A menina dos cachorrinhos de ruas
Ela morava numa casa bem grande de frente para o mar. Quando acordava corria para ouvir a cantoria do seu mar azulado e conversar com o primeiro pescador que via. Todas as manhãs fazia aquilo antes de ir para a escola.
Estudava direitinho a lição. No caminho de volta para casa ao ver um cachorrinho abandonado na rua, não pensava duas vezes, o colocava nos braços e o levava para casa. A mãe reclamava, o pai apenas sorria. A menina já tinha trinta e sete cachorros.
Eles recebiam os nomes mais engraçados do mundo: Pudim, Amendoim, Babu e por aí vai. Tinha cachorro cego, com câncer, com pancreatite, com prótese nas patas e cachorros sadios, também.
A menina cuidava muito bem dos cachorros que trazia da rua. Era ela quem preparava a comida deles e lhes dava banho.
À tarde, o veterinário vinha consultar os cachorrinhos. Quando eles tinham vermes passava remédios baratinhos que a menina comprava com as moedinhas que juntava.
Certo dia, trouxe da rua cinco cachorros. A mãe ficou brava, o pai apenas sorriu. Um cachorro chorava o tempo todo quando a menina viajava, o outro latia muito e ainda tinha um que só comia quando ela voltava. O cachorro Pudim ficava tristonho e depressivo escondido embaixo da cama da menina.
Para que Amendoim parasse de chorar o seu pai dava-lhe para cheirar a blusa da menina e ele se deitava em cima dela, todo feliz.
Um dia, Babu morreu e a menina o enterrou no quintal da sua enorme casa. Com alguns meses morreu outro cachorrinho e a menina o enterrou perto de Babu. De modo que, no quintal da sua casa tinha um cemitério com cruzes e flores para os seus cachorrinhos.
A mãe proibiu a menina de trazer mais cachorros da rua para casa, o pai apenas sorriu. Por uns dias, a menina bem que tentou obedecer a sua mãe, mas os cachorros vinham atrás dela até o portão da sua casa. A mãe os espantava com uma vassoura, a menina chorava. O pai abria o portão e colocava os cachorros para dentro, depois sorria. E foi assim por muitos e muitos séculos.