O pássaro do pé de chichá
Certo dia, um pássaro notou que um pé de chicha estava com as cápsulas dos frutos vermelhas e abertas. Ele adorava comer as sementes negras dos frutos quando maduros! e como pareciam deliciosos e carnudos! Iria ter uma bela refeição!
Era início de novembro. A chicha estava majestosa no quintal. Um céu azul, quase sem nuvens e embora não houvesse quase verde ao redor, de perto, outros pássaros em altos cantos eram percebidos. As poucas nuvens tinham um tom esbranquiçado e, assemelhavam-se de quando em quando aos flocos de algodão do algodoeiro que havia ao lado da casinha pequena.
O pé de chicha tinha um grande tronco e, por ocasião da florada, estava sem folhas. Um cajueiro muito discreto parecia querer jogar alguns cajus no chão, perto dele. Isso atraía outros animais.
Como as sementes da chicha não eram do agrado somente de pássaros, um rebanho de bodes, decidiu vir também saborear das sementes dos frutos de chicha. Isso porque um dos meninos da casa deixara o portão da cerca aberto. O portão ficava ao lado do pé de chicha e era comum se vê o pássaro voar do portão ao pé de chicha, numa espécie de experimentação de qual lugar se tinha uma melhor visão do esplendor do lugar. Era uma visão inigualável realmente, seja para o destaque do pé de chicha ou pela presença do pássaro, que eu observo agora...
Todavia, de repente o pássaro elabora um voo rasante em direção ao rebanho de bodes, que ultrapassavam o portão e seguiam em direção ao pé de chicha. A impressão imediata que se tem é de que ele vai atacar o rebanho, com seu bico ereto e o corpo esticado. Assemelha-se a uma espada em pleno ar, mas com as asas como se fossem um avião descendo rápido do céu.
Da porta da casa, avistava-se o rebanho e quem viu que os bodes iniciou uma corrida desenfreada, com animais para todo o lado, julgou que fosse um enxame de abelhas que havia atado o rebanho.
Por alguns minutos ainda, pairou um ar de perseguição, de ataque, que causava um constrangimento por se saber que um pássaro se considerava dono de uma árvore. É como se o vento trouxesse as palavras “saiam daqui que este alimento é meu!”.
E uma manhã que tinha tudo para ser esplendorosa, ficou numa atmosfera de que o pior sentimento é de posse...