O DIÁRIO DE ARTURZINHO

Arturzinho era um menino muito lindo e inteligente. Muito dedicado nos estudos, era o orgulho dos seus pais. Filho único do casal Carolina e Roberto, Arturzinho aspirava ser jornalista. Costuma ler os jornais junto com seu pai na varanda de casa. Também era fã das revistinhas em quadrinhos. Todas as tardes quando terminava de fazer as lições do colégio, em seguida já começava a ler as revistas. Era um menino tranquilo, quase não tinha amigos. No colégio, não conversava com ninguém por ser tímido. A meninada no colégio lhe apelidou de Mudinho. Arturzinho sentava na primeira fileira, gostava de ficar bem longe da turma da bagunça. Na hora do recreio, ele comia o seu lanche sozinho, longe das rodinhas de amizade. Mas não era um menino triste, ao contrário, era carinhoso e tratava todos com respeito. Era uma criança diferente, não gostava de pedir presente aos pais. Só tinha um amigo, que se chamava Jorge e tinha a mesma idade sua ( 9 anos) . No seu aniversário de 10 anos, ganhou dos pais um celular. Arturzinho ficou todo bobo com o presente! Já veio logo a ideia de gravar vídeos, fazer reportagens. Chamou o seu amigo Jorge para ser também repórter. Os dois saíam pelas ruas do bairro Jardim Alvorada, em Nova Iguaçu, em busca de notícias. Arturzinho viu um cartaz de um cachorrinho desaparecido na portaria do condomínio onde morava e foi junto com o Jorge conversar com a dona do animal. Arturzinho escreveu no papel as perguntas que iria formular à entrevistada. Leu e decorou as perguntas. Depois de tudo elaborado, foi até a mulher e gravou a reportagem. Arturzinho entrevistava a dona do cachorro e Jorge ficava com o celular filmando. Os meninos levavam a sério a brincadeira ( para eles não era brincadeira, Arturzinho não gostava muito quando sua mãe o interrompia e dizia para ele parar a brincadeira um pouco e ir comprar pão ou outra coisa no mercado ). Ele pensava com ele mesmo: " Minha mãe não acredita em mim! Não acredita no que eu faço! Já meu pai acredita..."

Mas Arturzinho não ficou alimentando esses pensamentos, e seguiu firme no seu canal do YouTube. Todos os dias sempre gravava vídeos interessantes para o jornal Diário do Arturzinho.

" Olá pessoal amigo! Bom dia! Estamos começando mais uma edição do D. A. ( Diário do Arturzinho). Hoje com uma reportagem muito interessante! " , dizia ele com uma alegria enorme e brilho nos olhos.

Os pais de Arturzinho eram os entrevistados recorrentes. O menino sempre queria saber alguma coisa da vida dos pais, algo sobre como era a infância dos pais, como era a vida dos tempos idos. Roberto, que era alagoano, disse ao filho como era a vida no Nordeste no final dos anos 50. Disse muita coisa ao filho, coisas insólitas: coisas do tipo ter de levar cadeira de casa para ir ao cinema assistir filme. Um filme de bangue-bangue em preto e branco, o bandido do filme apontando a espingarda, e a imagem tão grande da arma no telão que fez Roberto e seu amigo de infância levarem um baita susto.

Falou também para o filho quando viu pela primeira vez um radinho de pilha. Disse que ficou assustado quando viu um homem na rua com uma caixinha preta " falando". Arturzinho e Jorge não aguentaram de tanto rir.

" Nossa, pai! A vida na época da infância do senhor era muito difícil."

Arturzinho, olha para o pai, fica o admirando, um lutador, passou muitos perrengues.É assim a vida, a vida é amiga de quem não desiste e enfrenta. Enfrenta, mesmo que tenha medo! Arturzinho, ao mesmo tempo que o pai ia relatando sua vida, ele imaginava como o pai se sentia: as surras que levava do avô de madrugada para ir debaixo de chuva abrir a banca de verdura, o peso da caixa de laranja na cabeça, o percurso longo com a caixa até a casa do freguês. Em resumo, uma vida dura, vida de sacrifício, dor e castigo!

E foi esse tema da reportagem que fizera sobre o pai.

Arturzinho também entrevistou sua mãe.

Carolina foi adotada por sua tia, sua mãe biológica morrera durante o parto. O pai adotivo de Carolina, que era cozinheiro da Marinha, participou da Segunda Guerra Mundial.

Carolina relatou tudo sobre seus pais adotivos, e sobre a sua infância para o filho. Falou que sua mãe era muito ciumenta, que chegou até a tapar com cimento as brechas do muro para que o marido não ficasse olhando as mulheres na rua. Mandava também um afilhado comprar um fardo de pipoca ( pacote com 12 saquinhos de pipoca) já para que o marido não precisasse sair de casa até o armazém e no caminho ficasse paquerando as mulheres. Arturzinho chorava de tanto rir!

Carolina também lhe disse que foi o pai que lhe ensinou a cozinhar.

" Sabe, filho, aquelas rabanadas que você tanto gosta que eu faço no Natal? Pois é, foi seu avô que me ensinou."

"Seu avô era excelente cozinheiro, um baixinho que também só andava arrumado, mesmo estando em casa. Sua avó também só vivia arrumada, usava leque, óculos escuros...

Seu avô gostava de dançar sapateado, viajou pra muitos países. O lugar que ele mais gostava aqui do Brasil era o Rio Grande do Sul por causa das paisagens, do chimarrão, e na certa também por causa da beleza da mulher gaúcha. ", disse Carolina em meio à risos.

E foi também esse o tema de mais uma reportagem de Arturzinho, a questão do ciúme, casamento, adoção, viagens...

Os vídeos de Arturzinho bombaram na web.

Arturzinho mal sabia, mas ele estava fazendo história. Ele estava se superando, vencendo a timidez. Todos nós temos nossos desafios.

Arturzinho, era fechado no seu mundo. Era tido como coitadinho, os pais não acreditavam no potencial do garoto.

Uma vez na reunião de classe, o diretor e professor do colégio Assunção contou para Carolina que Arturzinho chegou aprontar no colégio. Ao chegar à escola, ele não esperava o professor abrir a porta da classe, e ia na onda dos alunos bagunceiros e pulava a mureta para adentrar a sala de aula.

O diretor contou que repreendeu Arturzinho, o pôs de castigo em pé de costas pra parede durante toda a aula. Arturzinho chorava muito. No outro dia, o diretor mandou chamar Arturzinho na secretaria. Disse para o menino que ele era muito inteligente, que era seu amigo e que o repreendeu para o seu bem, falou que por ser inteligente ele não poderia ser tratado como um coitadinho.

Carolina agradeceu ao diretor por ter repreendido o seu filho.

Em seguida abraçou Arturzinho e o beijou.

Depois vieram os amigos de classe e os professores elogiarem o menino por causa do canal no YouTube.

Os vídeos de Arturzinho e Jorge viralizaram. Ele são conhecidos como os repórteres mirins carismáticos​ da internet.

E os olhos de Deus não perdem Arturzinho de vista, e Deus está do lado de pessoas assim que vencem os seus desafios.

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)

Poeta Alexsandre Soares
Enviado por Poeta Alexsandre Soares em 14/01/2020
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