O DESTINO DA PIABA
Era noite de tempestade, ao amanhecer o rio que era tão fininho inchava alargando-se invadia caminhos, inundava os campos espantava os passarinhos que com medo subiam o mais alto que podia para de lá do alto ficar observando o ronco que ensurdecia até os peixes que lutavam para não serem levados pelas fortes correntezas, em meio aquele turbilhão de água embolando levava troncos galhos e até animais que pastavam tranquilamente nas margens como carneiros, coelhos e até um despercebido jabuti.
A piaba coitada se perdeu do seu cardume, já fraquinha de tanto lutar contra a fúria das águas e como suas barbatanas não eram asas para poder voar deixou que a correnteza a levasse, não sabe se horas ou dias ficou naquela agonia sendo carregada, sem forças para nadar abriu os olhos e viu que estava num lugar calmo ali o rio dormia sereno, a piaba conseguiu chegar até a superfície para respirar um pouco de ar e encher seus pulmões fraquinhos pela luta, o céu estava bem lavado, o sol se mostrava alegre esquentando as águas.
- Onde estou? Tudo aqui é tão silencioso, não vejo peixes nem canto de passarinhos, sonolenta naquela calmaria a piaba foi boiando aproveitando para tomar um pouco de sol, quando percebeu outra vez que o rio encachoeirava se alargando, dessa vez o ronco era mais forte, onde foi aquele rio tão calmo e no lugar essa agressividade, de repente o rio começou a correr com tanta velocidade que o medo fez o coraçãozinho da piaba saltar fora do seu corpo. Era uma queda d’água daquelas de muitos e muitos metros de altura. A piaba chegou lá embaixo sem ar e foi um alivio quando percebeu que novamente o rio ficava calmo, voltou a respirar aliviada e quando subiu outra vez a superfície, limpou bem os olhos apurou os ouvidos viu que não estava mais sozinhos, cardumes de peixes grandes que riam felizes, com certeza não enfrentaram o desafio das correntezas. – Pensou a piaba.
Naquele momento um passarinho pousou na beirada da água bem pertinho da piaba, - gritava: bem-te-vi, bem-te-vi... Era o primeiro som que ouvia fora o ronco do rio, então teve certeza de que estava viva e poderia reencontrar a sua família que se perdeu nas emboladas das águas.
Cardumes de peixes graúdos e miúdos saldavam uns aos outros ignorando a pobre da piaba encolhida no canto perto da margem.
- A tempestade que assanhou as águas do rio me separou da minha família, estou sozinha e com medo. Tentava explicar aos peixes que passavam apressados, mas nenhum parava para lhe ouvir. Sozinha continuava ora nadando ora deixando que a correnteza a levasse.
Adiante o rio começava a se encolher voltando a sua mansidão, a piaba não saberia dizer a quantos dias de distancia estava do local de onde foi levada pelas correntezas. O rio agora rolava tranquilo sem pressa sem e sem a selvageria das águas levando tudo que encontrasse. A noite não choveu, a piaba encolhida num canto dormiu sem medo de ser levada outra vez.
O dia acordou a brisa coçava as águas trazendo cheiro de plantas impregnando o paladar da piaba, a viagem continuava tranquilos milhares de peixinhos passava, a piaba continuava sozinha parece que todas as outras piabas foram levadas para outra região, ao entardecer rasgaram-se no céu raios e trovões, as nuvens se encheram e logo caiu a chuva engolindo a tarde e não parou durante a noite, parecia um diluvio dessa vez bem mais braba os pingos batiam nas águas como bomba estourando. A piaba coitada deixou-se ser tangida pela correnteza, outros peixes bem espertos se se encostavam às pedras do fundo do rio em busca de proteção outros nas raízes de plantas fincadas na margem, eram tantos cardumes peixes miudinhos e coloridos, outros grandes com caras agressivas que faziam a piaba ficar amedrontada com o seu tamanho miudinho, facilmente poderia ser engolida por um daqueles feiosos.
A piaba não tinha mais força quando viu descer ao seu lado um cágado enorme que seguia em busca de abrigo.
A piaba tentou pedir ajuda, mas o cágado gargalhou dizendo:
- Não vou perder meu tempo com a miniatura de peixe assim miudinha de barbatanas clarinhas e manchinhas escuras nas costas e seguiu deixando a piaba para trás.
A piaba nadou o mais que seu fôlego permitiu, não iria perder aquela carona, agarrou-se ao casco do cágado que sem perceber continuo a sua viagem.
Autoria- Irá Rodrigues
Diretora Internacional da divisão de Literatura Infanto-juvenil