SONHO DE CRIANÇA
Pedrinho era um garoto humilde e muito triste, vivia com sua Mãe e desconhecia a identidade do Pai. Eles moravam em um assentamento de Sem Terra próximo a uma pequena cidade interiorana no Nordeste do Brasil. Sua Mãe era muito doente e, infelizmente o garoto precisava trabalhar para ajudar nas despesas com alimentação e remédios para ela. Pedrinho gostaria de ter uma vida diferente, ele queria aproveitar o seu tempo de infância: Estudar, brincar, conviver com os amiguinhos, fazer tudo que uma criança na idade dele faz. Pois, para ele, ser criança era ter alegria, era uma época inesquecível. Mas, com Pedrinho não era assim: o menino não aproveitava essa importante fase da sua vida.
Todas as manhãs... O garoto acordava muito cedo, quando a Lua ainda nem havia se escondido, para executar seu ofício diário. Ele seguia pela entrada esburacada, em companhia das estrelas que cintilavam no céu e o luar que iluminava o seu caminho, até o local de destino. Quando o sol já resplandecia por trás dos montes, ele finalmente chegava ao Posto de Gasolina onde vendia pipoca e água mineral para os clientes que iam abastecer seus carros e caminhões. Lá permanecia até o anoitecer, quando retornava para casa, com o corpo cansado e rosto feliz de dever cumprido. Mas, antes ele passava na pequena mercearia e comprava pão. Essa era a rotina diária do pequeno Pedrinho, aos seus dez anos de idade. O menino tinha um sonho de criança: “Queria passar momentos felizes em um Parque de Diversão.”
Chovia muito naquele lugar e, o clima estava tempestuoso. Pedrinho acordou mais tarde, pois ele perdeu a noção do tempo, é que devido as chuvas, lá fora o tempo, ainda, estava escuro. Logo, percebeu que sua mãe ainda não tinha acordado, ele levantou o lençol que dividia a sala em dois cômodos e, se aproximou rapidamente dela e vai falando:
- Mãe, a senhora está bem? Por que, ainda, está deitada? Vou buscar um copo de café, para a senhora tomar seus remédios.
O garotinho já ia saindo, quando a mãe diz:
- Meu filho, hoje, não amanheci muito bem, eu acho melhor você não sair de casa.
Pedrinho fica, inerte, olhando para sua mãe que permanecia deitada em um sofá velho, sem conforto nenhum, abaixa o olhar e responde-lhe:
- Mãezinha, já está faltando açúcar, pó de café e ração para os animais. Por favor, eu preciso ir! Eu te prometo que voltarei mais cedo.
Pedrinho trouxe um copo de café para sua mãe e saiu depressa. Ele estava muito triste, por não poder ficar com ela... raios cruzavam o céu de um canto a outro e a lama dificultavam o trajeto do menino, que corria bastante para chegar ao local de destino. Chegando ao Posto de Gasolina, de longe ele percebeu uma movimentação diferente, algumas pessoas circulavam sem norte e, lá estavam dois caminhões parados, com lonas velhas protegendo a carga da chuva forte. Ele se aproximou de um caminhoneiro e vai logo perguntando:
- Senhor, quer comprar pipoca e água mineral para me ajudar?
- Menino, você não tem idade para trabalhar! Estou sem dinheiro trocado, mas bem que eu gostaria, de um copo d’água, para aliviar minha sede, seria um oásis nesse momento. Responde-lhe e, abaixa a cabeça.
- Eu preciso trabalhar, estou com minha mãe muito doente e, não tenho pai. Não tem importância pelo dinheiro, o senhor pode aliviar sua sede; a água está bem geladinha. Disse-lhe o garoto quase chorando.
O homem pegou a garrafa e tomou depressa, deixando-a vazia e depois pegou uma pipoca e vai comendo tranquilamente. Ele olhou fixamente para Pedrinho, coloca a mão no bolso direito e tira uma nota de Vinte Reais. E falou:
- Pensando bem: tome esse dinheiro e deixe outras garrafas de água mineral, não precisa me devolver o troco.
O homem vai escorrer a água da chuva que estava acumulada em cima da lona e continua falando:
- Jovem, você gosta de Parque de Diversão? Sou dono do Parque, Criança Feliz, que ficará aberto ao público de sexta-feira a domingo, dessa semana, no horário das 08h00 às 21h00 em um acampamento aqui perto. E como cortesia, pela sua gentileza e pureza de coração, deixarei entrada franca para você e um acompanhante no domingo. Traga um amiguinho e venha se divertir conosco. E só me procurar! Pedrinho ficou aos prantos, pois não conseguia conter as lágrimas de felicidade que escorriam pela sua face. Era tudo que ele mais queria. Ser uma criança de verdade. Ele retornou para casa mais cedo, pois lembrou-se que sua mãe não estava muito bem. Ele voltou correndo pela entrada de barro encharcada pela chuva e, entrou no barraco gritando:
- Oh mamãe, onde está a senhora?
- Estou aqui, meu querido! O que houve? Disse-lhe sua mãe.
- Encontrei um homem que vai deixar eu brincar, com um acompanhante, no Parque de diversão dele. Responde-lhe Pedrinho sorridente.
Sua mãe observa a felicidade estampada no rosto do filho, ela fica surpresa, pois o menino dificilmente sorria. Ela tenta incentivar o garoto, mandando-o procurar o filho da vizinha para acompanhá-lo. Pedrinho vai falar com Miguel, o filho mais novo de Dona Marta, que facilmente aceita o convite...
Chegou o domingo, o dia do passeio ao Parque de Diversão. Pedrinho e Miguel saíram cedo, pois grande seria a caminhada até o local onde o Parque estava armado. A mãe de Miguel irá acompanhá-los até a entrada do Parque... O sol estava radiante, brancas nuvens passeavam ao léu como se estivessem seguindo os garotos por todo trajeto. Os olhos dos meninos brilhavam de tanta felicidade, quando eles avistaram o Parque. Estava tudo colorido, bandeirinhas com tonalidades diferentes enfeitavam a entrada principal. Os garotos ficaram parados em frente ao portão de acesso, fascinados pelo cenário, um mundo de pura magia e diversão. O silêncio foi quebrado, pela voz de um senhor chamando os garotos:
- Meninos, podem entrar! Venham rápido até aqui.
Era o mesmo homem, que prometeu a Pedrinho um dia de diversão, o dono daquele Parque. Pedrinho e Miguel foram marcados em cima da mão direita. O homem continuou falando:
- Garotos, com essa marca de carimbo, vocês terão passagem livre e poderão brincar em qualquer brinquedo e comer qualquer tipo de guloseimas que quiserem, pois tudo faz parte do pacote de cortesia. O Parque parecia simples aos olhos de qualquer outra pessoa, mas para Pedrinho e seu amiguinho era um sonho de criança. Era pura animação! Os meninos não sabiam para onde olhar. Eles queriam brincar em todos os brinquedos: Queriam correr na Roda Gigante, girar no Carrossel, andar na Barca, no Trem Fantasma, assistir ao espetáculo da Monga (mulher que vira gorila), entre outros... Eles corriam de um canto a outro aproveitando a grandiosidade do cenário. Logo, pararam em frente a barraca de Tiro ao Alvo e, Pedrinho conseguiu acertar um ursinho de pelúcia, ficando muito feliz. Primeiro, eles decidiram andar na Roda Gigante e, a cada subida e descida, que ela girava, eles gritavam bem alto: “Ah, que frio na barriga!” e, ficaram, assim, contemplando do alto todo cenário. Depois foram andar no Trem Fantasma; Pedrinho estava com medo a cada volta que o trem dava, ele agarrava de um lado a mão de Miguel e do outro apertava bem forte o ursinho. Era hora de andar no Carrossel, de galoparem suspensos no ar, com luzes que piscavam e iluminavam as faces rosadas dos meninos. Os garotos foram ao delírio na hora da Montanha-Russa, a cada subida o medo das alturas, a cada descida o medo da queda e a cada curva a incerteza do caminho a percorrer, porém o importante era o desafio. Pedrinho ficou pensativo por um minuto: “É muita felicidade para um único dia!” Miguel despertou-o de seu sonho e foram saborear: Cachorro-quente, pipoca caramelada, sorvete de chocolate e algodão doce colorido. Era tudo mágico e fascinante. Os garotos se sentiam realmente crianças!
Já era noite quando o dono do circo anuncia pelo microfone: “O Parque de Diversão já vai fechar, aproveitem os últimos instantes.”
Pedrinho e Miguel já cansados se dirigiram ao portão de saída, onde a mãe de Miguel esperava-os. Logo, as luzes se apagaram e, até os brinquedos foram dormir. Eles voltam realizados para casa.
O tempo passou depressa... isso é outra história!
Como é gostoso ser criança!
Elisabete Leite – 24/06/2018