Uma menina solitária
Perambulava pelas ruas escuras dos seus sonhos sem saber nada de si.
A vida não era grata com ela. Perdeu tudo o que tinha numa enchente, e lamentou não ter conhecido Noé. Até o seu porquinho foi embora nas águas bravas.
Sobrou-lhe um tiquinho de esperança no peito. Pegou o seu urso e foi passear nos sonhos alheios para ver se ganhava um de presente.
Quando deixamos de sonhar é como se tivéssemos morrido, pensava a menina na sua pequena idade. Ela bem sabia o que era a morte, essa coisa que leva pra longe tudo o que a gente ama.
De tudo o que morreu, a menina colocou luto pro seu porquinho verde. Verde igual planta. Verde igual folha de árvore.
Era melhor perambular mesmo à procura de vaga-lumes pelas vielas daquela cidade fedida. Sua vida cheirava mais.