A FOTOGRAFIA

No interior do Piauí eu nasci. Minha graça é Jaci. Eu e meus oito irmãos não tivemos a vida fácil. Às vezes tudo que tinha era um pouco de farinha. Dispensa vazia, corações cheios. A gente se divertia, brincava como podia. Fazia de uma caixa vazia uma tevê e ficava tudo assistindo. A imaginação brotava e botávamos em imagens tudo que víamos no sertão. Enganávamos a tristeza e até a fome. Um rolo de macarrão servia de telefone. Podia ligar pro papai do céu e pedir que olhasse por nós. A noite a gente ouvia histórias que os velhos contavam. No céu estrelado e encantado, nossos sonhos eram projetados. Eu virava a princesa dos contos de fadas e me via com o vestido mais lindo, azul e brilhante, como aquele céu. Meus irmãos também sonhavam, seus olhinhos denunciavam. Mas o dia mais legal e o único que registramos, foi um dia que papai ganhou dinheiro na carvoaria, o suficiente pra botar na mesa. No almoço além de farinha, teve arroz, feijão e ovo. Comemos com gosto, embora a porção fosse pouca. E à tardinha, quando o sol já ia embora, apareceu um moço contente. Mostrou pra gente uma caixa mágica que faria nosso retrato. Disse que de graça faria a fotografia, se minha mãe concordaria. Mamãe concordou e juntou todo mundo. O Juarez pegou a velha roda de bicicleta e o Francisco a sombrinha. Eu na frente de vestido, fiquei toda faceira. A alegria estampada nos sorrisos contagia todos que olham a foto. Papai colocou numa moldura e penduramos na sala de casa. Foi a única foto que tivemos da infância.