Tem uma árvore no meio da minha casa
Rosângela Trajano
O menino escondia os brinquedos, os sapatos, a bola, seus medos
e a sacola debaixo do tapete. Se alguém pedia esmola o menino
retirava qualquer coisa debaixo do tapete e entregava ao pedinte.
Um dia, o menino varreu o lixo para debaixo do tapete. Um lixo
quente do passado, trazido pelo vento, mas não veio só lixo, veio
também uma semente que ele não percebeu.
E sem que ninguém esperasse, ao raiar do dia, o menino acordou
com os olhos arredondados, ainda fechados, para esconder debaixo
do tapete o sono mal acordado. E eis que percebeu no meio da sala
de visitas, no lugar do tapete, uma árvore gigante com um tronco
que nem mil abraços abraçariam aquela árvore esquisita.
Primeiro o menino ficou espantado. Depois curioso. E como tudo
por ele era investigado. Tocou na árvore para saber se estava
mesmo acordado.
- Que legal! Tem uma árvore no meio da minha casa!, exclamou o
menino ouvindo o riso da árvore.
A árvore estava na sala de visitas. No meio da casa. E tudo que
ficava no meio da casa a mãe reclamava. O menino ficou
imaginando o que aconteceria quando a mãe visse aquela árvore
tomando conta da sua sala bonita.
O menino tirou as cadeiras da sala, pois agora havia balanços de
corda dependurados na árvore.
O menino tirou o telhado da sala, pois agora tinha a sombra da
árvore.
O menino tirou os móveis da sala, pois agora tinham os galhos da
árvore.
A casa do menino era a única no mundo com uma árvore na sala de
visitas. O menino era orgulhoso daquilo. Já pensou se todas as
casas tivessem uma árvore dentro delas? Como seria legal!, pensou
o menino.
E a sua casa foi considerada o centro do universo. Um lugar
sagrado onde todos queriam estar.
As pessoas acreditavam que muitos deuses moravam dentro
daquela árvore, no meio da casa do menino e passaram a cultuar a
árvore.
A mãe adorava a árvore. O pai adorava a árvore. Os avós adoravam
a árvore. E isso era bom para o menino que tudo observava.
Muita gente fazia fila na frente da casa do menino só para ver a tal
árvore gigante que levava as pessoas para perto dos deuses. À sua
porta todos batiam noite e dia, dia e noite.
- Toc, toc, toc, toc – o menino já não aguentava – toc, toc, toc, toc...,
o povo insistia.
Quando a noite chegava a árvore precisava descansar e às seis horas
já dormia. O povo, em respeito, silêncio fazia e na casa não entrava
até amanhecer o dia.
- Ronc, ronc, ronc... – era o ronco da árvore – ronc, ronc, ronc... –
roncava a árvore gigante. E o menino que da árvore não ficava
distante colocou a sua cama debaixo dela.
O menino subia na árvore só para ver o céu mais de perto e fazer
correria atrás das nuvens.
Mas um dia deu cupim na grande arvore. Primeiro no tronco,
depois nos galhos e tomou conta de tudo. Ela parou de sorrir. Até
nos sentimentos do menino havia cupins.
Então o menino tomou uma decisão. Antes que os cupins
destruíssem tudo de bom naquela casa e em si era melhor dá um
jeito neles.
O menino começou a tirar cupim por cupim da árvore e os jogou
pela janela da casa. O vento levou os cupins para bem longe.
A grande árvore voltou a sorrir. Os sentimentos do menino
voltaram a florir. E os cupins nunca mais apareceram ali.
Rosângela Trajano
O menino escondia os brinquedos, os sapatos, a bola, seus medos
e a sacola debaixo do tapete. Se alguém pedia esmola o menino
retirava qualquer coisa debaixo do tapete e entregava ao pedinte.
Um dia, o menino varreu o lixo para debaixo do tapete. Um lixo
quente do passado, trazido pelo vento, mas não veio só lixo, veio
também uma semente que ele não percebeu.
E sem que ninguém esperasse, ao raiar do dia, o menino acordou
com os olhos arredondados, ainda fechados, para esconder debaixo
do tapete o sono mal acordado. E eis que percebeu no meio da sala
de visitas, no lugar do tapete, uma árvore gigante com um tronco
que nem mil abraços abraçariam aquela árvore esquisita.
Primeiro o menino ficou espantado. Depois curioso. E como tudo
por ele era investigado. Tocou na árvore para saber se estava
mesmo acordado.
- Que legal! Tem uma árvore no meio da minha casa!, exclamou o
menino ouvindo o riso da árvore.
A árvore estava na sala de visitas. No meio da casa. E tudo que
ficava no meio da casa a mãe reclamava. O menino ficou
imaginando o que aconteceria quando a mãe visse aquela árvore
tomando conta da sua sala bonita.
O menino tirou as cadeiras da sala, pois agora havia balanços de
corda dependurados na árvore.
O menino tirou o telhado da sala, pois agora tinha a sombra da
árvore.
O menino tirou os móveis da sala, pois agora tinham os galhos da
árvore.
A casa do menino era a única no mundo com uma árvore na sala de
visitas. O menino era orgulhoso daquilo. Já pensou se todas as
casas tivessem uma árvore dentro delas? Como seria legal!, pensou
o menino.
E a sua casa foi considerada o centro do universo. Um lugar
sagrado onde todos queriam estar.
As pessoas acreditavam que muitos deuses moravam dentro
daquela árvore, no meio da casa do menino e passaram a cultuar a
árvore.
A mãe adorava a árvore. O pai adorava a árvore. Os avós adoravam
a árvore. E isso era bom para o menino que tudo observava.
Muita gente fazia fila na frente da casa do menino só para ver a tal
árvore gigante que levava as pessoas para perto dos deuses. À sua
porta todos batiam noite e dia, dia e noite.
- Toc, toc, toc, toc – o menino já não aguentava – toc, toc, toc, toc...,
o povo insistia.
Quando a noite chegava a árvore precisava descansar e às seis horas
já dormia. O povo, em respeito, silêncio fazia e na casa não entrava
até amanhecer o dia.
- Ronc, ronc, ronc... – era o ronco da árvore – ronc, ronc, ronc... –
roncava a árvore gigante. E o menino que da árvore não ficava
distante colocou a sua cama debaixo dela.
O menino subia na árvore só para ver o céu mais de perto e fazer
correria atrás das nuvens.
Mas um dia deu cupim na grande arvore. Primeiro no tronco,
depois nos galhos e tomou conta de tudo. Ela parou de sorrir. Até
nos sentimentos do menino havia cupins.
Então o menino tomou uma decisão. Antes que os cupins
destruíssem tudo de bom naquela casa e em si era melhor dá um
jeito neles.
O menino começou a tirar cupim por cupim da árvore e os jogou
pela janela da casa. O vento levou os cupins para bem longe.
A grande árvore voltou a sorrir. Os sentimentos do menino
voltaram a florir. E os cupins nunca mais apareceram ali.