro, na alegria infantil de cinco anos afligindo o avô que seguia o neto com medo de que caísse.
- João, não corra você está de meia vai cair.
No entanto o neto nem ouvia.
- Mas vô, preciso pegar o Saci, não posso deixar ele por aí, né.
Com a garrafa de Guaraná vazia, como louco, quase batendo a cabeça na quina da mesa, lá foi ele para o quintal. Atrás dele, o avô.
- João, espera...
- Vô, não posso esperar.
- Tá bem, João, o vô vai tomar a cerveja.
E entrou na cozinha. Dali a pouco, todo contente, com a garrafa tampada, exultante, falou para o avô.
- Veja. Peguei o Saci.
Erguendo a garrafa vazia para o vô ver.
- Onde, João. Não estou vendo nada, a garrafa está vazia.
- O senhor não entende mesmo de Saci, né vô.
O avô olhou assim como dizendo: o que esse menino está aprontando.
- É claro que o senhor não vê, ele está invisível.
- Invisível João!
- É, vô, invisível.
- E quando que a gente pode ver ele, João.
- Só quando a gente estiver na modorra, vô, aí a gente vê o Saci.
- Modorra João?
- É, vô. Não sabe o que é modorra?
- Não, João, o que é?
- É quando a gente está sonolento, vô.
- Tá certo, João. Deixe o vô tomar a cerveja sossegado, vai brincar.
O neto saiu correndo mostrar para o pessoal o Saci invisível enquanto o vô, coçando os poucos cabelos, voltou sua atenção para a cerveja que tomava.
Modorra: - prostração mórbida ou sonolência em que caem certos doentes. Moleza, preguiça, soneira, sonolência.