Rita, a vovó e a árvore

Rita sabia escalar árvores muito bem. Ela sabia exatamente onde deveria colocar o pé para não correr o risco de cair quando estivesse quase atingindo o topo da árvore. Subia com uma facilidade incrível e dificilmente sentia medo de escalar a maior árvore que existia no quintal.

Sua vó chamava sua atenção, pedia para Rita ter cautela ao subir de galho em galho, porque se caísse ela iria se machucar bastante. Mas os pedidos de sua vó pareciam entrar por um ouvido e sair por outro, porque Rita não queria parar com a brincadeira, queria mostrar que era muito esperta e confiante, além de sapeca e cuidadosa.

Rita achava que subindo na árvore conseguia provar tudo isso para sua vó, ela pensava que conseguiria ser esperta e confiante, porque iria escalar a árvore mais alta, sem medo de escorregar e não cumprir a tarefa. Ela também provava ser sapeca porque parecia estar desobedecendo sua vó, porém era também cuidadosa, afinal, queria demonstrar que não cometeria erros.

Conforme os anos avançavam, Rita sentia-se cada vez mais empenhada na tarefa de escalar a árvore. Ela sentia os galhos baterem com mais frequência nas suas costas quando pulava de um tronco para outro, tudo porque estava ficando maior e maior e dificilmente os galhos conseguiam se esquivar de uma menininha tão grande como Rita.

Mesmo assim, a tarefa era divertida e a árvore esperava ansiosa o verão chegar, pois sabia que Rita passava as férias na avó e então ela com certeza subiria na árvore. Era um compromisso marcado anualmente e nenhuma das duas – nem Rita, nem a árvore- desmarcavam esse compromisso.

Mas, teve um verão que tudo foi diferente, tudo de errado e ruim aconteceu. Rita, em seu primeiro dia de férias, quando chegou na casa da avó correu para o quintal, mas a árvore não estava lá. Ela procurou, chegou até a esfregar os olhinhos para ver se não estava sonhando.

Perguntou para a avó onde estava aquela linda e tão especial árvore, onde estava sua companheira de férias tão amável que a recebia com um abraço tão caloroso, todo o verão? A avó percebeu a tristeza na voz da neta e sentiu que deveria contar o que estava acontecendo de verdade. Explicou para a Rita que a árvore ficou muito doente, pois estava com idade avançada e estava já muito cansada.

Ela adorava o quintal e o sol, além de adorar receber as visitas dos pássaros de manhã e as visitas de Rita durante os verões, mas já não aguentava mais esperar novos dias, estava ficando fraca e suas folhas sem vida. Não era mais a árvore alegre, até que certo dia ela não mais estava viva.

Rita entendia que sua amiga tinha partido e que assim como ela sentiria saudades de todos os momentos juntas. O lugar onde costumava ficar a árvore estava vazio, apenas um buraco enorme com terra. Rita percebeu que precisaram cortar fora as velhas raízes, tirar tudo o que tinha restado de sua amiga, pois o terreno estava sendo preparado para outra muda. A avó notando os minutos silenciosos se prolongarem e o olhar triste da neta, convidou Rita para plantar uma nova árvore junto dela.

Hesitante, ela aceitou, mas não ajudou muito a avó, ficou observando muito mais do que ajudar a molhar a terra, jogar as sementes, tampar o buraco. Quis saber se iria demorar para a árvore nova nascer, mas a avó disse que cada árvore tinha o seu tempo de nascer, crescer, florescer e morrer, mas que Rita iria conseguir ver a árvore grande daqui alguns anos. A neta ficou um pouco mais animada e quis saber se a avó também iria conhecer a árvore nova, mas, infelizmente, a avó não soube dizer.

Explicou para Rita que assim como a árvore antiga havia ido embora pois estava velha e cansada, ela também iria um dia partir, quando todos estivessem bem grandinhos e já soubessem viver sozinhos. Rita não entendeu sobre o que a vó disse, mas concordou com a cabeça, pois queria mostrar que era inteligente.

O verão passou muito rápido e mesmo que a árvore não estivesse lá, Rita percebia que passar um tempo com sua vó e desfrutando ao máximo da companhia dela era excelente. Com o fim do verão, Rita voltou para casa, se despediu de sua nova companheira de férias; sua avó.

O restante do ano passou voando e finalmente era verão outra vez. Rita, junto de seus pais, seguiram para a casa da avó. “Como será que estará a árvore?”, pensava ela durante a viagem. Chegando, saiu do carro muito rápido e correu para o quintal. A sua preocupação com a árvore tinha uma explicação.

Se aproximando do local onde estava a árvore, Rita percebeu que já havia um tronco bem fino e muitos galhos com folhas verdes. Já existia sombra que protegiam seus pés. A felicidade inundou seu coração. Ela cumpriu o seu dever, cumpriu o pedido que sua vó tinha feito meses atrás para ela.

Doente, pediu para Rita cuidar da árvore que plantaram juntas. Rita prometeu que do fundo de seu coração iria cuidar direitinho.

Se aproximando mais da pequena árvore, sentou-se perto dela e olhou para cima, para o céu. Sussurrou tão baixo que só a sua arvorezinha poderia escutar; “Vovó, olha só...estou cuidando dela, como a senhora me pediu antes de partir”.

Palavras de Verona
Enviado por Palavras de Verona em 23/06/2019
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