Helena e o Mistério do Sumiço das Estrelas

OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÁ

ABRAM BEM OS OUVIDOS

PRA ESTÓRIA COMEÇAR

OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÁ

PRESTEM ATENÇÃO

UMA ESTÓRIA VOU CONTAR

Eita, Ilha da Magia, ilha pequena no tamanho, mas enorme nos seus causos, nos seus contos, nas suas lendas. Histórias pra dar o que falar. Estórias pra dar o que contar.

Dessa vez, contarei pra vocês a estória da pequena Helena. Uma menina brilhante nas suas andanças pela Ilha da Magia.

Mas o que Helena mais gostava e sabia fazer era imaginar suas próprias estórias. Eita, menina brilhante na sua imaginação.

Um dia, sentada no chão da cozinha e olhando a avó fazendo beiju de farinha no fogão a lenha, Helena se alegrou:

- Os beijus da avó são redondinhos e branquinhos. Parecem até a lua cheia que vejo da janela antes de dormir.

A avó riu. Helena acompanhou no riso frouxo da velha que era sábia também.

Helena pediu a avó um beiju para guardar. Quer presentear alguém.

Quando a noite desceu seu manto azul-escuro pela imensidão do céu, lá estava Helena na janela do seu quarto, esperando a Deusa Lua aparecer.

E ela apareceu. De mansinho. Cabisbaixa.

Helena olhou torto para a Majestosa, mas quis mudar de assunto e gritou alto pra Lua:

- Boa noite, Majestosa! Olha que eu trouxe pra você! Um beijo! Branquinho. Cheinho, Redondinho. Parece até ser um filhinho teu!

Helena riu. Mas, riu sozinha.

A Lua deu um suspiro, mas nem abriu os olhos pra menina.

Helena não conseguiu disfarçar a tristeza daquela noite e pediu licença pra se retirar da tão Sagrada presença.

- Ah é que já estás cheia! Deve ser por isso! Desculpa incomodar a Senhora. Vou dormir. Boa noite! Até amanhã!

- Não, Helena! Não vá ainda, minha Pequena! Eu que lhe peço desculpas! Agradeço o presente! Eu é que não pude te dar de presente uma noite de estrelas como tenho feito ultimamente. Estou cheia, sim. Chateada. Mas, não é com você, não. É com quem está varrendo as estrelas daqui,

Helena então percebeu que realmente não havia estrelas no céu e que a Deusa Lua precisava de ajuda.

- E não é que o céu fica triste sem as estrelas! Olha só! Vamos fazer assim, amanhã, antes da Senhora aparecer, eu vou ficar na janela e ver quem está sumindo com todas as estrelas do céu.

- Ah, amanhã? Reclamou a Lua.

- É! Amanhã! Decidiu Helena.

- Tchau, Deusa Lua!

- Até amanhã, menina Helena!

Helena fechou a janela e demorou pra pegar no sono, porque ficou matutando um plano para pegar o ladrão de estrelas. Enquanto beliscava o beiju, Helena pensava num plano que desse certo, porque já não agüentava mais ver a Lua tão bonita com cara de tristeza e desgosto.

Mal o dia amanheceu, Helena pulou da cama, correu na cozinha. Pegou água no pote de barro e lavou o rosto. A avó já a esperava com o café com leite pronto e a benção para lhe dar.

- A minha benção, vovó!

- Que Deus lhe abençoe, minha neta!

- Hoje vai ter beiju de novo?

A avó riu. Mas, não deixou Helena sem resposta:

- Hoje o dia amanheceu triste. Hoje está um dia bom pra fazer bolinho de chuva.

Helena gostava de conversar com a avó. A cada gole de café, comentava:

- Ah, vovó! Sabes por que o dia amanheceu triste? Porque anoiteceu triste, também. A Lua estava sozinha no céu. Eu vi da janela. Nunca vi tanta solidão na imensidão da noite.

- Ah foi Helena? A avó dava importância para a conversa.

- E não foi? Conversei com a Lua ...

A avó gargalhou.

Mas, Helena tagarelava sem parar:

- Falei com a lua, e ela disse que tem alguém sumindo com as estrelas do céu dela. Hoje eu descubro quem é! Hoje eu pego! Ah, se pego!

A avó ria tanto que chegou a tossir.

- Essa Helena! Tão pequena e tão cheia de estórias pra contar. Pensava a avó, enquanto Helena saía pra brincar no quintal.

Quando foi fim de tarde, a avó já havia esquentado a água pro banho de bacia e chamava Helena pra se banhar. Durante o banho, Helena ficava olhando pro teto da casinha como se estivesse pensando alto. A avó ria baixinho. Pra não atrapalhar o pensamento da neta.

- A vovó fez os bolinhos? Lembrou Helena.

- Fiz, sim! Estão na mesa, debaixo do paninho bordado.

Assim, que saiu do banho, Helena se secou e vestiu a roupa que a avó separou.

Destapou o prato de bolinhos de chuva feitos com tanto amor pela avó pegou logo meia dúzia e se mandou pro quarto pra fazer o que prometera a Deusa Lua.

Helena colocou os bolinhos no bolso da saia.

Foi pra janela. Esperou. Esperou. De repente as estrelas começaram a aparecer.

Uma. Duas. Três. Dez. Cem. Mil. Milhões. Até aí, nada demais.

Perto da janela do quarto de Helena, tinha um matagal. De dia Helena brincava muito ali. Helena dizia que de noite, as brincavas continuavam por lá. Nessa noite, Helena pode realmente ver o matagal se mexendo. Sem vento, nem brisa.

O matagal se mexeu até se abrir todo e Helena pôde ver o que ela até hoje não acredita: um enorme buraco se abrindo e engolindo, uma por uma, todas as estelas do céu,

Helena tinha que ir até lá. Só que não podia acordar a avó. Então, pegou a pomboca na mão e pulou a janela do quarto. Coitada! Quase se arrebenta no chão.

As estrelas estavam sumindo e Helena precisava ser mais rápida que aquela boca misteriosa.

Helena foi chegando perto do matagal. Foi ouvindo som de estalos parecidos com os gravetos secos quando pega fogo no fogão a lenha da avó.

Helena foi contando os passos e rezando baixinho o “santo anjo do Senhor” ensinado pela avó.

Juntou um pedaço de pau e ...

- Te peguei!

Nessa hora, Helena não conseguiu correr. Muito menos o ser misterioso que ela deu de cara.

Boca enorme. Olhos grandes, Manto estrelado de tanta estrela engolida. Oito pés.

Helena não conseguiu gritar.

O bicho encontrado também não soltou som algum. Só fechou devagarzinho a bocarra, E mastigou algumas estrelas bem devagarzinho, também.

Os olhos de Helena nos olhos do bicho brilhavam. Fascinantes.

Os olhos do bicho nem piscavam.

Helena começou a respirar ofegante e foi largando o pedaço de pau.

O bicho foi baixando a cabeça, como se envergonhado de estar fazendo algo que não devia.

Helena respirou fundo.

-És a bernunça, não és?

O bicho não levantou a cabeça. Parecia até estafada de tanta estrela engolida e mastigada.

Helena respirou fundo outra vez e cantou bem baixinho:

“Bernunça minha bernunça

Bernunça do coração

Bernunça só dança bem

Quando entra no salão”

O bicho levantou a cabeça.

Helena foi abrindo a boca. Maravilhada. E continuou a cantoria:

Bernunça , minha Bernunça

Se és a Bernunça, então

Só abras bem a boca

Quero ver o teu bocão!”

O bicho abriu tanto a bocarra, que Helena teve de dar uns dez passos pra trás.

Mas, agora Helena sabia quem era o engolidor de estrelas. Era a Bernunça. Bicho da imaginação dela. Meio jacaré, meio dragão. Quase dois metros e meio de comprimento. Um bicho maravilhoso da imaginação de muita gente. Esfomeado que só. Quem for desobediente é perseguido, engolido e transformado em uma Bernuncinha.

Helena não era desobediente, então não tinha medo de ser engolida ali, naquela hora.

Então, Helena colocou a pomboca no chão e começou a bater palmas, cantando:

Bernunça , minha Bernunça

Quero saber então

Porque estás a comer

As estrelas da imensidão?

Com a cantoria, a Deusa Lua apareceu. Iluminando o céu com as poucas estrelas que restavam e iluminando o matagal, onde podia ser visto e ouvido, a menina Helena conversando com a sua Bernunça.

A avó também acordou. Mas, ficou na janela vendo tudo de longe. Querendo entender o que estava acontecendo no seu quintal.

Helena continuava:

“Dizem ser um bicho brabo,

Que engoliu Mané João.

Comes pão? Comes bolacha?

Comes tudo que lhe dão?”

Com esses versos, a Bernunça começou a dançar pelo quintal. Helena batia palmas, enquanto a Bernunça se apresentava.

Helena ria do jeito desengonçado de dançar do bicho.

De repente, a Bernunça parou de dançar. Olhou para Helena e sussurrou:

- Te peço perdão, menina Helena!

Helena arregalou os olhos. A avó fechou os delas e desmaiou no meio da sala.

A Deusa Lua brilhou com mais vontade, fazendo as estrelas piscar que parecia pisca-pisca em festa de Natal.

Helena gaguejou:

- Co-co-co-co-mo-mo-mo é-é-é-é que-que-que é-é-é??

A Bernunça falou um pouco mais alto:

- Te peço perdão. Eu não devia ter engolido as estrelas. É que eu precisava alimentar meu filhotinho. Mas, também a culpa é sua, Helena. Você me inventou, mas nunca me deu de comer. Nunca me deu pão, nem bolacha. Aí, fico aqui, comendo mato, frutas e flores. Um dia, antes de ir dormir, eu bocejei. E num bocejo engoli três estrelas. Gostei. E faço isso de vez em quando. Não é sempre! Só quando não sou alimentada pela sua imaginação.

Ouvindo isso, Helena arregalou tanto os olhos que nem conseguia fechá-los, fazendo algumas lágrimas aparecer. Helena era tão boa com todo mundo. E naquele momento estava sendo culpada de alguma coisa que ela nem fazia idéia.

Helena correu na direção da Bernunça e deu um abraço forte na boca grande do bicho.

A Bernunça cheirou Helena e sentiu cheiro de alguma coisa boa,

Foi aí que Helena tirou do bolso os bolinhos feitos pela avó e deu de comer para a Bernunça.

A partir daquele dia, Helena fez a Bernunça prometer que não ia mais comer estrelas deixando a Deusa Lua sozinha e triste.

A Bernunça concordou, desde que Helena pedisse a avó pra todo dia no fim de tarde preparar algo bem saboroso comer.

Na manhã seguinte, Helena acorda e vai lavar o rosto com a água fresca do pote de barro.

Café com leite pronto. Não vê a avó.

Helena olha pela janela. E vê a avó no matagal olhando as pegadas que estavam lá

Helena foi cutucar a curiosidade da avó:

- A minha benção, vovó!

- Que Deus te abençoe, minha neta!

- O que aconteceu? Perguntou Helena.

A avó disse ter tido um sonho estranho. Com a neta. Uma bernunça. Uma cantoria. Bem ali.

Helena riu. A avó gargalhou.

- Ah, vó! O que vamos ter pro café da tarde?

- Humm ... Canjica? Mingau?

E foi assim que Helena, inventora de estórias, ajudou a Deusa Lua e desvendou o mistério do sumiço das estrelas.

OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÁ

OBRIGADO MINHA GENTE

POR ESSA ESTÓRIA ESCUTAR

OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÁ

ATÉ UMA OUTRA VEZ

COM MAIS ESTÓRIAS PRA CONTAR

Joel Vigano

Florianópolis, 05 de Agosto de 2020.