A menina que conversava com a lua

A MENINA QUE CONVERSAVA COM A LUA

A lua no céu parecia observar atentamente aquela menina sentada às margens do lago. Estava ela naquele momento com os pés cruzados e uma das mãos tocando a superfície da água.

Aquela era uma noite de lua nova com clima frio e agradável. O vento que soprava suavemente deixava no ar uma sensação de profunda paz interior.

Clara permanecia calma e silenciosa. Tinha o olhar fixo na imagem da lua refletida nas águas do lago. Vez em quando, levantava a cabeça e desviava o olhar para o céu em direção à lua. Acompanhava aquele movimento com gestos e pronunciava baixinho algumas palavras. Em seguida voltava-se novamente para o lago, colocando os dedos dentro da água fazendo pequenas ondas, como se acariciasse o rosto da lua ali refletido.

Naquele dia, desde que havia chegado da escola, os pais de Clara perceberam que havia algo incomodando a filha.

Ela sempre fora uma menina extrovertida, de sorri¬so fácil, entretanto, naquele dia mostrava-se calada e pen¬sativa.

Sentados à mesa, enquanto era servido o almoço, os pais de Clara, resolveram saber dela o que a estava in¬comodando tanto.

– Tudo bem, filha? – perguntou seu pai.

– Sim – respondeu Clara pensativamente.

Seus pais, não convencidos da resposta, resolve¬ram insistir:

– Você parece preocupada, filha – comentou sua mãe. – Podemos saber do que se trata?

Clara, sentindo-se mais segura com a presença de seus pais, embora ainda com certo ar de preocupação, res¬pondeu:

– Hoje na escola a professora estava explicando sobre o eclipse solar que vai acontecer amanhã.

Houve um instante de silêncio entre os pais e a fi¬lha. Em seguida Clara continuou falando:

– A professora disse que mesmo o eclipse total do sol demorando em média apenas sete minutos e meio, ele deixa uma sensação de algo estranho e melancólico. Isto porque durante o período em que a lua se encontra entre a terra e o sol, neste curto espaço de tempo o dia se trans¬forma em noite.

Os pais de Clara, a partir de então, conhecendo a preocupação da filha, procuraram tranquilizá-la:

– Filha, já assistimos a um eclipse e vimos que nada de anormal acontece com as pessoas. Apenas o dia escurece por uns poucos minutos, mas logo o sol reapare¬ce e a vida na terra volta à sua normalidade.

Mas as preocupações de Clara iam além, e ela con¬tinuou sua fala:

– E os outros animais?! A professora falou que muitos deles sofrem alterações em seus hábitos durante o eclipse.

– Como assim? – perguntaram seus pais.

A menina, procurando se lembrar das palavras da professora, respondeu:

– As abelhas, por exemplo, retornam para suas col¬meias sem concluir suas tarefas, achando que a noite che¬gou.

Clara continuou citando exemplos, justificando que sua preocupação era com todas as formas de vida na terra.

– Os animais de hábitos noturnos saem para caçar, os sapos e grilos começam suas cantorias com o escurecer repentino. As aranhas que haviam construído suas redes, passam a destruí-las; coisa que só fazem no período da noite. Até os cachorros e gatos ficam inquietos e perturba¬dos, sem entenderem o que está acontecendo. Sem falar das plantas que precisam da luz do sol para produzir a fotossíntese – concluiu Clara, mostrando que tinha ficado atenta às palavras da professora.

Após o almoço, todos saíram para a varanda da casa e Clara ficou a observar a paisagem a sua frente. Ali estavam as árvores, os animais, os peixes no lago e as flo¬res no jardim. Ela sabia que tudo que se encontrava à sua frente necessitava da luz do sol para continuar vivo e se reproduzindo.

Clara voltou-se para seus pais, tomou coragem, e fez a pergunta que realmente a incomodava:

– Pai, mãe, e se a lua for teimosa e não deixar mais o sol aparecer? Se agora for noite para sempre?

Já era final de tarde, e Clara caminhou até um pe¬queno jardim onde ela cultivava flores em companhia de sua mãe. Colheu uma rosa branca e a colocou dentro do lago ao lado da lua.

Ali sentada, a menina teve com sua amiga lua a mesma conversa que tivera com os pais. E entre pedidos e explicações, ela prometeu ser sempre uma menina bo-azinha. Isto aconteceria se a lua deixasse o sol voltar a brilhar e a vida no planeta terra voltasse ao normal.

E no dia seguinte, assim aconteceu.

Henrique Rodrigues Inhuma PI
Enviado por Henrique Rodrigues Inhuma PI em 01/11/2018
Reeditado em 28/06/2019
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