A menina que queria ser advogada
Era uma vez uma menina que dizia a todos quando perguntavam o que ela seria quando crescesse:
- Vou ser advogada!
A menina gostava das leis e aos sete anos de idade leu a constituição do seu país.
Era uma menina esperta e inteligente. Mas havia um problema no meio do sonho daquela menina. Como ser uma advogada se mal tinha livros para estudar? Se os livros que lia eram os que retirava do lixo? Livros rasgados e molhados!
Levava uma vida de menina pobre e tinha apenas um par de meias já velhinho que usava há cinco anos para ir à escola. Os seus sapatos tinham furos no solado. Não tinha saia azul para vestir e ia à escola com uma saia vermelha num dia e no outro, cor de rosa. A mamãe não podia comprar uma saia azul, aliás a mamãe não podia comprar quase nada para ela.
Um dia, a menina ganhou de presente no seu aniversário de oito anos um livro que tinha o código do consumidor. E a partir daquele dia foi ajudar as pessoas que eram enganadas pelas empresas.
- A senhora pode receber uma indenização! Isso se chama danos morais! – Dizia a menina para a sua vizinha com o código do consumidor nas mãos.
A menina passava a manhã trabalhando no lixão e à tarde ia à escola. Tinha cheiro de lixo pregado na sua pele morena e cabelos pixaim. Ninguém queria chegar perto dela, ninguém queria brincar com ela, ninguém queria saber dela. Ficava isolada num canto da parede no meio do pátio da escola.
Mas, a menina não se sentia tão sozinha, uma vez que tinha os seus livros de direito para estudar. Conhecia a declaração universal dos direitos humanos como ninguém. E o artigo que mais gostava no estatuto da criança e do adolescente era o de número quinze que diz
Art. 15 A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Ter direito à liberdade para a menina era o sonho de todo ser humano. Poder ir e vir para lá e para cá como criança era muito bom! Apesar de ela não poder estar em todos os lugares como desejava, pois as pessoas não gostavam de menina pobre e que tinha cheiro de lixo.
Na casa onde morava a menina não tinha paredes para desenhar, pois era uma casa feita de papelão e pedaços de madeira. Também não tinha cadernos e escrevia os seus deveres da escola em sacos de pães que o homenzinho da padaria dava para ela. Tinha pedacinhos de lápis que ganhava sempre da professora.
A menina que queria ser advogada pensava em lutar pelos direitos humanos das crianças pobres iguais a ela, quando crescesse. Que toda criança tivesse o direito de ter um lar e uma televisão para assistir, pensava.
Uma vez a menina caminhava para a escola quando viu um menino negro ser preso e algemado arbitrariamente por um soldado. Era um menininho, ainda.
- Solta ele, moço. O que ele fez pra ser preso?
- Vá embora, menina! Senão a gente prende você também!
- Solta ele, moço! Ele é apenas um menino!
- Um menino ladrão! Nessa idade e já roubando!
A menina aproximou-se do menino que estava chorando e perguntou o que ele fez.
- Não fui eu quem roubou a bolsa da senhora! Foi aquele menino de calção vermelho!
- Solta ele, moço! Ele é inocente! Prende aquele menino lá!
- Vá embora, menina! Já disse! – Falou o policial, bravo.
A menina pisou no pé do policial para que ele olhasse para ela e levou uma bronca.
- O que pensa que está fazendo?
- Por que está prendendo ele? Não foi ele quem roubou a bolsa!
- Foi, sim! Aquele outro menino não tem jeito de ladrão!
- E qual é o jeito de um ladrão? – Perguntou a menina olhando bem para o policial.
- Aquele menino é branco, está bem vestido e não tem jeito de ladrão!
- Seu policial, você está enganado! Não são somente as pessoas negras e pobres que roubam! As pessoas de cor brancas e bem vestidas também podem roubar!
- Não aquele menino! Olhe para ele! Nem teve medo de nós quando nos aproximamos! Já esse daqui foi o primeiro a correr! – Falou o policial.
E antes que a menina falasse qualquer coisa o menino foi jogado no carro da polícia que saiu em disparada com a sirene ligada pela grande avenida da cidade.
A menina ficou pensando na desigualdade social do país e como as pessoas negras e pobres são tratadas pela polícia. Coisa triste! E se fosse uma advogada tiraria o menino da cadeia. Mas era somente uma menina cheia de sonhos e uma lágrima molhou a sua mãozinha direita. Ninguém queira saber o que é ser preto num país onde a maioria é de brancos, pensou a menina! E se foi no caminho de volta para a escola.
Era uma vez uma menina que dizia a todos quando perguntavam o que ela seria quando crescesse:
- Vou ser advogada!
A menina gostava das leis e aos sete anos de idade leu a constituição do seu país.
Era uma menina esperta e inteligente. Mas havia um problema no meio do sonho daquela menina. Como ser uma advogada se mal tinha livros para estudar? Se os livros que lia eram os que retirava do lixo? Livros rasgados e molhados!
Levava uma vida de menina pobre e tinha apenas um par de meias já velhinho que usava há cinco anos para ir à escola. Os seus sapatos tinham furos no solado. Não tinha saia azul para vestir e ia à escola com uma saia vermelha num dia e no outro, cor de rosa. A mamãe não podia comprar uma saia azul, aliás a mamãe não podia comprar quase nada para ela.
Um dia, a menina ganhou de presente no seu aniversário de oito anos um livro que tinha o código do consumidor. E a partir daquele dia foi ajudar as pessoas que eram enganadas pelas empresas.
- A senhora pode receber uma indenização! Isso se chama danos morais! – Dizia a menina para a sua vizinha com o código do consumidor nas mãos.
A menina passava a manhã trabalhando no lixão e à tarde ia à escola. Tinha cheiro de lixo pregado na sua pele morena e cabelos pixaim. Ninguém queria chegar perto dela, ninguém queria brincar com ela, ninguém queria saber dela. Ficava isolada num canto da parede no meio do pátio da escola.
Mas, a menina não se sentia tão sozinha, uma vez que tinha os seus livros de direito para estudar. Conhecia a declaração universal dos direitos humanos como ninguém. E o artigo que mais gostava no estatuto da criança e do adolescente era o de número quinze que diz
Art. 15 A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Ter direito à liberdade para a menina era o sonho de todo ser humano. Poder ir e vir para lá e para cá como criança era muito bom! Apesar de ela não poder estar em todos os lugares como desejava, pois as pessoas não gostavam de menina pobre e que tinha cheiro de lixo.
Na casa onde morava a menina não tinha paredes para desenhar, pois era uma casa feita de papelão e pedaços de madeira. Também não tinha cadernos e escrevia os seus deveres da escola em sacos de pães que o homenzinho da padaria dava para ela. Tinha pedacinhos de lápis que ganhava sempre da professora.
A menina que queria ser advogada pensava em lutar pelos direitos humanos das crianças pobres iguais a ela, quando crescesse. Que toda criança tivesse o direito de ter um lar e uma televisão para assistir, pensava.
Uma vez a menina caminhava para a escola quando viu um menino negro ser preso e algemado arbitrariamente por um soldado. Era um menininho, ainda.
- Solta ele, moço. O que ele fez pra ser preso?
- Vá embora, menina! Senão a gente prende você também!
- Solta ele, moço! Ele é apenas um menino!
- Um menino ladrão! Nessa idade e já roubando!
A menina aproximou-se do menino que estava chorando e perguntou o que ele fez.
- Não fui eu quem roubou a bolsa da senhora! Foi aquele menino de calção vermelho!
- Solta ele, moço! Ele é inocente! Prende aquele menino lá!
- Vá embora, menina! Já disse! – Falou o policial, bravo.
A menina pisou no pé do policial para que ele olhasse para ela e levou uma bronca.
- O que pensa que está fazendo?
- Por que está prendendo ele? Não foi ele quem roubou a bolsa!
- Foi, sim! Aquele outro menino não tem jeito de ladrão!
- E qual é o jeito de um ladrão? – Perguntou a menina olhando bem para o policial.
- Aquele menino é branco, está bem vestido e não tem jeito de ladrão!
- Seu policial, você está enganado! Não são somente as pessoas negras e pobres que roubam! As pessoas de cor brancas e bem vestidas também podem roubar!
- Não aquele menino! Olhe para ele! Nem teve medo de nós quando nos aproximamos! Já esse daqui foi o primeiro a correr! – Falou o policial.
E antes que a menina falasse qualquer coisa o menino foi jogado no carro da polícia que saiu em disparada com a sirene ligada pela grande avenida da cidade.
A menina ficou pensando na desigualdade social do país e como as pessoas negras e pobres são tratadas pela polícia. Coisa triste! E se fosse uma advogada tiraria o menino da cadeia. Mas era somente uma menina cheia de sonhos e uma lágrima molhou a sua mãozinha direita. Ninguém queira saber o que é ser preto num país onde a maioria é de brancos, pensou a menina! E se foi no caminho de volta para a escola.