A LIVREIRA DA PRAÇA

Todas as tardes, subia em sua bicicleta e pedalava até a praça de sua rua.

A criançada alvoroçada gritava em coro: lá vem ela!

A tia dos livros! Ela chegava as 4 da tarde, jogava um tapete colorido ao chão e juntava as crianças. Colocava os livros infantis que levava na garupa da bicicleta. Toda semana ela ligava pros amigos para pedir livros infantis usados para levar pras crianças da praça. Eram crianças muito carentes, algumas com sérios problemas. Cada uma tinha uma história pra contar.

E foi assim que surgiu o projeto "BRINCANDO DE LER". O objetivo era incentivar a leitura desde a infância, o contato com os livros e a forma lúdica de faze-las gostar de ler. Cada criança levava um livro pra casa e devolvia quando terminasse de ler. Os livros eram trocados para que todas pudessem ler. Quando a criança não sabia ler, ela sentava a criança em seu colo e lia as histórias de aventuras que as fascinavam. Cada dia crescia mais e mais o número de crianças interessadas em ler na praça.

Ela atingia seu objetivo, mas, o que a encantava era o que ela aprendia com a história de cada uma.Se quisesse daria para escrever um livro com cada história real e imaginária de cada criança. Ela já estava acostumada a ouvir de longe a frase "lá vem ela!"Mau ela jogava o tapete e a criançada se esparramava no chão. Tinha livros de histórias infantis, juvenis, de autores conhecidos e de desconhecidos também.

Ela já sabia o gosto de cada criança. Antes de voltar pra casa as crianças lhe abraçavam e retribuiam com carinho os livros que levavam.

E no dia seguinte, elas estavam de volta com o mesmo entusiásmo de sempre.

Um dia, ao cair da tarde, as crianças esperavam anciosas, mas, ela não apareceu. O tempo passou, e elas perguntavam porque a livreira não veio? Elas voltaram tristes pra casa. E no dia seguinte, elas esperaram, mas, de novo ela não apareceu. Paulinho, o mais curioso, resolveu investigar. Perguntou se alguém sabia onde ela morava. Juliana, entrou na conversa e disse que ela morava no final da rua, em frente a sorveteria da dona Ana. Ele reuniu a criançada e sugeriu que fossem até lá. Desceram a rua e pararam em frente a sorveteria.

_É aqui, disse Paulinho._Então vamos chamar!; respondeu Juliana. Espere, tem uma placa lá em cima. Está escrito VENDO ESTA CASA.

De repente, apareceu um homem, e perguntou o que eles queriam.

Ficaram um pouco assustados e falaram num coro só: "Queremos saber porque a tia dos livros não está indo na praça?"

O homem tinha um grande bigode que alisava com os dedos. era careca e sua aparencia meio assustadora, mas as crianças não desistiram de saber o que tinha acontecido com a livreira da praça. Ele com um jeitinho calmo disse as crianças que não se preocupassem, que ela estava bem e tinha deixado um bilhete pra eles. Tirou do bolso o pequeno papel, e entregou ao mais velho da turma e pediu que lessem pra todos.

"Queridas crianças,

desculpe não ter avisado de minha partida. Quero que saibam que vou sentir saudades de cada um de vocês. Continuem lendo porque os livros são seus maiores companheiros. Com um livro nas mãos vocês nunca se sentirão sozinhos. Estou indo morar em outra cidade. Vou levar livros para outras crianças, que assim como vocês, também vão aprender a gostar de ler. Obrigada pelo carinho de cada um. Nunca esquecerei do quanto foi gratificante partilhar com vocês tantas histórias. Talvez um dia a gente se encontre por aí. Um beijo no coração de cada um."

Eles se olhavam com os olhos cheios de lágrimas, sem entender bem o porque, saíram sem dizer uma palavra.

Não tinha mais leitura na praça, mas, ficava o legado que ela deixou. Eles nunca esquecerão a livreira da praça.

Dalva Pagoto
Enviado por Dalva Pagoto em 19/07/2018
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