Foto Meu Netinho, Pedro.
Antonio de Albuquerque


Pedro e a Flor

Pedro sonhou falar com açucena, uma flor que vivia na montanha, lugar misterioso para ele. O dia raiou numa canção de alvorada, com o majestoso Sol pintando d`ouro o amanhecer sertanejo. No céu azul, alvíssimas nuvens tomavam diversas formas; cavalos, carneirinhos, borboletas e passarinhos. Pedro subia a montanha na esperança de se encontrar com a açucena, linda flor que havia visto em sonho, sendo que naquela região açucena era raríssima e só se mostrava na primavera. Seria um grande privilégio poder falar-lhe e tinha pressa por saber que a linda flor logo se mudaria de lugar, conforme sua mãe havia lhe ensinado.

Caminhava com passos rápidos, temendo chegar tarde e a flor haver se mudado de lugar. Exausto pela subida íngreme, resolveu sentar-se à sombra de uma gameleira para melhor observar, e ao avistar açucena, próximo, foi tomado por intensa alegria, e ao dirigir-se a ela disse: — Olá florzinha, sonhei com você, por isso vim vê-la. — Eu sei! Nós nos encontramos em sonho, eu também quero lhe falar. — Respondeu a bela flor orvalhada. — Sim, é verdade, mas o que faz você nesse lugar tão deserto? Existem lugares aonde você pode ser vista e admirada facilmente, mostrando sua beleza e encanto.

— Não me sinto sozinha, sou um enfeite da natureza, outras plantas me fazem companhia e estou aqui para tornar o lugar mais bonito, esta é minha missão, visto que na minha vida não existe sofrimento e em meu mundo encantado sou vista por alguns, sendo você privilegiado por ter o direito de falar comigo. Em breve não mais estarei aqui, mas no curso normal de sua vida, você verá e falará com outras flores e delas ouvirá bons conselhos. Nem sempre nos verá em forma de flor, pois somos encantadas e nós, nos mostramos como nos convém. Em sua bela existência procure amar a vida, a liberdade e a natureza, assim viverá momentos fascinantes em sua brilhante vida.

— Sim, farei isso, mas não vá embora, dê-me a esperança que ficará aqui para conversarmos outras vezes. — Eu me sinto tão só! Prometa não ir embora, eu preciso conhecer tantas coisas, você pode me ensinar o que é a vida, e seus mistérios, a morte. Assegure-me que nunca morrerá, não quero lhe perder. - As flores não morrem, a morte não existe, é tão somente uma palavra, uma mudança, uma passagem, não é um final, a vida é infinita. As flores são transportadas pela natureza a outros lugares para embelezar e encantar, como fazem os passarinhos, as borboletas, os colibris e também os vaga-lumes, enfeitando as noites com pequenas luzes, anunciando novo amanhecer. Nós nos veremos muitas outras vezes e você receberá sempre uma nova lição e noutro momento compreenderá todos os porquês. Existe tempo para tudo, sendo este o Grande Arquiteto do Universo, — Asseverou a flor. — Você é tão linda! Amanhã voltarei a vê-la. Em um gesto de carinho, beijou suas pétalas umedecidas pelo orvalho da noite, prometendo voltar no dia seguinte, ao nascer do sol e com grande alegria desceu a montanha. O Sol declinava e em sua mente estava açucena, a imagem do amor a florescer em seu coração. Na manhã seguinte voltaria na esperança de encontrar-se com a açucena.

O dia brilhava quando novamente Pedro subiu a montanha, encontrando no lugar de Açucena um lindo pomar com milhares de belas flores, árvores floridas e outras carregadas de frutos, algumas com ricos favos de mel, mas não vendo açucena, permaneceu em silêncio pensando na flor: — Você é tudo que eu vejo nesse jardim de fulgurante beleza; a esplendorosa natureza, o amor, a grandeza, sendo também você, o silêncio, o brado dos que não falam; pois é no silêncio que faço minhas preces; adoro o Sol, as estrelas, choro, amo e falo com você, minha adorada flor. Com os olhos marejados,
Pedro contemplou o belo encantamento e guardou em segredo por toda sua infância.
 
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 12/07/2019
Reeditado em 23/07/2019
Código do texto: T6694303
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