A ILHA

Às vezes a vida fica enfadonha e as pessoas resolvem repaginar o seu viver, tenta sair do marasmo e inventa, tenta e acaba descobrindo uma luz ao fim do túnel. Essa foi também a atitude de John, um homem de seus 42 anos, recém-separado e sem filhos. Pescador por profissão, mas metido a faz tudo.

John morava numa bela casa que ganhou de presente de um padrinho rico, assim que ele casou-se. A ex-esposa preferiu deixar com ele ao separarem, mas John não era feliz naquela casa, muito menos com a vida que levava, então resolveu comprar um barco e sair mar adentro em busca de aventura.

O barco não era lá essas coisas... Mas suportava um mar agitado e possuía espaço para levar algumas coisas. John preveniu-se com reserva de comida, redes e vara de pescar, maleta de ferramentas; roupas de frio, etc... Como John já estava bastante tempo morando sozinho, não disse para ninguém sobre o seu plano de viajar em alto mar, preparou tudo e partiu para a sua aventura.

No seu pequeno barco, viajou por meses em alto mar, já nem sabia mais a sua real localização, totalmente perdido no tempo. Atravessou tempestades e dias de calmaria, passou por paisagens deslumbrantes até que nada mais pôde observar... Apenas água por todos os lados.

Passou dias pescando e assando seus peixes da maneira que lhe era possível naquele barco. John ao mesmo tempo em que se sentia sozinho, conseguia companhia dos peixes e aves por toda parte. Dessa forma, o pescador ia se distraindo e seguindo sem rumo certo.

Quando o barco apresentava alguma avaria, lá estava John consertando tudo, pois para isso era muito habilidoso. Por vezes inventava engenhocas também e se divertia com as suas invenções.

Um ano e três meses se passaram e John já estava ficando preocupado com a sua sobrevivência, pois muito tempo se passara sem que avistasse terra firme e, portanto, nenhum reabastecimento pôde ser feito. O combustível que era farto estava acabando e o seu estoque de alimentos também.

Mas um homem do mar também conta com a sorte e John logo avistou o que parecia uma ilha e todo feliz preparou-se para tomar aquela direção. Era, na verdade, uma pequeníssima ilha, a sua extensão talvez fosse à metade do tamanho de um estádio de futebol. Era uma beleza no meio do nada cercada por um mar desconhecido e muito distante.

John chegou à ilha e a princípio, ficou maravilhado! O lugar perfeito para passar uns tempos e esquecer tudo aquilo que vivera esses anos todos em terra firme. Como toda boa ilha, tinha coqueiros carregados e outras árvores frutíferas também.

A ilha escondia um mistério. John jamais poderia imaginar aquilo que esperava por ele naquele pedaço de chão que mais parecia um paraíso com águas azuis, fartura de peixes e aves e ainda contava com frutas de várias espécies.

John retirou do barco, toda a sua bagagem e iniciou de imediato a construir um local apropriado para proteger-se das chuvas e do sol. Foi encontrando o material perfeito para montar uma barraca, John havia levado consigo algumas lonas e barbantes, arames e as suas ferramentas; dessa forma não encontrou maiores problemas para a sua mais nova construção.

O que John ainda não sabia era que as águas do mar baixavam de doze em doze dias e com isso revelava a montanha imensa, ora submersa, onde ele se encontrava. E dentro de três dias esse fenômeno haveria de acontecer pela primeira vez com a presença de John.

Enquanto isso, a barraca improvisada ficou ótima! John estava se sentindo como um Robinson Crusoé sem o SEXTA -feira, claro! Pescava toda manhã e assava o seu peixe numa engenhoca que criou.

No terceiro dia na ilha, portanto, ainda na madrugada, John dormia tranquilamente, e o mar começou a se esquivar, baixando as suas águas num fenômeno surreal e inexplicável. Ao amanhecer, John despertou-se e se deu conta que a sua ilha era na verdade uma alta montanha tomada pela mar. Inerte olhando para baixo, em desespero, logo pensou: - “meu Deus! Como sairei daqui agora?”.

Não tinha para onde ir, lá embaixo tinha o mar e a montanha era muito íngreme, John estava ‘numa fria’! Pelo menos por algum tempo, John sabia que sobreviveria tranquilamente naquele lugar, pois tinha comida, água de coco e uma barraca para ficar.

Passaram-se novamente doze dias e naquela manhã, ao despertar-se, não acreditou no que estava vendo, o mar estava de volta e feliz começou a pular e cantar em volta da sua barraca, parecia uma criança ao ver o mar pela primeira vez. Então John foi percebendo que esse fenômeno era constante e começou contar os dias entre os intervalos do evento, descobrindo assim, que de doze em doze dias, o mar sofria essa baixa.

John estava tão concentrado nesse evento que sequer percebeu a ausência do seu barco que desde a primeira baixa do mar, foi jogado contra a montanha e destruído. John agora, não tinha como sair da ilha.

Ao perceber que estava sem transporte e a reserva de alimentos chegando ao fim, John começou a ficar nervoso e não sabia o que fazer. Sozinho e sem comunicação, ficou desolado, muito triste e chorou muito.

No dia seguinte, fincou alguns galhos de árvores ao chão e sobre a ponta enviou pedaços de coco e desenhou neles: olhos, nariz e boca e com as palhas fez uma espécie de cabelo em cada um. Eles estavam dispostos em circulo e a partir de então, John começou a conversar com eles como se os mesmos pudessem ouvir e entender o que ele dizia. Tudo isso era uma fuga, um refúgio, um alento diante da solidão, mas John desconhecia os mistérios da ilha, ali aconteciam coisas surreais além da nossa imaginação.

A ilha era encantada e as coisas ganhavam vida de acordo com os desejos inconscientes das pessoas que por ali passavam. John, conversando com seus bonecos de madeira e cabeça de coco, começou a “batizar” cada um com nomes de super-heróis que ele gostava, entre eles, Super-homem, Batman, Homem de fogo e Homem de ferro, etc.

No dia seguinte a ilha foi tomada por uma fumaça estranha e John ficou sem enxergar por uns minutos, mas quando a fumaça findou, eis que os bonecos começaram a ganhar vida e interagir com o seu criador. A princípio, John pensou que estava sonhando, mas logo descobriu que aquilo era real e com o tempo foi se acostumando. John agora não estava mais sozinho e como uma família, passou a conviver, o pescador resolveu então, refazer a sua vida ali mesmo, não queria mais voltar para casa, porque aquela ilha encantada haveria de ser a sua nova casa e os seus bonecos com nomes de super-heróis passariam a ser como os filhos que nunca teve.

Cada boneco tinha um poder diferente, o super-homem além de voar, possuía uma força de gigante, o Batman recebeu o poder de transformar coisas e sempre conseguia comida, transformando as folhas das árvores em carnes e legumes; o Homem de fogo além de acender fogueiras, esquentava a todos... Nas noites frias e o Homem de ferro era mais molenga que uma geleia, ainda precisava aprender muito...

John passara a viver num conta de fadas, a vida na ilha ficou maravilhosa e em pouco tempo nada mais importava daquilo que havia ficado para trás. As descobertas eram constantes, pois a ilha ainda reservava muitas surpresas que por enquanto ficarão por conta da nossa imaginação.

Fim.

Ênio Azevedo.

Luciênio Lindoso
Enviado por Luciênio Lindoso em 28/05/2019
Código do texto: T6658521
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