A despedida de um amigo

O pinguim tinha um amigo pequeno, brincalhão e muito esperto. Era um menininho engraçadinho, cheio de vontade de explorar o mundo ao redor. O menininho era tão pequeno que os adultos o chamavam de criança. Mas, para o pinguim, o menininho era seu melhor amigo e era também corajoso.

Brincavam o dia todo. Quando o pinguim escutava o barulho do portão de metal batendo, sabia que seu amiguinho tinha chegado. O pinguim era de pelúcia. Branco e preto eram suas cores e estava sempre perfumado. Era tão fofinho que até alguns adultos queriam ter um igual. Usava sempre um cachecol colorido, bem quentinho, dado pelo menininho, seu amigo fiel.

Quando brincavam não viam a hora passar. Sentiam medo de as horas avançarem rápido demais, mas ao mesmo tempo, tinham esperança de que o dia seguinte logo chegaria e, portanto, poderiam brincar mais e mais. Em uma manhã, depois do menininho tomar café da manhã, escovar os dentes e se despedir de seu amiguinho fiel, partiu para a escola. Ele caminhava a pé todos os dias e, enquanto o amiguinho não voltava, o pinguim ficava sentado na cama esperando com ansiedade pelo menino.

As horas avançaram demoradamente naquele dia. O telefone tocou, a campainha também, mas nada do menininho chegar. O sol já estava indo embora, o frio da noite já anunciava presença, mas o menininho não tinha chegado ainda. O portão de metal bateu com força. O pinguim ficou contente, porque devia ser seu amigo. Porém, quem entrou no quarto havia sido o pai. O pai era o nome daquele enorme homem que o menininho amava de uma forma bem profunda. O pinguim percebia isso através do olhar de seu amigo, pois o menininho sorria só de olhar para aquele homem enorme, bondoso e forte.

O pai sentou na cama, exatamente do lado do pinguim. Parecia triste, parecia preocupado. Pinguim sentiu uma pontada de medo, mas não era o medo de quando ele e seu amiguinho brincavam de faroeste e tinham que salvar a vila do homem mau. Sentiu medo, porque percebeu que o pai estava triste demais. Se perguntou então: “onde estará meu amiguinho?”. Quis falar com o pai, mas se fizesse isso o homem não entenderia, afinal, só o menininho era seu amigo. Resolveu então ficar em silêncio e esperar que o pai falasse algo, avisasse o porquê de toda aquela feição triste. Enquanto esperava, torcia para o menino, seu amigo, chegar logo, mas isso não aconteceu. O pai então, inesperadamente, pegou o pinguim nas mãos. Olhou bem no fundinho de seus olhos e em meio as lágrimas – o pinguim conhecia o que era aquela água salgada saída dos olhos – disse à pelúcia em forma de pinguim: “Ele não vai mais voltar”.

Desesperado para conter as emoções, no início não entendeu o que significava aquela frase. Ele entendia poucas coisas da língua humana. Sabia de algumas expressões e palavras por causa do menininho, conhecia sons e memorizava outras situações por causa de seu amiguinho fiel. Mas, a frase “ele não vai mais voltar” o pegou desprevenido. Sentiu que não era coisa boa, porque as lágrimas anunciavam que algo triste tinha acontecido. O pai, enquanto o pinguim pensava, chorava sem parar e finalmente resolveu sair do quarto. Deixou o pinguim sentado na cama, do jeito que estava antes. As horas avançaram mais ainda, a noite foi ficando mais gelada. Só o abajur tinha sido ligado automaticamente. Figuras eram iluminadas na parede. O quarto estava exatamente como tinha sido deixado pelo menininho, mas ele não estava lá e sua falta foi sendo sentida pelo pinguim que amargurado começava a perceber que seu amigo não voltaria.

E foi assim durante dias, durante semanas, até ele finalmente entender que “ele não vai mais voltar” significava que alguém tinha partido para sempre e que a saudade agora era a única presença massacrante no quatro do menininho. O portão de metal não bateria mais, os gritos de sustos ou de brincadeiras não seriam mais ouvidos e outras tantas aventuras não seriam mais experimentadas.

Soube, mais tarde, que seu menininho, seu amigo fiel, tinha sido levado embora por causa de homens que atiravam na rua. Bala perdida, mas não doce como a bala que o menininho tinha aos montes nos bolsos e sim balas que terminavam com a vida humana de forma amarga e inesperada. O menininho tinha partido porque alguém resolveu usar a bala amarga e o doce da vida já não tinha importância. Infelizmente, assim como o pinguim tinha ficado sozinho para sempre, tinha sido separado de seu amigo para sempre, outros brinquedos, pelúcias e amigos de uma infância também o tinham sido. Menininhos, menininhas, tão pequenos como aquele pinguim, tinham sido levados embora e a única frase que seus brinquedos prediletos ouviriam seria: “ele não vai mais voltar”.

Palavras de Verona
Enviado por Palavras de Verona em 10/01/2019
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