REMINISCÊNCIA
Para o ser humano a pobreza é uma companhia indesejável e muito entristecedora. Ela distancia e dificulta as aspirações mais elementares que fluem na cabeça de uma pessoa, principalmente na de uma criança que pensa e deseja para si apenas um brinquedo, o quê, para muitos é uma futilidade; um desvalor, mas, para si, é inalcançável.
Lembro, com grande tristeza, que vivi minha infância numa semelhante situação. Nunca tive o prazer de ter um brinquedo desejado, tal como uma simples bola, um carrinho de rolimã, um caminhãozinho, um pião, um velocípede ou outro qualquer. Com o rigor da pobreza o meu único brinquedo era uma varinha na qual eu montava e, cheio de contentamento, corria incansado pelas estradas e ruas do lugar. Era o meu cavalo-de-pau.
Meu padrinho tinha uma venda onde ele vendia de tudo que a comunidade precisava e por isso ele era considerado rico. Como era costume do lugar, todo afilhado deveria ir na véspera de Natal pedir a bênção a seu padrinho, e eu fui. Depois da bênção ele me deu um presente. Sai de lá com um estridente apito na boca e a felicidade em êxtase. Foi este o meu melhor brinquedo de toda a minha infância e quando ele quebrou eu chorei.