Um triste aprendiz de Águia

Certa vez, um filhote de Águia gostou tanto do lugar onde nasceu que nunca quis abandoná-lo. Seus irmãos, na época certa, levantaram voo e foram embora sem se importarem com ele, já que se recusou a voar também.

Seus pais, por algumas vezes, insistiram que ali ele estaria sem o apoio familiar e alertaram-lhe dos riscos de deparar-se com alguns predadores, mas sentia-se tão bem, naquela árvore frondosa e acolhedora, onde havia até o ninho que eles construíram e que lhe servia de abrigo todas as noites. Sempre estava atento a qualquer barulho diferente, nunca se esquecia das recomendações de seus pais sobre os perigos. Levava uma vida pacata, sem grandes voos, grandes paisagens e grandes caças. Sua alimentação era a mesma, já que só buscava nas regiões próximas.

Uma tarde de inverno, como de costume, saiu em busca de alimento. Esperou no mesmo lugar, mas não aparecia nada, nem uma pequena cobra sequer. Então resolveu ir mais longe... E, nada! Porém ele não percebeu a aproximação de uma tempestade, já era final de tarde e ainda estava faminto. Tentou voltar, mas o vento levava-o cada vez mais longe! Ficou desesperado... Todavia, passado um tempo, a tempestade cessou. Ele atônito, não sabia que lugar era aquele onde estava... Sentiu medo, frio e ainda muita fome. Nenhuma “alma viva” aparecia. E, com muito esforço achou o horizonte, determinou um rumo, criou coragem e voltou. Voou... Voou... Até avistar um pequeno riacho onde, às vezes, conseguia alguns pequenos peixes. A felicidade lhe bateu! Enfim um lugar conhecido; estava próximo de seu ninho. Conseguiu pegar alguns peixinhos, saciando a fome. E finalmente, chegando à sua árvore tão protetora e acolhedora, ficou aterrorizado. Ela jazia ao chão, arrancada com a violência do vento. Não podia acreditar. Era seu único abrigo, não sabia o que fazer. Desabou em pranto! Seu ninho todo despedaçado ao lado de um galho quebrado. A noite estava fria, mas seu coração muito mais. Recostou-se em um galho, protegendo-se com as folhas e adormeceu. Sonhou... Neste sonho via seus irmãos, a família cresceu, seus pais haviam tido mais quatro filhotes. Como ia conhecê-los. Até parecia que eles não lembravam mais. Não fazia mais parte daquela família.

Ao acordar lembrando-se do sonho, pôde entender que agora teria de sobreviver sem sua árvore, seu ninho e sem sua família. Estava só, sem abrigo e sem ninguém para dividir suas angústias. Mas entendeu também que não tinha a quem culpar, pois havia sido ele quem escolheu o próprio destino. Levantou a cabeça, esticou o pescoço e encarou o céu em busca de novos horizontes.

Às vezes preferimos acomodar-nos na tranquilidade, na zona de conforto, com receio de encarar a vida, de enfrentar as dificuldades. Entretanto, nada é completamente seguro e em algum momento temos de escolher: enfrentar ou desistir.

Eu escolhi a atitude do pequeno filhote: enfrentar as tempestades e as adversidades, em busca de experiência.

Escrito por:

Pérola Guimarães

20/12/2018

Pérola Guimarães
Enviado por Pérola Guimarães em 30/01/2019
Reeditado em 14/03/2019
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