Quem mexeu nas minhas coisas?

Um bando de piratas estava em alto-mar há muito tempo. Já tinham aportado em muitas ilhas e não haviam achado nenhum tesouro nem encontrado uma embarcação sequer para pilhar. O navio era comandado pelo Capitão Tormenta, um sujeito grandalhão e com voz de trovão.

Um dia o capitão irrompeu no convés enfurecido e esbravejou:

— Marujos, quem foi o intruso que entrou na minha cabine e mexeu nas minhas coisas?

Quase ao mesmo tempo todos responderam:

— Não fui eu, capitão!

E o capitão mais nervoso disse:

— Ora essa, seus marujos fedidos! Alguém andou mexendo no meu saco de moedas e quero saber quem foi!

Um após o outro todos negaram novamente. E Perna-fina, de todos o mais medroso, disse gaguejante:

— Ca-calma, ca-capitão. Deve haver algum engano. Todo mundo aqui sabe que é expressamente proibido entrar na sua cabine. Pode ser que esteja noutro...

— Nada disso, Perna-fina!—atalhou o capitão Tormenta com sangues nos olhos! —Não sou cabeça-oca como você! Sei muito bem onde guardo minhas coisas. Algum gatuno miserável andou bisbilhotando na minha cabine e pegou meu saco de moedas. Mas deixa estar!

E com cara de poucos amigos, o capitão voltou para sua cabine. Será que ele tinha colocado o seu saco de moedas em outro lugar? Achou melhor não pensar mais nisso e foi tirar uma soneca.

No outro dia o capitão saiu novamente no convés e trovejou:

— Com mil demônios! Quem pegou a minha luneta?

E o capitão teve de ouvir novamente o mesmo lenga-lenga:

— Não fui eu, capitão!

— Não fui eu, capitão!

— Não fui eu, capitão!

— Não fui eu, capitão...

E assim continuou. Depois foi as pílulas do Capitão e no outro dia ele reclamava que alguém tinha mexido em sua comida. Até que um dia sumiu o seu objeto mais precioso, o seu colar de pérolas.

Agora o capitão tinha perdido a sua paciência, agora aqueles marujos iam pagar. Pegou o seu chicote e saiu pelo navio gritando e estalando o chicote.

— Todos para o convés, malditos! Hoje eu descubro quem é que está roubando minhas coisas.

E quando todos estavam no convés, o capitão continuou.

— É o seguinte: tem alguém roubando as minhas coisas e hoje eu vou descobrir quem é. Hoje vamos usar aquela velha prancha que faz tempo que não usamos.

Ao ouvir isso todos tremeram de medo porque sabiam que o capitão não estava brincando.

— Pela última vez eu vou perguntar. Quem roubou as minhas coisas?

Ninguém confessou.

— Agora chega! O primeiro vai ser você, Perna-fina. Agora você vai me pagar o novo e o velho, seu verme.

E brandindo o chicote conduziu o marujo até a prancha.

— Não! Por favor, eu juro que não fui eu.

— Não quero saber, comece já a caminhar.

Tremendo e chorando, Perna-fina começou a caminhar sobre a prancha. No convés, os piratas olhavam-se uns para os outros na esperança de que alguém confessasse o seu crime e acabasse com aquele espetáculo lamentável, mas ninguém disse chus nem bus.

O capitão Tormenta continuava a estalar o seu chicote, gritando:

— Pule, maldito! Pule!

Quando o pobre marujo estava prestes a se jogar no mar, todos ouviram um som agudo vindo do alto. Os piratas esqueceram-se, por um momento, de Perna-fina e olharam para cima procurando a origem daquele som esquisito. De repente, viram um vulto se movendo rapidamente pulando de um cabo a outro. Vinha descendo e quando estava mais próximo, eles puderam perceber que era um pequeno macaco. Ele provavelmente tinha ficado escondido no cesto da gávea.

O macaquinho intruso agarrou-se ao mastro do navio e ficou olhando com curiosidade para os piratas. Eram mal-encarados e andrajosos, mas mesmo assim ele não se sentia intimidado na presença daquelas figuras sombrias.

Subitamente alguém gritou:

— É ele o ladrão, o macaquinho é o ladrão! Vejam! Ele está com o colar de pérolas do capitão.

E quando o macaquinho saiu detrás do mastro, todos puderam ver o colar de pérolas enrodilhado no pescoço dele.

O capitão Tormenta fulminou o macaquinho com o seu olhar de guerra, mas o bicho não ligou a mínima para isso. Desceu do mastro e caminhou pelo convés em direção ao capitão. Depois pulou no seu ombro, tirou o colar e colocou ao redor do pescoço do pirata. E lá ficou fazendo careta para os outros piratas.

Diante de tão audacioso gesto, o capitão Tormenta se rendeu. Como diz o ditado: "Se não pode vencer o inimigo, junte-se a ele". E o capitão já estava cansado de tudo aquilo. Deixou o macaco bisbilhoteiro ficar no seu ombro. E de lá ele nunca mais saiu.

Parafuso Solto
Enviado por Parafuso Solto em 07/09/2020
Reeditado em 26/11/2021
Código do texto: T7056861
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