A formiguinha que não tinha coração
Era uma vez um menino com um gigante coração. Como ele sabia que era gigante? Porque quanto mais amores colocava dentro dele mais cabia. Parecia tomar conta de todo o seu corpo. E às vezes quando se olhava no espelho só via a sua cabeça e o coração gigante abraçando o mundo.
Certo dia, esse menino conheceu uma formiguinha. Ela chorava muito em cima de uma pedra.
- Por que chora?
- Porque não posso amar as pessoas.
- Por que não pode?
- Porque não tenho coração.
- Espere! Vou pensar em algo para lhe ajudar.
O menino ficou triste com aquela informação, pois não sabia que formigas não tinham corações. Então, ele sentou-se ao lado dela e ficou a pensar. Os homens sempre têm soluções para todos os problemas, dizia a sua professora. Mas, ele já estava cansado de tanto pensar e a formiguinha, tristonha, acabou adormecendo esperando por ele.
- Acorde! Acorde! Acorde! Tive uma ideia!
- Sim? O que descobriu?
- Sei como fazer você amar.
- Conseguiu um coração para mim? Nunca ouvi dizer que formigas fizessem transplante de coração.
- Não! Ame com os seus pés! Já pensou em amar com os pés?
- Pés não amam, menino! Pés só servem para andar. Eles nos levam sempre para algum lugar.
- Se você ensiná-los a amar é claro que aprenderão.
- Meus pés são pequenos e feios! Além disso nunca aprenderam nada. Acho que são meio bobos, pois vivem pisando em cocôs.
- Deixe-me ver seus pés, por favor.
A formiguinha esticou as pernas para o menino, ele pegou no seus pezinhos, abraçou-os contra si e os beijou.
- Estão com chulé! Ah! Ah! Ah!
- Era pra isso que queria ver meus pés?
- Calma, formiguinha! Não fique brava!
- Seus pezinhos a partir de hoje vão aprender a amar as pessoas respeitando o jeito de cada uma ser, perdoando e fazendo o bem a elas. Não é difícil. Com o tempo vocês aprenderão.
A formiguinha logo sentiu algo estranho dentro de si nascer ao ter seus pezinhos ternamente beijados e abraçados, com isso sorriu.
O menino aprontou-se para ir embora. Intrigado com aquele sorriso largo da formiguinha perguntou
- Por que sorri, formiguinha?
- Acho que o meu pé direito está amando você!
- Como sabe?
- Ele não quer que se vá!
- Voltarei assim que puder. Está na hora de ir à escola.
O menino beijou os pezinhos da formiguinha e partiu. Os seus pezinhos ficaram tristes com aquela despedida e acharam melhor dormir. Assim, o dia passaria mais rápido e logo o menino voltaria. É assim quando a gente ama, quer a pessoa amada sempre perto da gente. Mesmo que amemos com os pés, não importa. Não tem gente que tem o juízo nos pés? Porque também não podemos ter um coração nos pés?