A casa de tia Marina
Em infância a casa da minha tia Marina era meu abrigo. Casinha pequena, parecia de boneca. Café quentinho saindo do fogão de carvão em tarde de dezembro a dezembro.
Li com meus olhos a vida de Tia Marina, Seu Expedito e suas filhas: Neve, Solange e Ivone.
Fui feliz sem ter notícias do que era felicidade. Era meu único passeio ir à casa de tia Marina.
Ver as meninas trançando punhos de rede para ganhar um dinheirinho. A sopinha quente de tia Marina, a luz de querosene, as redes ainda armadas no quarto das meninas e o penico cheio de xixi.
Ainda escuto nossos sorrisos baixinhos no sofá cheio de buracos.
Tia Marina passava a roupa da família com ferrinho de brasa. O banheiro ficava do lado de fora da casa. Água friazinha da jarra de barro em caneco de alumínio descia não para meu corpo, mas para minha alma. Eu sou aquela água.
Eu, Neves, Solange e Ivone a riscar terra em desenho de sol, chuva fazer parar.
Em dia de sábado elas me levavam à praia. Eu tinha um biquini amarelo lindo, e gostava de pisar na areia da praia. Quando Seu Expedito bebia cachaça ninguém saía para ver a noite. As casas fechavam portas e janelas.
Ele era o homem mais bravo do mundo, com seus quase dois metros de altura parecia um gigante em fúria. Brigava até com quem não via. Sua faca peixeira queria fazer justiça nunca se soube de quê.
Mas era um homem doce sem cachaça no corpo. O meu gigante de verdade nessa vida de conto de fadas.
Para chegar à casa de tia Marina a gente atravessava um beco escuro cheio de lama. Porém, esse é o caminho mais lindo que tenho nas minhas lembranças.
A casa de tia Marina era um lugar encantado. Nunca chorei lá. Só me lembro de sorrisos. Não consigo encontrar uma lembrança triste no meu pensar.
A gente tomava banho de mangueira aos domingos enquanto Solange lavava roupa. E eu dizia: ainda falta muito, solange? E ela: duas blusas, três calças e dois lençóis.
Eu sentada ao batente da casa de tia Marina olhava o dia.
Hoje continuo a olhar o dia, mas ele já não é o mesmo, tem cheiro de solidões. No café da tarde era gostoso comer brote com café. Eu usava um vestido azul da cor do céu.
Tínhamos de falar baixinho para não acordar Seu Expedito que estava de ressaca da cachaça bebida em noite passada.
Tudo era pouco na casa de tia Marina, menos o amor. Ela costumava comprar três ou quatro colheres de sopa de açúcar que vinha embrulhado em papel. E eu não tinha a grande preocupação de pensar no amanhã.
Nunca ninguém fingiu ser meu amigo, nunca ninguém mentiu para mim, nunca ninguém me deixou triste.
Na casa de tia Marina tinha tudo, menos poesia. E foi lá que aprendi a poetizar.
Em infância a casa da minha tia Marina era meu abrigo. Casinha pequena, parecia de boneca. Café quentinho saindo do fogão de carvão em tarde de dezembro a dezembro.
Li com meus olhos a vida de Tia Marina, Seu Expedito e suas filhas: Neve, Solange e Ivone.
Fui feliz sem ter notícias do que era felicidade. Era meu único passeio ir à casa de tia Marina.
Ver as meninas trançando punhos de rede para ganhar um dinheirinho. A sopinha quente de tia Marina, a luz de querosene, as redes ainda armadas no quarto das meninas e o penico cheio de xixi.
Ainda escuto nossos sorrisos baixinhos no sofá cheio de buracos.
Tia Marina passava a roupa da família com ferrinho de brasa. O banheiro ficava do lado de fora da casa. Água friazinha da jarra de barro em caneco de alumínio descia não para meu corpo, mas para minha alma. Eu sou aquela água.
Eu, Neves, Solange e Ivone a riscar terra em desenho de sol, chuva fazer parar.
Em dia de sábado elas me levavam à praia. Eu tinha um biquini amarelo lindo, e gostava de pisar na areia da praia. Quando Seu Expedito bebia cachaça ninguém saía para ver a noite. As casas fechavam portas e janelas.
Ele era o homem mais bravo do mundo, com seus quase dois metros de altura parecia um gigante em fúria. Brigava até com quem não via. Sua faca peixeira queria fazer justiça nunca se soube de quê.
Mas era um homem doce sem cachaça no corpo. O meu gigante de verdade nessa vida de conto de fadas.
Para chegar à casa de tia Marina a gente atravessava um beco escuro cheio de lama. Porém, esse é o caminho mais lindo que tenho nas minhas lembranças.
A casa de tia Marina era um lugar encantado. Nunca chorei lá. Só me lembro de sorrisos. Não consigo encontrar uma lembrança triste no meu pensar.
A gente tomava banho de mangueira aos domingos enquanto Solange lavava roupa. E eu dizia: ainda falta muito, solange? E ela: duas blusas, três calças e dois lençóis.
Eu sentada ao batente da casa de tia Marina olhava o dia.
Hoje continuo a olhar o dia, mas ele já não é o mesmo, tem cheiro de solidões. No café da tarde era gostoso comer brote com café. Eu usava um vestido azul da cor do céu.
Tínhamos de falar baixinho para não acordar Seu Expedito que estava de ressaca da cachaça bebida em noite passada.
Tudo era pouco na casa de tia Marina, menos o amor. Ela costumava comprar três ou quatro colheres de sopa de açúcar que vinha embrulhado em papel. E eu não tinha a grande preocupação de pensar no amanhã.
Nunca ninguém fingiu ser meu amigo, nunca ninguém mentiu para mim, nunca ninguém me deixou triste.
Na casa de tia Marina tinha tudo, menos poesia. E foi lá que aprendi a poetizar.