A lenda da rosa e do beija-flor

Houve um tempo em que tudo podia acontecer. Até mesmo uma rosa se apaixonar por um beija- flor!

Numa época há muito distante, vivia uma rainha bem velhinha que desejava ter um filho.

Num belo dia de primavera esta rainha foi contemplada com o nascimento de uma linda menina. A princesa tinha os lábios cheios e rubros que mais se pareciam um botão de flor e sua face era aveludada e cor de rosa. A rainha então decidiu chamar a princesa de Rosa, por ela tanto se assemelhar à mimosa flor.

O velho casal de monarcas ficou radiante com a chegada da bela Rosinha. Mas preocupados com as pragas de bruxas e duendes que assolavam o reino resolveram trancar a princesa na torre mais alta do castelo, imaginando que assim ela estaria protegida para sempre.

E durante muitos anos a princesa ficou presa na torre.

O tempo passou e a princesa tornou-se uma linda mocinha. Ela nunca brincou com as meninas de sua idade. Rosa cresceu solitária na torre fria do castelo. Mas mesmo assim era muito feliz, porque tinha a companhia de seus animais de estimação.

Numa fria manhã de inverno, o vento bateu levemente na janela do castelo. Parecia convidar a princesa a admirar a paisagem branca lá fora. A princesa então se aproximou da janela para tocar os pequeninos flocos de neve que caíam.

Ao estender suas mãos para apanhar um floco cristalino precisou colocar a cabeça para fora da janela. Foi quando um estranho visitante se aproximou da princesinha e a beijou delicadamente na boca.

Rosa se afastou assustada, mas a avezinha esquisita continuou a persegui-la. De repente o passarinho parou e pediu desculpas, envergonhado.

_Desculpe-me! Por um instante achei que sua boca fosse uma flor.

E continuou falando:

_É que sua boca é tão doce e cheirosa que fiquei com vontade de sugá-la e aspirar todo o seu mel!

A princesinha riu do estranho passarinho que flutuava diante dela.

Ninguém nunca havia lhe beijado a boca. Mesmo que esse beijo mais parecesse um beliscão.

_Quem é você passarinho? Perguntou a curiosa princesinha.

_Meu nome é Bill e sou um beija-flor. Gosto de sair por aí beijando todas as flores que vejo. Mas posso te afirmar que jamais beijei nada tão doce até hoje. Nem o mais puro favo de mel é tão doce quanto os teus lábios. Acho que você deve ser a rainha das flores disfarçada de menina!

A mocinha sorriu encabulada, apesar de estar adorando a conversa com aquele beija flor galante, mas foi logo dizendo.

_Uma flor disfarçada de princesa? Imagina! Só mesmo um beija-flor com uma conversa maluca dessas!

E Rosa continuou a falar:

_Meu nome é Rosa e sou a princesa deste reino. Mas não sou uma flor!

Justificou a princesinha.

_Ah, mas você é a flor mais bela que já beijei!

Afirmou Bill com convicção.

_Você deveria se chamar beija boca e não beija flor!

Disse a princesa divertida.

E a partir deste dia nasceu uma bela amizade entre os dois.

Bill beija-flor ia todos os dias visitar a princesa no alto da torre e ao entrar pela janela ele beijava delicadamente os seus lábios.

Era uma amizade única e intrigante. A amizade entre a linda Rosa e o galante beija-flor! Os dois ficavam conversando durante horas. A princesa nunca havia sido tão feliz!

Enfim chegou o verão. Época em que os pássaros voam livremente no céu azul em busca dos raios de sol para se aquecerem.

O rei adorava uma boa caçada e neste dia ensolarado resolveu sair com sua velha espingarda à procura de alguns marrecos selvagens para abater.

Ao sair do castelo ele avistou um bando deles que sobrevoavam em frente à janela da torre onde a princesa Rosa estava aprisionada.

Ele mirou em direção aos patos selvagens e atirou. O monarca não conseguiu enxergar sua filha, porque sua visão já não era tão boa quanto antes, pois estava bem velhinho.

Mas ao atirar no bando de marrecos o velho rei não se deu conta de que naquele exato momento Bill beija-flor chegava à torre para beijar os lábios de sua delicada Rosa.

Foi um beijo da despedida. Um beijo longo e intenso que nunca antes Bill havia partilhado com Rosa. E foi durante essa troca de carinhos que a bala disparada pelo velho rei atravessou o pequenino coração do beija flor.

Bill foi caindo diante do olhar atônito da princesa que a tudo assistia sem nada entender. Na brancura de seu vestido, algumas gotas do sangue do beija-flor vieram a respingar.

Ao ver o corpo miúdo do pássaro caído na neve derretida, Rosa se deu conta de que estava novamente só. E num ato de desespero, decidiu que Bill beija-flor não ia partir sozinho. Ela iria com ele.

A vida não teria mais graça sem o beijo doce de Bill. E sem a alegria de seu beijo tudo estava perdido.

O povo de seu reino jamais entenderia o amor puro e sublime que havia surgido entre a Rosa e o beija-flor. Um amor nascido de um delicado beijo.

A princesa então saltou para a morte! Subiu no parapeito da janela e antes de pular ainda gritou por seu amado.

_Bill, espere, eu vou com você meu amigo!

E pulou. Caindo morta ao lado do amado e deixando o mundo dos vivos para sempre.

Diz à lenda que Deus não ficou feliz com o suicídio de Rosa e para castigá-la resolveu transformá-la em uma linda flor. Rosa só voltaria a ser princesa, se algum dia Bill a encontrasse e a beijasse de novo. Só assim o encanto se quebraria e os dois poderiam ser felizes para sempre.

Mas até hoje o beija-flor não encontrou a Rosa amada e por enquanto o feitiço ainda não foi desfeito. Bill prossegue incansável a procura de sua rosinha.

Os beija-flores, solidários a dor de Bill, resolveram se unir para ajudá-lo em sua infinita procura. E é por isso que eles saem beijando todas as flores que encontram por aí. Eles estão em busca da princesa que virou flor.

Fim

Siria Malta
Enviado por Siria Malta em 03/07/2019
Reeditado em 14/06/2021
Código do texto: T6687389
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