O CARAMUJO

Para lá da casa amarela, num quintal florido e simpático, com arbustos dando leveza ao cenário; borboletas pairavam num balé suave em cima de azáleas e hibiscos vermelhos. Margaridas eram atrativos aos visitantes e moradores no fecundo jardim. Em tempos de floração, o quintal era um belo espetáculo de cor e vida. No meio de algumas árvores, um pessegueiro se erguia esguio e pomposo. Uma cerca de bambu adornava o lugar e dava um ar de cuidado e zelo para com o pequeno quintal.

Ali, quase que imperceptível, um caramujo se aventurava a subir pelo pessegueiro, com letargia e fazendo parte daquele cenário natural, apenas se esforçava em seu alpinismo pelo tronco do pessegueiro. O dia ensolarado de um verão amarelo e azul vai sendo convidativo a natureza expor sua beleza.

O caramujo segue lentamente, morosamente; vai arrastando sua conchinha e deixando na lasca da árvore sua marquinha. Indiferente ao olhar humano, que dele tem repulsa, vai formando com folhas, cascas, sol, dia, uma única visão...natureza vida.

Tarde quente, nuvens se formam no céu. De repente, ameaça chuva. Temporal à vista.

As folhas dos arbustos sacodem bravamente alertando a mudança no dia. As flores alegram-se com a previsão de chuva, depois de um mormaço que as deixou cabisbaixas.Alguns pássaros sobrevoam alvoraçados o local, dando o alarme de tempestade.

Vento sacode as roupas no varal. Pingos de chuva caem, carregados e pesados.

O caramujo se encolhe, estava ainda em meio a subida. A água vai lavando a relva, as flores sacolejam molhadas; a cerca de bambu se mantém ereta cercando o quintal. O pequeno caramujo se “cola” no casco do pé de pêssego; impõe força, resiste à valentia da chuva que banha o tronco marrom . Encaramujar-se é uma opção natural, para se manter fixo ao pé de pêssego, só que não...esforço inútil, é derrubado e, arrastado para a relva, sendo levado pela corrente de água que se forma no meio do quintal.

A chuva não cessa, prossegue.De um céu cinzento e trovejante, a chuva despenca, lavando o mundo; fazendo sulcos na terra; levando tudo, ciscos, palhas, folhas, dando assim seu espetáculo.

Fim de tarde, fim do temporal. Plantas estão revigoradas do calor, as flores que estavam sedentas, agora estão mais viçosas. Terra molhada. Relva encharcada. A cerca de bambu permanece intacta. O pessegueiro se mantém altivo e verdejante,e, em seu tronco marrom e úmido, nem sinal do pequeno visitante.

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Lia Fátima
Enviado por Lia Fátima em 05/09/2020
Reeditado em 23/12/2020
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