A LIÇÃO DA BORBOLETA
Num dia em que estava triste conheci uma borboleta, que me ensinou uma lição. Foi assim: eu estava no meu canto, ela chegou e me perguntou se era bonita, pois aquele era seu primeiro voo e ela ainda não encontrara onde se ver refletida.
Eu lhe respondi que sim; que ela era linda; que suas asas tinham a cor do mar Mediterrâneo: um azul intenso e eram bordeadas de negro, com pequenos pontos brancos, assim como algumas praias gregas que eu conhecera.
Sem mais, ela saiu voando aquele voo tonto de todas as borboletas. Pousou numa planta, depois em outra e mais outra, até sumir do meu campo de visão.
Mais tarde retornou e eu, admirando seu voo em piruetas, percebi toda a dimensão da sua beleza: mais parecia uma flor alada.
Quando ela me avistou, voou para perto de mim, deu voltas, ziguezagueou, fez loopings, pousou na minha cabeça e foi logo indagando se eu estava triste e qual era a razão. E sem me dar chance de resposta, prosseguiu dizendo que eu deveria ir para rua passear um pouco, que havia um campo próximo com muitas flores e um lago muito bonito. Assim, talvez, eu ficasse mais alegre.
Disse-lhe que não poderia sair, porque havia na cidade uma epidemia e todos estavam de quarentena, forçados a ficar em casa, por conta de um tal coronavírus, do qual nunca se ouvira falar.
Oh, que pena! Exclamou a linda borboleta azul.
E foi logo dizendo que eu não deveria ficar triste por isso.
Sabe, ela falou, eu já fui uma lagarta feia e má. Muito má!
Uma daquelas que chamam de “Lagarta de Fogo”. Era toda verde quando estava em uma folha e mudava de cor quando passava para o caule, para que as pessoas não me vissem. Comia todas as plantinhas que pudesse e se uma criança me tocasse, meus espinhos a feriam e produziam uma dor como a da queimadura.
Um dia, minha pele começou a soltar, como é normal nas lagartas, e eu resolvi tecer um casulo com fios de seda, que eu mesmo produzia, para me proteger e acabei ficando presa nele.
Fiquei lá no casulo muito tempo e, sem ter nada para fazer, pensei em tudo que fizera quando estava livre: nas plantinhas que destruí com minha fome insaciável, nas criancinhas que machuquei e que choravam muito de dor. Também li muitos livros de outras lagartas, que diziam que se eu me tornasse boazinha eu conseguiria me libertar, ficaria bonita e ganharia asas para voar por onde quisesse.
Eu assim fiz e aqui estou: feliz por ter me transformado numa criatura boa e bonita, que não faz mal a ninguém, ajuda as plantas a se reproduzirem e ainda embeleza o mundo.
Você pode aproveitar esse período de quarentena e também se transformar numa pessoa melhor, ela me disse.
Lembre-se do velho ditado: tem males que vêm para o bem.
Basta você ver para além do seu sofrimento e passar a dar mais valor às coisas boas presentes no seu confinamento: o tempo maior para se dedicar à família, à boa leitura, etc..., ou para fazer uma reflexão sobre sua vida. Você verá que, bem aproveitado, esse período poderá transformá-lo numa pessoa melhor e mais feliz.
Depois de me dizer isso a borboleta se foi e eu nuca mais a vi. Mas percebi que certos momentos podem transformar nossas vidas para melhor.
Obrigado borboleta azul!