As desventuras do gatinho Defynho

 
Eu sou um gatinho muito fofo (pelo menos eu me acho), de pelos bege e sou muito carinhoso.

Eu vou contar para vocês as minhas aventuras, ou melhor, desventuras!

Eu sou Defynho e também sou Mingau. Logo, logo vocês vão descobrir o motivo.

Eu vivia numa casa muito boa, com uma mãe humana e um pai humano que me amavam muito, mas vocês sabem como são os gatos, não é!? Não é à toa que existe aquele ditado popular que diz curiosidade matou o gato. Isso mesmo! Somos seres muito curiosos
.

Um certo dia, eu estava muito tranquilo no terraço e apareceu aquela gata. Ah!, que gata! Eu logo me encantei e saí atrás dela.

Eu disse a vocês que moro em Aldeia? É um bairro muito arborizado e rodeado pela Mata Atlântica. E como eu estava dizendo, segui atrás daquela bela gatinha de olhos verdes. Ficamos na paquera e ela foi se embrenhando na mata. Fui atrás dela e consegui chegar perto. Namoramos, dei banho nela e ela deu banho em mim... É claro que você sabe que quando o gato está se lambendo é porque está tomando banho, não sabe?  Foi muito bom!

Mas, como tudo o que é bom acaba, ela me contou que iria voltar para a casa dela. Nesse momento, eu pensei comigo mesmo. Vou aproveitar e conhecer o mundo! E foi isso o que eu fiz. Pernas mundo afora, nesse mundão enorme!

Corri muito, brinquei, conheci amigos novos e belas gatas. E também inimigos. Sabe  como é quando dois gatos se engraçam da mesma gata? Não sabe? Pois saiba que é uma confusão daquelas!  

Cada vez me embrenhava mais e mais na mata e tive que me virar sozinho... às vezes me batia um medo terrível mas tive que ficar forte. Muito forte. Na mata havia uns gatos muito briguentos que vinham pra cima de mim, então eu tinha que me defender. Aprendi a brigar e me tornei um Gato Alfa Briguento. Batia em todos os gatos que se aproximavam de mim. Mas era só pra me defender, viu? Eles começavam a briga primeiro...

Levei muita chuva ao relento. Mas achava que a liberdade de estar conhecendo o mundo era maravilhosa. Cada dia que passava eu andava um pouquinho mais e chegava mais distante. Se sentia saudades dos humanos? Claro que sentia! Às vezes me batia uma vontade de voltar. Mas eu pensava. Ficava na dúvida. Será que eles ainda gostavam de mim?  

Certo dia, não achei mais comida tão fácil e a fome começou a queimar na minha barriguinha. Fui andando e cheguei em um local que tinha muitas casas. Senti cheiro de comida misturada com lixo. Arrisquei. Fui lá. Quando fui mexer no lixo... que susto! Água gelada! De onde tinha vindo aquela água? Saí correndo. Ufa! Foi a primeira vez que conheci a maldade humana! Ainda bem que a água era gelada e não quente, pois ouvi alguns relatos de colegas que conheci na minha jornada, que alguns gatinhos tinham sido machucados com água fervendo. Eu ficava pensando se era verdade mesmo. Acabei descobrindo que era. Tive muita sorte!

O que fazer para comer?

Cheguei às margens de um rio e fui andando pela mata ciliar. Conheci uma gatinha chamada Rabinho Torcido, porque o rabinho dela tinha um formato bem engraçado, uma filhotinha chamada Nina e um gatinho que tinha um olho cego, resultado da briga com um cachorro. O trio andava sempre junto e eu fiquei de longe olhando. Vi que eles sempre visitavam um quintal em busca de comida e, que nesse quintal tinha umas humanas que colocavam comida para os coleguinhas da rua. Comecei a ir comer por lá também.

Porém, encontrei um problema. A minha fama de Gato Alfa Briguento já tinha se espalhado. Na casa vizinha tinha um gato enorme, com uma cabeça enorme, que era o Gato Alfa Briguento do pedaço. Não lembro o nome dele e nem quero lembrar! Aí vocês já imaginam o que aconteceu, não é? Uma briga terrível! Saí bastante machucado. Fiquei com um ferimento bem feio no meu pescoço.

Fiquei sentindo muita dor. Comecei a me sentir estranho. Uma moleza no meu corpinho. Sentia uma quentura no corpo e, às vezes, me dava um frio de morrer. Comecei então a sentir falta de uma caminha quentinha e do colinho da minha humana.

As dores no meu corpo aumentavam e o ferimento estava muito feio. Por mais que eu lambesse, não conseguia fazer melhorar.

Numa noite, cheguei naquele quintal e fiquei pedindo socorro. Só que a humana que estava lá não me entendeu. Fiquei desesperado! Resolvi tentar com a outra humana.

Esperei ela aparecer no quintal e, numa tarde, ela apareceu. Eu fui chegando de mansinho e fazendo uma cara de Gato de Rua Abandonado Que Passa Fome e... funcionou! A humana me pegou no colo, me botou pra dentro de casa e me levou ao veterinário para ele cuidar da minha ferida. Passou a me chamar de Mingau. Tentei dizer-lhe que meu nome é Defynho mas ela não entendeu. Logo eu! Um gato Alfa Briguento ser chamado de Mingau! Mingau é uma coisa mole e não combina comigo. Mas deixei pra lá.

Fui melhorando. Mas sabe qual era o problema!? Aquela humana já tinha três gatos e uma gata. Eu queria a humana só pra mim! Depois de tudo o que passei na rua, não queria dividir aquela humana de colo tão quentinho com mais ninguém.

Foi aí que começou o problema! Pra mim? Claro que não! Pra Pitoko, Sotoko e Pretoko. Eu fiz valer a minha fama de Gato Alfa Briguento. Era muito divertido pra mim! Eu mordia, arrancava pelos, corria atrás, pra dizer que aquela humana era só minha.

Você lembra que eu falei que tinha uma gata também? Pois é! Tinha mesmo! Mas Kotoka é uma Gata Alfa Briguenta e com ela eu não mexia. Era melhor eu me prevenir. Primeiro, não se bate nas gatinhas, mesmo sendo um Gato Alfa Briguento. Segundo, eu não queria mais me machucar numa briga. 

Depois de um mês, quando eu já estava bem, aquela humana resolveu que eu não poderia mais ficar na casa por causa das constantes brigas. Ela resolveu me colocar para adoção. Mas só iria me dar para alguém que fosse cuidar de mim.

Sabe o que aconteceu? Uma coisa bastante inusitada! A minha primeira humana viu a minha foto na internet e me reconheceu na hora! Ela entrou em contato com a segunda humana e, no dia seguinte veio me buscar.

Foi então, que eu fiquei sabendo que, tinha passado quase um ano e meio perambulando pela mata e pelas ruas e, que tinha andado mais de dois quilômetros. Nossa! Nunca imaginei que pudesse ir tão longe! E o melhor: a minha primeira humana nunca desistiu de me procurar.

Voltei pra minha primeira humana, que se chama Sylvia e, no início, queria fazer valer a minha fama de Gato Alfa Briguento mas... pensando bem, é melhor viver em paz com minhas cinco coleguinhas caninas, o gatinho Romeu, a gatinha Mia e o papagaio.

Mas sempre lembrando que quem manda na casa sou eu!


Dedico esse conto a todos os animais de rua e especialmente a Sylvia Klimsa, que nunca desistiu de procurar por Defynho. 
 
Camaragibe, 29/04/2020
Imagem: gatinho Defynho-Mingau (acervo próprio)