Confusão no Circo
Era feriado. Fui com meus filhos ao Vale da Alegria, um complexo com circo, parque de diversão e zoológico (animais não podem fazer parte do circo), até que um deles, o Willy, de dez anos, ficou fascinado com um coelho no meio do caminho saltitando em nossa direção. Disse que queria levá-lo pra casa.
—Já não está bom termos o Tom (nosso cachorro) em casa? Esse coelho tem que estar livre no mato! Deixe ele em paz!— eu adverti, enquanto eu dava ao coelho um pedaço da maçã que eu tinha reservado prós meninos.
Willy chorou de raiva. Tentei acalmá-lo dizendo que eu tinha conseguido ganhar os ingressos gratuitos da promoção da loja de brinquedos.
—Quantas vezes você e o Lucas não falaram tanto que queriam ver o Palhaço Colorido, o equilibrista com guarda chuva, a mulher do lenço gigante (tecido acrobático), queriam ser chamados pelo mágico pra ir no palco…
—Êêêh!—Lucas, de apenas seis anos, vibrou de alegria ao ouvir tudo aquilo.
—Bora pra fila! Enquanto isso, vamos tirar umas selfies e comer bastante pipoca que comprei na barraca.
—Eba! — vibrou o Willy
Chegou nossa vez. Adentramos o picadeiro com nossas entradas, mesmo elas não dando direito às primeiras fileiras. A vista das fileiras intermediárias era razoavelmente boa.
Uns trinta minutos de espera depois, o espetáculo deu início. Todos aqueles números fascinantes de arregalar os olhos de qualquer um e deixar a imaginação fértil de qualquer criança adquirir forma. O único empecilho dessa experiência foi durante um número de equilibrista com malabarismo. Os chimpanzés do zoológico situado a uns dois quilômetros do circo foram entrando no picadeiro em bandos! Rasgavam a lona; um dos artistas perdeu o equilíbrio e caiu de uma altura bem grande (sorte que um colega conseguiu amortecer a queda segurando o equilibrista nos braços); bolinhas coloridas e pinos de boliche quicavam aqui e acolá; comiam os restos de docinhos e pipoca caídos nas arquibancadas e por último, o pior aconteceu: minha bolsa mais as mochila com as coisas dos meus meninos foram furtadas por aqueles malandrinhos! Entre gritos de desespero e choros de crianças agarradas nos braços de seus pais, nos deparamos com uma cena inusitada de umas dezenas de macacos, também afobados, lançando pra todo lado vários objetos e apetrechos a fim de procurar sabe o quê? Comida!
—Eles estão com fome e sede! Cadê os tratadores do zoológico pra tomar conta desses bichos?! — pensei indignada.
Enquanto um macaco comia uma banana, outro comia a metade de um sanduíche, outro arremessava umas balas até sua bocarra, outro lambia um copo sujo de refrigerante, outro chacoalhava uma garrafinha de água e tentava chupar água pela tampinha que abria e fechava pra tentar tomar um gole... Era um verdadeiro piquenique! Um deles foi tão atrevido que foi nos dar um sorriso amarelo!
Nossas coisas felizmente não haviam sido revistadas por aqueles macacos comilões. Corremos até nossas coisas, lá perto das coxias que davam acesso aos camarins dos artistas, e enquanto saíamos, apressadamente, da forma mais discreta possível para os macacos não perceberem, Lucas, tão novinho, mas muito inteligente, me disse algo que fez todo o sentido sobre a grande confusão.
—Mamãe, as pessoas não deviam sujar a natureza! É lugar dos animais!
Foi aí que tive a ideia de sugerir aos responsáveis pelo complexo Vale da Alegria que houvesse latas de lixo ambulantes dentro do circo pra que não houvesse tanta sujeira. Várias pessoas andariam pelas arquibancadas recolhendo o lixo que seria jogado no chão. Assim os macacos não se sentiriam tão atraídos pelo cheiro intenso de comida apodrecendo no ar, já que os animais não são alimentados sempre quando querem, só pelos seus tratadores em horários determinados. Além disso, deveria haver placas ou até mesmo um alto-falante anunciando a proibição de jogar restos de comida, papéis e latinhas fora do lixo.
Mas não colocaria essa ideia em prática sem, antes, ir com meus filhinhos dar umas voltas na roda gigante do parque para ver uma paisagem bem interessante de lá de cima e relaxar a cabeça.