CATADOR DE SORRISOS
Quase meio dia, quando João Vitor entrou em casa apressado. Na sala, abraçou seu pai e foi direto para o quarto. Antônio sentado no sofá, acompanhava com o olhar, estranhando o comportamento do seu filho.
- Nem a mochila com os livros como é costume, deixou na sala. disse Antônio.
João Vitor demorava para o almoço e Antônio decidiu ir até o quarto chamá-lo. Ouviu João Vitor cantando uma música alegre e resolveu abrir a porta devagarinho, procurando não fazer barulho.
Em frente ao espelho, João Vitor não percebeu seu pai no vão da porta, observando a cena. Em cima da cômoda havia uma pequena caixa com alguns potinhos de tinta guache abertos. com o rosto pintado como fazem os palhaços, continuava cantando e gesticulando.
Voltou-se para a porta quando ouviu aplausos e o elogio de seu pai:
- Parabéns meu pequeno palhaço. Disse Antônio, entusiasmado.
João Vitor se mostrou surpreso com a presença de seu pai no quarto, porém muito seguro do que fazia. Dirigiu-se ao banheiro e depois do banho, foi almoçar com seu pai.
Durante o almoço, João Vitor olhou para seu pai e falou:
- Pai, você pode comprar uma fantasia de palhaço pra mim?
Antônio surpreso com o pedido, Perguntou:
- Posso saber o motivo de querer uma fantasia de palhaço?
- Sim. Respondeu João Vitor.
- Hoje na escola, estivemos comentando a ausência de dois amigos da nossa classe que estão internados se recuperando de cirurgias. João Vitor respirou fundo e prosseguiu:
- Eles são muito divertidos. Maria Luiza brinca imitando vozes com sua boneca de pano, como se fosse um boneco de mamulengo. Nos diverte muito com suas brincadeiras. Fez uma pausa e continuou:
- Júlio Cesar sempre leva seus times de botão, com fotos de super-heróis pra jogarmos durante o intervalo. É o melhor jogador de futsal da turma.
João Vitor acompanhava suas palavras com gestos. Maneira de reforçar o que dizia:
- Combinamos de irmos no domingo, fazer uma visita ao hospital, levando muita alegria a todas as crianças. Todos com fantasias de super-heróis e eu, vestido de palhaço.
Antônio não demonstrava, mas sentia-se emocionado com o que ouvia. Agora entendia o porquê da cena, no quarto. Com a pausa de João Vitor, Perguntou:
- Posso saber como se chama este palhaço?
- Palhaço Vida. Afirmou João Vitor.
No decorrer da semana tudo foi combinado e ensaiado da forma como fariam quando estivessem no hospital. A ansiedade era visível nas crianças.
- Que o dia de domingo, chegue logo. Diziam elas.
João Vitor pôs-se de pé assim que o dia clareou, foi até a janela do quarto e olhou a paisagem lá fora. Depois seguiu para a sala, seu pai esperava para o café da manhã. Queria aproveitar ao máximo todas as horas do dia. Seria um domingo de muitas emoções.
Na chegada, João Vitor e seus amigos viram uma faixa escrita em letras garrafais, cobrindo o nome do hospital: CASA DO RISO. Tudo preparado para receber o grupo de amigos.
João Vitor foi o primeiro a descer do ônibus, vestido na sua fantasia de palhaço, o rosto pintado, uma roupa xadrez colorida, uma boina na cabeça e um sapato maior que seus pés, com o bico de pato. Um palhaço lindo.
Em seguida desceram seus amigos vestidos de super-heróis e com nariz de palhaço. Traziam nas mãos outros narizes de palhaço para distribuir com as crianças e funcionários do hospital. Por último, desceu João Henrique, vestido de Homem-Aranha, seu tarol pendurado ao peito e as baquetas, nas mãos. Era um ótimo percussionista e seria ele a ditar o ritmo da festa.
As crianças entraram no hospital, o palhaço Vida seguido por João Henrique e o grupo de amigos, atrás deles. Era chegada a hora de iniciar o espetáculo.
Algumas crianças ao ouvirem as primeiras batidas no tarol, saíram de seus quartos abanando as mãos diante do peito, tamanha emoção e expectativa.
O grupo de amigos seguiu pelo corredor e como ensaiado, João Vitor iniciou a animação:
Hoje tem alegria?
Tem sim, sinhô.
E esta casa, como se chama?
Casa do riso, sinhô.
E a criança que não sorri?
Fica de castigo, sinhô.
E o palhaço Vida, quem é?
Catador de sorrisos, sinhô.
E agora que vamos fazer?
Sorri, sinhô.
Há, há, há, há
A gargalhada foi geral e a diversão, contagiante. muitas crianças e funcionários do hospital, todos com o nariz de palhaço, seguiam o palhaço Vida com muita animação.
O grupo seguiu cantando e dançando pelos corredores e o palhaço Vida, convidando todos a sorrirem:
Hoje tem alegria?
Tem sim, sinhô.
E nesta casa tem criança dodói?
Tem não, sinhô.
E o que temos aqui?
Super-heróis, sinhô.
E o palhaço Vida, quem é?
Catador de sorrisos, sinhô.
Agora que vamos fazer?
Sorrir, sinhô.
Há, há, há, há
O clima de alegria tinha realmente transformado o hospital, na casa do riso.
No quarto, Maria Luiza estava com sua boneca de pano abraçada ao peito e um lindo sorriso no rosto. O palhaço Vida e seus amigos entraram no quarto cantando:
Hoje tem alegria?
Tem sim, sinhô.
Essa menina quem é?
A Maria Luiza, sinhô.
Com quem ela parece?
A boneca Emília, sinhô.
Na verdade, quem é ela?
A mulher maravilha, sinhô.
E o palhaço Vida, quem é?
Catador de sorrisos, sinhô.
Agora que vamos fazer?
Sorrir, sinhô.
Há, há, há, há, há
Maria Luiza acompanhou as gargalhadas dando pulos de alegria. Era muito divertido ver seus amigos vestidos daquela maneira. Sentia-se muito feliz com a visita deles. Ela acompanhou os amigos pelos corredores, cantando e dançando, seguindo o ritmo do tarol de João Henrique.
Mais à frente Júlio Cesar já os esperava, parado no meio do corredor, e assim que o grupo se aproximou, o palhaço Vida, animou:
Hoje tem alegria?
Tem sim, sinhô.
E Júlio Cesar gosta de quê?
De jogar futsal, sinhô.
E ele joga bem?
É um perna de pau, sinhô.
E o palhaço Vida o que é?
Catador de sorrisos, sinhô.
E agora que vamos fazer?
Sorrir, sinhô.
Há, há, há, há, ...
E assim, com muita animação e sorrisos, o grupo de amigos continuou divertindo a todos no hospital. Por fim, foram se despedindo das crianças, entre aplausos e palavras de agradecimento. Um dia de festa e alegria, muito especial pra todos na casa do riso.